Utopia
Astor Wartchow
Advogado
Face às guerras religiosas e às injustiças decorrentes da
apropriação pelos senhores feudais das terras comunitárias das aldeias
camponesas, o ministro inglês Thomas Morus (1478-1535), escreveu sobre uma ilha
imaginária, denominada Utopia.
Utopia, do grego “ou + topos”, significa “lugar nenhum”.
Significa um ideal, um sonho para além das misérias e problemas do mundo real,
frutos do egoísmo, da ganância e da intolerância humana.
Na Utopia, de Morus, não havia propriedade privada, havia
liberdade de pensamento e religião, e onde as funções da lei e do estado eram
gerar abundância e felicidade.
Há outros exemplos da construção utópica do sonho da paz,
da justiça, da ordem, da abundância e da confraternização.
A República, de Platão. A sonhada Atlântida. O Império Inca. A Nova Atlântida, de Francis
Bacon. Cidade de Sol, do frade Tomaso Campanella. Oceana, de James Harrington.
Terre Australe de Gabriel Foigny. O ano de 2440, de Louis Sebastien Mercier.
Viagem a Içaria, de Etienne Cabet. A Harmonia, de Charles Fourier. O Manifesto
Comunista, de Marx e Engels.
Também existiram os autores anti-utópicos – “dus + topos
– lugar defeituoso, ruim”. Os exemplos mais conhecidos são “1984” e “A
Revolução dos Bichos”, de George Orwell, bem como o “Admirável Mundo Novo”, de
Aldous Huxley. São versões da crítica,
da ironia, da desconfiança. Partes integrantes e necessárias para a
síntese.
O alemão Jürgen Habermas (1929), em texto titulado como
“A Nova Intransparência – a crise do estado de bem-estar social e o esgotamento
das energias utópicas”(1985), pergunta, em certo momento:
“- Dispõe o estado intervencionista de poder bastante, e
pode ele trabalhar com eficiência suficiente para domesticar o sistema
econômico capitalista no sentido do seu programa?
E será o emprego do poder político o método adequado para
alcançar o objetivo substancial de fomento e proteção de formas emancipadas de
vida digna do homem?”
Prossegue e responde o próprio Habermas: “Trata-se, pois,
em primeiro lugar, da questão dos limites da possibilidade de conciliar
capitalismo e democracia, e, em segundo lugar, da questão das possibilidades de
produzir novas formas de vida com instrumentos burocrático-jurídicos”.
Estas questões permanecem extremamente atuais haja vista
a profunda crise sócio-econômica em que está imersa a maioria das nações.
Marasmo social, desânimo, desemprego, miséria, guerras,
são alguns fatos e constatações disseminadas pelo mundo. Há uma crise de
valores, crise no sistema de crenças, falta de esperanças. Uma crise por falta
de utopias.
Refrescada a memória histórico-literária, pergunto: os
conflitos e as contradições atuais serão a massa e o tempero para fazer
renascer a esperança e a reconstrução das utopias? Ou não haverá mais utopia?
Só um detalhe. Em Utopia existiam escravos. Era ótimo para alguns, não para todos.
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