Francisco Ferraz, Estadão - Perturbador viver numa sociedade em que todos os principais valores são contestados

A crise. Ainda há o que dizer sobre ela?
Perturbador viver numa sociedade em que todos os principais valores são contestados
Francisco Ferraz*, O Estado de S.Paulo
24 Setembro 2017 | 05h00
Há qualquer coisa de muito assustador que tomou conta da política brasileira e ganha vulto a cada semana. Não há precedente na nossa História para a falta de escrúpulos, a ilegalidade assumida como procedimento normal, a desfaçatez no uso de chicanas e tecnicalidades jurídicas para proteger o autor do crime, para tornar o crime aceitável, normal (todos os cometem), justificável (projetos sociais) e inconclusivo. Também não há precedentes para a duração da crise política, para a amplidão de seu alcance, para o prejuízo moral dos titulares e das instituições da mais alta hierarquia do País.
Há qualquer coisa de muito perturbador quando percebemos que passamos a viver numa sociedade em que todos os principais valores são contestados. Em que a cada semana somos surpreendidos por novas frentes da mais deslavada corrupção de que se tem notícia no País e no mundo.
O juiz Sergio Moro e a equipe de procuradores e policiais federais de Curitiba estão registrando nos anais mundiais que o Brasil não é só o país com o maior escândalo de corrupção. É também o país que com maior competência vem enfrentando e derrotando a corrupção entranhada nas suas instituições.
Há dois aspectos desta crise que são insólitos e aumentam expressivamente sua gravidade. Um deles – e por certo o mais grave – é o fato paradoxal de que a saída da crise está em mãos dos mesmos que a produziram.
Há um esforço hercúleo para encontrar caminhos para superar a crise sem deixar de comodar um sem-número de situações pessoais. Há uma imensa dificuldade para navegar em meio a negociações de interesses, desviando de vetos grupais. Há enorme incerteza sobre que protagonistas sobreviverão aos processos judiciais, investigações, inquéritos, denúncias. Há muitos “jogadores” com fichas suficientes para permanecer no jogo, alguns com poder para vetar as iniciativas de outros, embora não para realizar as suas.
Há uma confusão absoluta na definição de quem é governo e quem é oposição; quem está na base e quem não está, em relação a cada uma das matérias mais sensíveis politicamente. Há a oposição convencional, a oposição oportunista, a oposição ideológica do PT e das esquerdas. Há o processo de antecipação da campanha presidencial, ilegal pela letra da lei, mas aceita por todos os pré-candidatos e que interfere nas decisões de curto prazo que precisam ser tomadas para recuperar economicamente o País.
Em suma, o processo político é caótico, embora a economia tenha obtido espaço próprio, relativamente independente da crise política, o que inegavelmente é mérito do governo Temer, apesar da fragilidade que o caracteriza.
O outro componente igualmente grave da crise é a intensa radicalização do conflito entre esquerda e direita. Esse conflito atravessou a camada política, contaminando os segmentos sociais com peculiar agressividade e hostilidade. O ódio está presente em ambos os polos do conflito, cada vez mais radicais, intransigentes e excludentes.
A política entre nós foi envolvida e contaminada por essa inédita agressividade, a indicar a presença do ódio, sentimento que deforma, rebaixa e arrasta a política para o mundo hobbesiano do homem lobo do homem. Os principais responsáveis por este clima de hostilidade não são operários, trabalhadores em geral, nem são os desempregados. São os intelectuais, professores, jornalistas, políticos, funcionários públicos, estudantes que por pronunciamentos e atitudes alimentam diuturnamente esta guerra civil virtual com suas batalhas nas ruas.
Dois vetores políticos agravam sobremaneira a crise: a fragilidade do governo Temer e a incapacidade do PT de absorver e processar sua derrota com competência. O governo Temer apresenta uma paradoxal condição: fragilidade política combinada com conquistas na administração da economia do País e hábil negociação com o Legislativo. Historicamente, um governo politicamente fraco não conseguia vitórias no Legislativo para enfrentar uma crise econômica. Temer está conseguindo isso, ao mesmo tempo que esgrima com surpreendente vigor, persistência e habilidade sua sobrevivência no poder.
O outro vetor político que agrava a situação de crise é a manifesta dificuldade do PT de absorver e processar sua derrota nos processos da Lava Jato e na sua dependência absoluta de Lula. Para a esquerda, a revolução havia sido ganha... (Não estavam no poder?) Só a democracia atrapalhava a implantação cabal do seu projeto de poder. Por isso ganhar a eleição era decisivo.
Pois a eleição foi ganha “fazendo o diabo” e logo a seguir perdida; não apenas a eleição, mas o poder. A impressão que o PT e as esquerdas passaram desde então foi sua inabalável crença de que seu projeto político havia ultrapassado a “taprobana”, já se havia instalado no poder, e por inabilidade de Dilma e “furor persecutório” dos inimigos – em especial do que chamam de república de Curitiba – dele foi desalojado, impedindo-o de completar o que considerava “uma revolução em curso”.
Essa forma de conceber uma derrota tida como inaceitável expressa, por sua vez, um sentimento de ser titular de um direito inalienável ao poder político, perene, exclusivo, absoluto e legítimo, que dele só poderia ser subtraído de forma ilegítima, por um “golpe”, se não militar, um golpe parlamentar. Por outro lado, embora previsivelmente, também explicaria a rejeição a fazer uma rigorosa autocrítica, pensar alternativas, virar a página do lulismo, assim como a postura reacionária de querer fazer, por qualquer manobra possível, voltar atrás a História e recomeçar de onde foi forçado a parar. Repete-se assim um traço comportamental peculiar à esquerda na nossa História: quanto mais fraca politicamente fica, mais radical se torna.
Esse conjunto de sentimentos explicaria também não apenas o ódio das esquerdas, mas os traços visíveis que o acompanham: a fixação no passado, o ressentimento, a negação da realidade e o radicalismo.

*PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA, EX-REITOR DA UFRGS, PÓS-GRADUADO PELA UNIVERSIDADE DE PRIN- CETON, É CRIADOR E DIRETOR DO SITE POLÍTICA PARA POLÍTICOS

Marcelo Aiquel - A INTRANSIGÊNCIA, A ESQUERDA, O ESCORPIÃO E OS RATOS

A INTRANSIGÊNCIA, A ESQUERDA, O ESCORPIÃO E OS RATOS

                O título deste artigo de sábado é longo, mas, após a leitura, tenho certeza que meus amigos – me refiro aos que usam os neurônios e tem um pouco de “sifragol” (gíria muito utilizada nos anos 80 para definir aqueles que enxergavam além do seu nariz, ou “se flagravam das coisas”; se davam conta do óbvio) – irão compreender o que eu quis dizer.
                Começo pela intransigência que a esquerda costuma acusar aos seus adversários de agir.
                Ora bolas, esta intransigência é vista a todo o momento exatamente nos atos e ações das pessoas que representam a esquerda (bolivariana e fanática) que infecta o meio de gente decente. Querem exemplos? Eu dou apenas alguns, pois eles existem aos “balaios”:
1)            RIO de JANEIRO – quando a polícia entra nas “comunidades”, é abuso de autoridade. Agora, quando a bandidagem (aquela mesma que a novela da Globo (FORÇA DO QUERER) “glamourizou” e ensina como se defender) toma conta de uma “comunidade”, espalhando terror e chumbo, apela-se para quem? ...Ganha um doce quem acertar!... E a resposta é bem simples: Para a “autoritária e abusiva” polícia. Ou pior, para o exército. Aquele poder que tanto mal causou ao país, nos ANOS DA DITADURA...
Ah, quanta hipocrisia! Mas, espere que não para por aí.
2)            BRASIL – Um ex-presidente, réu em vários processos (não só na JF de Curitiba), aparece – em rede nacional de TV - como uma “pobre vítima”, um “perseguido”. E mais: A propaganda, estrelada por simpatizantes, quer “vender” uma imagem de benfeitor dos pobres, ou alguém que não tem nada a ver com os milhões de desempregados do país.
3)            BRASÍLIA – E os políticos “cara de pau”, como Lindenberg Farias, Gleise Hoffmann, e outros menos importantes, sobem nas tribunas e tem a coragem de defender o Lula da Silva.
                Hipocrisia à parte, tente falar mal do ladrão de nove dedos e você verá o que é intransigência. Aliás, a mesma usada para atacar a família e os símbolos religiosos (Cristãos, é lógico. Ou alguém imagina que esta “corja” teria coragem de ignorar os muçulmanos, ou outros? Afinal só existiu um JESUS CRISTO, que ofereceu a outra face ao ser agredido...).
                Esta intransigência (e os intransigentes, por consequência) ainda vai pagar pelo que faz.
                Mas não é “de graça” que a esquerda (sempre covarde como ela só) seja o motor desta intransigência.
                A história nos conta como a esquerda soe agir. A ela, não interessa o poder – apesar do lucro fantástico de cada ação criminosa – mas sim, tomá-lo de uma forma pouco ortodoxa, baseada na mentira de um apoio “social”, para depois instituir uma quadrilha e praticar saques em proveito próprio. Após ser publicamente desmascarada, esta esquerda “assume o papel de vítima” e começa a preparar um novo assalto. Mente que atua feito o Robin Hood para ganhar o apoio popular.
                Historicamente, nenhum sistema de governo de esquerda dura no poder (a não ser na força e na opressão), porque – assim como o escorpião – não consegue esconder sua natureza por muito tempo. Igual à fábula do escorpião, que se afogou depois de atacar o sapo que lhe conduzia na travessia do rio.
                Seguidores ferrenhos das lições de um sistema fracassado em todos os cantos do universo, a sua natureza é só uma: mentir que se preocupam com o povo e roubar tudo o que for possível. Ah, e quando são desmascarados, viram “injustiçados, incompreendidos, perseguidos”. As eternas vítimas de uma elite malvada...
                Acham que me esqueci dos ratos. Não poderia. Se não, como explicar a criação do PSOL.
                Do mesmo modo como o teólogo Leonardo Boff anunciou esta semana, muitos fundadores do PT e adoradores do Lula, já demonstraram arrependimento pelo seu passado e se tornaram grandes críticos do triste partido que, um dia, tomaram parte.
                Conta a lenda que os ratos se apressam em abandonar o barco quando “pressentem” que este afundará.
                Primeiro foi o grupelho que debandou para o PSOL. Depois, outros correram em busca de um abrigo na REDE, e em partidos cujas ideias pudessem ser “parecidas” com aquelas que sempre defenderam.

