Artigo, Rodrigo Lopes, Zero Hora - O poder de Michelle Bolsonaro

 Não foi Jair Bolsonaro o grande nome da tarde de domingo (25) na Paulista.


Foi Michelle, a ex-primeira-dama, quem amalgamou os olhares e pensamentos da multidão no coração de São Paulo criou uma conexão direta entre Deus e seu rebanho. Durante seus 15 minutos de fala, Michelle olhou para o céu, ergueu as mãos ao Altíssimo e, com a voz embargada, chorou.


Mais: entre oração e discurso, quebrou um paradigma histórico: colocou Deus no centro da política brasileira.


Herança do positivismo, por mais de um século, a separação Igreja-Estado, vigente desde a Proclamação da República, em 1891, e que fundamenta o Estado laico, é entendida por boa parte da sociedade como uma das maiores conquistas brasileiras, expressa inclusive na Constituição de 1988. Ao que parece, isso caminha para o fim.


- Desde 2017, nós estamos sofrendo. Nós estamos sofrendo porque exaltamos o nome de Deus no Brasil - disse Michelle, lançando mão da retórica eloquente dos templos.


Na sequência, ela aproximou política e religião de uma forma tão natural que, por mais que tentasse, nem o pastor Silas Malafaia conseguiria.


- Por um bom tempo fomos negligentes a ponto de dizer que não poderiam misturar política com religião. E o mal tomou e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento, agora, da libertação - exaltou Michelle.


Foi uma das maiores demonstrações coletivas de religiosidade que o centro paulistano já testemunhou.


O desempenho da presidente do PL Mulher na Paulista chamou a atenção de vários caciques do partido, em especial Valdemar da Costa Neto. Anote: Michelle disputará, sem dúvida, uma vaga no Congresso na eleição de 2026. Não só porque é simpática e articula as ideias e palavras muito melhor do que o marido. Mas principalmente porque estabelece essa impressionante via entre Deus e os evangélicos, porção do eleitorado cada vez mais decisiva nas urnas. Para eles, Michelle já é a ungida por Deus.



Motoristas de aplicativos

 Noutro exemplar recuo do dia, o governo lulopetista desistiu da ideia inicial de enquadrar motoristas de aplicativo em três categorias profissionais – uma delas pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) – e enviará projeto de lei ao Congresso no qual reconhece esses trabalhadores como autônomos.

O enquadramento consta em uma minuta de regulação do setor, à qual a reportagem do jornal Valor teve acesso. Ela determina contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) de 7,5%, pagamento de hora de trabalho no valor de R$ 32,09 e remuneração de ao menos o salário mínimo, hoje em R$ 1.412.Se aprovado pelos congressistas, a proposta de lei criará uma nova categoria profissional, a de trabalhador autônomo por plataforma. Segundo a minuta elaborada na pasta comandada por Luiz Marinho e entregue ao Palácio do Planalto, os motoristas deverão recolher 7,5% de contribuição à Previdência Social sobre o salário recebido. As empresas irão contribuir com 20% sobre a remuneração mínima do profissional, que irá corresponder a 25% da renda bruta.

Os trabalhadores que usam motocicletas ficaram de fora das negociações.

A hora mínima começará a ser cobrada a partir do momento em que o profissional aceitar a viagem, ou seja, pela hora trabalhada, e não pela hora logada, como queria a categoria. Os R$ 32,09 correspondem a R$ 8,02 de retribuição pelos serviços prestados, e de R$ 24,07 como ressarcimento dos custos do profissional.

