BNDES teme calote de US$ 2 bi de Angola, Venezuela e Moçambique
Após calotes de Venezuela e Moçambique, no ano passado,
Angola pode ser a próxima a atrasar pagamentos de empréstimos do BNDES que
financiaram obras de empreiteiras brasileiras. No total, o banco tem US$ 4,3
bilhões a receber de dívidas nessa modalidade, sendo US$ 2 bilhões de
Venezuela, Moçambique e Angola. Desde 1997, o banco liberou US$ 10,5 bilhões
para 15 países e obteve US$ 8,2 bilhões de retorno, incluindo juros.
A conta dos atrasos, na verdade, ficará com o Tesouro
Nacional, pois as operações têm seguro, coberto pelo Fundo de Garantia à
Exportação (FGE). Vinculado ao Ministério da Fazenda, o fundo é feito para
garantir esse tipo de empréstimo. Nos financiamentos de longo prazo no
exterior, é normal haver participação dos governos no crédito ou nas garantias,
dizem especialistas.
Mesmo que os recursos sejam recuperados à frente, após
renegociações com os devedores, não há previsão orçamentária em 2018 para os
eventuais calotes, informou o Ministério da Fazenda. Novos calotes podem
pressionar ainda mais as contas públicas, já deficitárias.
A Venezuela preocupa mais. Do calote de US$ 262 milhões
anunciado em setembro, US$ 115 milhões são com o BNDES. O banco tem mais US$
274 milhões a receber apenas neste ano, do saldo devedor total de US$ 814
milhões. O atraso da parcela deste ano implicaria gasto adicional de R$ 885
milhões no Orçamento federal de 2018. A avaliação do governo é que dificilmente
a dívida será paga normalmente, disse uma fonte.
Angola, maior devedora do BNDES, não chegou a esse ponto,
mas o novo governo, eleito em agosto, anunciou na última quarta-feira um pacote
de ajuste que prevê a renegociação da dívida externa para lidar com o tombo nas
receitas com as exportações de petróleo. A Embaixada de Angola em Brasília
informou que não teria como comentar o assunto na sexta-feira. O Ministério da
Fazenda e o BNDES negaram qualquer contato de Angola sobre atrasos.
Entre 2002 e 2016, o BNDES contratou US$ 4 bilhões em
empréstimos com o país africano, a maioria para projetos da Odebrecht, como a
construção da Hidrelétrica de Laúca. A obra recebeu financiamento de US$ 646
milhões, em duas operações, de 2014 e 2015. Em nota, a Odebrecht diz que
"não há qualquer atraso" do governo angolano, embora a empresa tenha
frisado que, como a dívida é com o banco de fomento, não acompanha o pagamento.
No caso de Moçambique, houve calote de US$ 22,5 milhões
no empréstimo para a construção do Aeroporto de Nacala, no norte do país, a
cargo da Odebrecht. A obra, de US$ 125 milhões, virou um elefante branco. Como
mostrou o Estado no mês passado, o terminal opera com 4% da capacidade de 500
mil passageiros por ano. O país da costa leste africana ainda deve US$ 161
milhões ao BNDES.
Polêmica
O crescimento dos recursos para financiamentos de obras
no exterior foi um dos pontos polêmicos das gestões do BNDES durante os
governos do PT. O banco seguiu critérios políticos e ideológicos na escolha dos
países que receberam crédito e ofereceu condições vantajosas demais, dizem os
críticos.
Para o diretor da área de Comércio Exterior do BNDES,
Ricardo Ramos, a instituição já reconheceu que pode melhorar o financiamento à
exportação de serviços de engenharia ao estabelecer novos critérios para a
aprovação dos empréstimos, quando anunciou a suspensão de 25 operações com
empreiteiras, em outubro de 2016.
Mesmo assim, Ramos defendeu a política. Segundo o
executivo, o FGE cobra pelo seguro oferecido aos países credores. Os valores
são proporcionais ao risco. O governo tem enfatizado que o fundo tem atualmente
um superávit de R$ 4,19 bilhões (US$ 1,3 bilhão), entre taxas e indenizações. A
escolha dos países de destino, disse Ramos, se deve à demanda: os projetos que
buscam crédito do BNDES, normalmente, são em países emergentes, mais
arriscados. "O atraso é pontual. Esses países vão pagar", disse o
diretor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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