O rosa, só porque é rosa, não pinta o mundo com igualdade e justiça

A autora é Cláudia Woellner Pereira, tradutora e redatora

O filme Barbie com certeza leva Oscars. Alguns ou vários. Decisão da Academia. Há muita competência técnica nele. Várias referências inteligentes a grandes produções do cinema. Sobram arte e talento. Não falta expertise. 

O que assusta é a expertise que movimenta milhões de pessoas vestidas de cor-de-rosa às salas de cinema, crendo que estão fazendo isso de livre e espontânea vontade.

O que choca é a expertise que envolve o imaginário e o raciocínio das pessoas com uma história atraente enquanto destrói o vínculo essencial entre homens e mulheres.

O que apavora é a expertise que se aproveita do poder de influência para plantar ideologias que supostamente corrigem o que julgam estar errado com a humanidade.

Por favor, não me venham dizer as feministas que o filme é esclarecedor, libertador, disseminador de ares de mudança para uma sociedade que vivia fundamentada num sistema patriarcal. 

Há alguma verdade científica, filosófica e espiritual em que o mundo rosa é perfeito, mais generoso e mais justo do que o mundo azul? Que, por se colocar mais mulheres nas diferentes profissões e posições de poder, tudo se conserta? Que girando o eixo para “regime matriarcal” se instalam competência e correção? Não! Se você inda não percebeu, vou escancarar: no quesito humanidade, a mulher é igualzinha ao homem, é essencialmente egoísta e fadada ao erro!

 Ridicularizar o homem, leia-se gênero masculino, e o seu papel nas estruturas sociais desmonta a credibilidade de qualquer projeto que queira promover igualdade e justiça. Tal projeto sai da fábrica com defeito: não há igualdade e justiça sem a figura masculina! Diminuir o homem, reduzir o seu valor, apresentá-lo como uma figura patética confere maior valor à mulher?

Estamos a todo vapor no século XXI! Vapor, não! Algoritmos! A ponto de ver a Inteligência Artificial executando milhares de tarefas, trazendo à realidade o que só se via na ficção. Historiadores e filósofos afirmando que não podemos analisar o mundo com as lentes, as ideologias do passado, porque elas estão ultrapassadas, não dão conta do que vivemos. Você vai querer continuar olhando para o tempo das cavernas? Na real, ao meu redor há homens fantásticos, brilhantes, com uma capacidade de amar e servir que põe muita mulher no chinelo! Não há problema em fazer massagem no pé deles (como se menospreza no filme): eles também fazem nos pés de suas mulheres! Respeito, admiração, amor e cuidado recíprocos, conhecem?

A crise de identidade da Barbie não é dela, é da humanidade. Perdeu-se a conexão com a origem, com o propósito. A confusão decorrente disso alimenta as disputas e conflitos ignorantes entre mulheres e homens. 

Há um diálogo bem significativo entre Barbie e Ken em que a conclusão é que cada um é inteiro. Barbie é Barbie. Ken é Ken. Indivíduos inteiros, maduros e emocionalmente íntegros conseguem, sim, olhar para si mesmos, olhar para o outro, olhar para onde é necessário, manter relacionamentos ricos e produzir famílias e sociedades saudáveis.

A cena final, a Barbie humanizada, vestida e maquiada de modo natural, básico, entrando na clínica para se consultar com a sua ginecologista, traz de volta, perdoem-me as feministas, a especial delicadeza do ser feminino, sensível aos seus hormônios, capaz de gerar vida. Nada menor, diferente. Unicidade que não pode ser perdida, nem adulterada.

Depois de assistir ao filme, fiquei com uma pergunta perturbadora: quem tem interesse em criar, isolar e rivalizar os mundos rosa e azul? Criar um cabo-de-guerra entre mulheres e homens?  É ingenuidade infantil, de bonecos fantoches, pensar que o ataque à dignidade do gênero masculino é acidental, gratuito. 




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