Milagre da avenida

Alexandre Garcia

E atenderam seu pedido: não trouxeram uma faixa sequer com insultos a pessoas e instituições. Muitos vieram de longe, a despeito de alguns bloqueios nas estradas. Bloqueio pelo medo dos que temem o povo. Mas havia também o bloqueio do medo, imposto pelas prisões e condenações pelo 8 de janeiro. Bloquearam até quem não é brasileiro. O jornalista português Sérgio Tavares ficou detido por quatro horas ao chegar para cobrir a Avenida. O episódio serviu para repercutir no mundo a realidade do Brasil sobre liberdade de expressão. A Avenida se mostrou eloquente. Ninguém precisaria falar alguma coisa, em cima de carros de som, porque a simples visão da Avenida lotada foi um vozerão que chegou ao mundo no mesmo dia por via digital e nos jornais do dia seguinte. O potencial de cidadania foi tão marcante que não precisaria de falas pelos alto-falantes dos carros de som. O que os olhos viram é suficiente para se compreender. Ainda assim, oradores falaram. Nenhuma voz partidária. O partido de todos é o Brasil, como estava escrito na camisa do Pastor Malafaia. Falou-se de moral e religião, nas vozes de Michelle e Malafaia.


No fim, veio a voz do líder, pregando a conciliação pela anistia, sem vencedores nem vencidos; pregando justiça com isenção, respeitando oportunidades eleitorais a todos da diversidade política. O pastor havia lembrado antes que um juiz havia dito “nós derrotamos o bolsonarismo”. Depois olhou a multidão e percebeu que não precisava retrucar o juiz. A multidão estava ali, nem um pouco derrotada, repetindo seus princípios de liberdades, direito à vida e à propriedade, não às drogas, ao aborto e à ideologia de gênero. A multidão foi à Avenida confirmar esses princípios. E cantou um juramento: "Ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil”. Não precisaria haver fala de ninguém.


Ainda assim o líder pediu Anistia para quem não destruiu patrimônio do povo e sim para quem apenas se manifestou, como a Constituição garante. Jogou aos plenários do Congresso o desafio da paz e da conciliação. E, se defendendo, lembrou que Estado de Defesa ou Estado de Sítio estão previstos na parte da Constituição que trata da defesa do estado e das instituições. Como se sabe, se foi cogitado, não foi tentado. Enquanto isso, caminhava pela Avenida um símbolo, aquela senhorinha de 82 anos, Ilda Ferreira de Jesus, com sua Bíblia no braço, aplaudida por todos. Uma Gandi pelo estado democrático de direito e pelas liberdades.


Foi uma demonstração de força. Pacífica. Reafirmou o que pensa uma parte na nação, a quem o estado serve. A Avenida disse que quer paz, justiça sem vingança nem perseguições. Pelo seu gigantesco tamanho, ela não disse que apenas quer. Soou como uma exigência. Não foi um artista popular, um general cheio de canhões, um banqueiro cheio de dinheiro, um demagogo cheio de mentiras, quem combinou esse encontro. Foi um homem simples, sem armas, sem dinheiro, sem dotes artísticos, que foi se apresentar de novo, pedindo união por ideais. Pela Pátria, pela família, pela moral, pelos direitos, pelas liberdades. Em dias enganosos de hoje, ser seguido nisso pela Paulista lotada, é milagre.





Governo revoga MP da Reoneração da Folha

 Ontgem a noitge, o governo revogou partes da medida provisória que aumentaria a carga tributária sobre a folha de pagamento de 17 setores. Foi um recuo evidente.Esses trechos agora compõem um projeto de lei a ser analisado pelo Congresso Nacional em regime de urgência.Ao mesmo tempo, o fim do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) e a definição de limites para compensações tributárias permanecem em vigor. Esses dois tópicos estão no projeto de lei a ser analisado.

A desoneração de folha de pagamento de empresas é uma medida que substitui a contribuição previdenciária patronal. Esta última incide sobre a folha de salários, por uma alíquota incidente sobre a receita bruta das empresas.

A medida abrange 17 setores:

calçados;

call center;

construção civil;

confecção e vestuário;

comunicação;

empresas de construção e obras de infraestrutura;

couro;

máquinas e equipamentos;

proteína animal;

fabricação de veículos e carroçarias;

têxtil;

tecnologia da informação;

tecnologia da comunicação;

projeto de circuitos integrados;

transportes metroferroviários de passageiros;

transporte rodoviário coletivo; e

transporte rodoviário de cargas.

Em vigor desde 2012, a desoneração representa uma perda de arrecadação de R$ 139 bilhões para União até o momento, de acordo com cálculos da Receita Federal.