Artigo, Gilberto Jasper- Drama que se repete

Artigo, Gilberto Jasper- Drama que se repete

Jornalista/gilbertojasper@gmail.com


     A repetição de alguns fatos acaba por anestesiar a nossa capacidade de indignação. A estiagem e as enchentes são faces diferentes de um mesmo problema: a falta de ações preventivas no lugar de atitudes da mitigação das consequências destes fenômenos da natureza.

     Dói ver lares e famílias destruídos. Observar água e lama levando patrimônios forjados ao longo de uma vida inteira machuca a todos que compreendem o esforço para criar filhos, montar uma casa, colocar comida na mesa.

     A fúria dos ventos e das águas prantear vidas que poderiam – e deveriam – ser protegidas. A cada ano o Rio Grande do Sul é varrido pelas águas de outono/inverno que, cada vez mais, atingem populações que não se restringem às moradias em áreas de risco.

     A tecnologia, que tanto conforto e praticidade proporcionam ao cotidiano, ainda é incipiente para prevenir catástrofes naturais. Lembro que dias antes do ciclone extratropical que causou mais de uma dezena de mortes no Estado, li e ouvi alertas sobre a chegada dos eventos de quinta e sexta-feira passadas. As medidas preventivas, no entanto, parecem terem sido tímidas diante do cenário de destruição proporcionado pela força da natureza.

     Passado mais um temporal resta apelar à solidariedade dos gaúchos para mitigar as consequências. Apesar do esforço, nem tudo poderá ser recuperado. O RS carece de um mutirão efetivo, capaz de unir forças do setor público e privado.

     É urgente dotar o Estado de ferramentas para avisar com grande antecedência sobre a chegada de eventos climáticos. Também precisamos de união, organização e disciplina capazes de mobilizar as autoridades e os gaúchos para proteger a população em situação de vulnerabilidade.

     Machuca ver o depoimento de Roseli Rodrigues Pereira, de 58 anos, de Caraá, que ficou em cima de uma árvore por 36 horas, lutando para continuar viva. Com lacerações no corpo e rosto, contou: “Me agarrei na árvore e só pensava em sobreviver para rever meus filhos”, afirmou.

     Passado o temporal, milhares de gaúchos voltam para casa para conviver com o barro, destruição e risco de doenças. Limpar e recuperar objetos, documentos e recordações, é um exercício doloroso que exige ações concretas. Protagonizadas por autoridades e de todos que podem, de alguma maneira, minimizar o trauma de mais um temporal.


Artigo, Gilberto Jasper - Um drama que se repete

Jornalista/gilbertojasper@gmail.com


         A repetição de alguns fatos acaba por anestesiar a nossa capacidade de indignação. A estiagem e as enchentes são faces diferentes de um mesmo problema: a falta de ações preventivas no lugar de atitudes da mitigação das consequências destes fenômenos da natureza.


         Dói ver lares e famílias destruídos. Observar água e lama levando patrimônios forjados ao longo de uma vida inteira machuca a todos que compreendem o esforço para criar filhos, montar uma casa, colocar comida na mesa.


A fúria dos ventos e das águas prantear vidas que poderiam – e deveriam – ser protegidas.  A cada ano o Rio Grande do Sul é varrido pelas águas de outono/inverno que, cada vez mais, atingem populações que não se restringem às moradias em áreas de risco.


         A tecnologia, que tanto conforto e praticidade proporcionam ao cotidiano, ainda é incipiente para prevenir catástrofes naturais. Lembro que dias antes do ciclone extratropical que causou mais de uma dezena de mortes no Estado, li e ouvi alertas sobre a chegada dos eventos de quinta e sexta-feira passadas. As medidas preventivas, no entanto, parecem terem sido tímidas diante do cenário de destruição proporcionado pela força da natureza.


         Passado mais um temporal resta apelar à solidariedade dos gaúchos para mitigar as consequências. Apesar do esforço, nem tudo poderá ser recuperado. O RS carece de um mutirão efetivo, capaz de unir forças do setor público e privado.


É urgente dotar o Estado de ferramentas para avisar com grande antecedência sobre a chegada de eventos climáticos. Também precisamos de união, organização e disciplina capazes de mobilizar as autoridades e os gaúchos para proteger a população em situação de vulnerabilidade.


Machuca ver o depoimento de Roseli Rodrigues Pereira, de 58 anos, de Caraá, que ficou em cima de uma árvore por 36 horas, lutando para continuar viva. Com lacerações no corpo e rosto, contou: “Me agarrei na árvore e só pensava em sobreviver para rever meus filhos”, afirmou.