                Só ficaram no barco os ratos que ninguém quer, ou que estão tão infectados por denúncias que “pega mal” acolhê-los agora.

PGR denuncia Dilma por obstrução à Justiça

Em denúncia apresentada contra Lula, Dilma e o Aloizio Mercadante, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que dados telemáticos obtidos em uma Ação Cautelar que corre sob sigilo no Supremo Tribunal Federal confirmam a existência de e-mails trocados entre a ex-presidente e a marqueteira petista Mônica Moura com o intuito alertá-la sobre sua iminente prisão na Operação Lava Jato.
A flechada contra a cúpula petista tem como base investigações sobre o apoio político, jurídico e financeiro, supostamente oferecido por Mercadante, em 2015, para barrar a delação de Delcídio do Amaral; a nomeação de Lula para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, com a suposta finalidade de garantir-lhe foro privilegiado; e as mensagens entre a presidente e sua marqueteira de campanha por ‘contas de correio eletrônico clandestinas’.
A empresária Monica Moura, delatora da Operação Lava Jato, entregou ao Ministério Público Federal um registro com as imagens do e-mail 2606iolanda@gmail.com que diz ter usado para trocar mensagens com a ex-presidente Dilma Rousseff. As fotografias estão em uma Ata Notarial lavrada em 13 de julho de 2016 no 1º Tabelionato Giovannetti em Curitiba.
Monica afirmou em delação premiada que criou ‘no computador da presidente’ uma conta de e-mail com nome e dados fictícios, com senha compartilhada entre as duas e o ex-assessor de Dilma, Giles Azevedo.
Segundo a delatora, ela e a então presidente combinaram que, se houvesse notícia sobre avanço da Lava Jato em relação ao casal, o aviso seria feito através desse e-mail. As mensagens escritas pela presidente ficariam na caixa de rascunhos do e-mail, para não circularem, e Mônica acessaria a conta de onde estivesse.
A delação do casal de marqueteiros petistas João Santana e Mônica Moura está entre as que embasam a denúncia por obstrução de Justiça contra os dois ex-presidentes e o ex-ministro petista.
Segundo Janot, relatórios presentes em uma Ação Cautelar que corre sob sigilo, sob a relatoria do relator da Lava Jato no Supremo, Luiz Edson Fachin, confirmam a troca de e-mails entre a ex-presidente e Mônica Moura.
Em uma das mensagens, atribuída a Dilma, na conta ‘Iolanda’, consta: “Seu grande amigo está muito doente, os médicos consideram que o risco é máximo e o pior é que a esposa dele, que sempre tratou dele, agora também está doente com o mesmo risco. Os médicos acompanham dia e noite”.
O texto foi redigido em 19 de dezembro de 2015, dois meses antes da prisão preventiva do casal, no âmbito da Operação Acarajé, 23ª fase da Lava Jato.
Para Janot ‘tratava-se de um aviso antecipado sobre a prisão do casal de publicitários’.

“Na época, a advertência foi, ainda, reiterada por meio de telefonemas feitos por Dilma Vana Rousseff a Mônica Regina Cunha Moura em 20/12/2015 e 21/12/2015”, afirma o procurador.