Passado o temporal, milhares de gaúchos voltam para casa para conviver com o barro, destruição e risco de doenças. Limpar e recuperar objetos, documentos e recordações, é um exercício doloroso que exige ações concretas. Protagonizadas por autoridades e de todos que podem, de alguma maneira, minimizar o trauma de mais um temporal.

Entrevista sobre o 142

A Polícia Federa encontrou chifre na cabeça do cavalo, no caso, dentro do celular de Mauro Cid, um questionário respondido por Ives Granda em 2017 sobre a ‘garantia dos poderes constitucionais’. As respostas foram enviadas a pedido do major Fabiano da Silva Carvalho, que se apresentou como aluno do segundo ano do Curso de Comando e Estado Maior do Exército. Há 33 anos, o jurista Ives Gandra da Silva Martins forma generais na Escola do Comando e Estado Maior do Exército. Ele é professor emérito de Direito Constitucional na instituição. 

Os escritos do jurista sobre o artigo 142 da Constituição, que regulamenta a atuação das Forças Armadas, caíram nas graças dos bolsonaristas. O dispositivo passou a ser visto por apoiadores do ex-presidente como a grande brecha jurídica para justificar uma intervenção militar contra o Poder Judiciário.

Eis de que modo Ives Gandra justifica seus ensinamentos de 2017 e o que diz o artigo 142. A entrevista é do Estadão:

ESTADÃO: O Sr. respondeu a algum questionário de teor golpista?

Ives Gandra: Responder um questionário sobre golpe de estado? Jamais. Na prática, o que eu posso dizer é o seguinte: eu me responsabilizo pelo que eu escrevi. Certamente não há nada escrito meu e certamente não há conversa sobre isso. Como meu nome apareceu lá? Foi alguém terceiro que levou essa informação? As minhas aulas foram antes da eleição.

ESTADÃO: Houve uma distorção da tese do Sr. sobre o artigo 142?

Ives Gandra: Quando eu vi essa tempestade, eu disse: primeiro, não é minha interpretação. A minha interpretação do 142 sempre foi extremamente deturpada. É um dispositivo não para romper, mas para garantir a ordem democrática. De repente, o artigo 142 passou como se fosse desconstituição de poder, golpe. Se outros interpretaram incorretamente o que eu disse e escrevi, o que eu posso fazer? Quando havia essas manifestações, estavam acreditando que as eleições tinham sido fraudadas. Não houve prova nenhuma de fraude. Os próprios militares acompanharam, a pedido do Tribunal Superior Eleitoral, as eleições.

ESTADÃO: Havia margem para um golpe após a derrota de Bolsonaro?

Ives Gandra: O fato de ter um texto, absolutamente tresloucado, de estado de sítio, esse que foi publicado, só poderia ter validade se o Congresso apoiasse por maioria absoluta. Não haveria a menor chance disso.

ESTADÃO: O Sr. enfatiza que não vê risco das Forças Armadas endossarem uma ruptura institucional, mas diálogos recuperados pela PF mostram uma trama golpista envolvendo oficiais. É uma corrente minoritária?

Ives Gandra: O curso na Escola do Comando e Estado Maior do Exército foi criado em 1989 e eu passei a lecionar em 1990. Eu conheço a mentalidade deles. Quando o pessoal se unia em frente aos quartéis, eu dizia: é uma bobagem. Não há o menor risco de golpe. Eles (militares) não vão tomar nenhuma medida contra, mas não vão tomar nenhuma medida para romper as instituições, porque são escravos da Constituição. Risco zero, multiplicado por zero, dividido por zero. Eu não tenho dúvida de que pode haver um ou outro cidadão. Mas as minhas aulas são sobre Direito Constitucional. Aqueles coronéis, que vão ser generais, têm essa visão perfeita. Criaram um curso para que as Forças Armadas representassem exclusivamente o que está na Constituição: respeito absoluto ao que está na Constituição. É a mentalidade que predomina em todo o generalato.

ESTADÃO: E por que não a inércia diante de manifestações golpistas organizadas após o segundo turno em frente aos quartéis?

Ives Gandra: O que havia era um respeito das Forças Armadas à manifestação popular, já que era apenas manifestação de boca, não era manifestação com arma. Os militares sempre entenderam que respeitariam os resultados das eleições.