A balzaquiana do Beira-Rio

 A balzaquiana do Beira-Rio

Por Facundo Cerúleo

 

Aí, o carinha do aplicativo, com a liberdade sem reservas com que hoje os jovens falam com os mais velhos, perguntou: "O Internacional é o time da Padre Cacique ou do Padre Cacique?". Saquei logo a pergunta. E até achei boa! Pelas dúvidas, explico aqui. Ele perguntava se o time era "da" Av. Padre Cacique, na qual se situa a sede do clube ou "do" Asilo Padre Cacique, que fica bem pertinho do Beira-Rio e é um albergue para idosos. Ele ainda traduziu o sentido da ironia. O time Colorado é um tanto velho. A média de idade dos jogadores é de uns 30 anos. E eu falei apenas mentalmente:  "o Internacional é uma balzaquiana!" (Se os meninos não entenderam, que pesquisem no Google...)

 

O problema é que ter idade elevada para um esporte de grande exigência física significa não ter pernas suficientes para jogar 90 minutos. Faz um primeiro tempo de encher os olhos enquanto tem fôlego para aplicar sua boa técnica, iludindo a torcida. E no segundo tempo... vai afrouxando, perdendo força, caindo e deixando o adversário reagir. E fracassa diante de equipes mais fracas que tenham mais energia.

 

Tudo isso estava nas entrelinhas da falação do carinha do aplicativo, tão à vontade para falar que até me admiro. Para não ficar calado e não constranger o rapaz, comentei: "Deve ser falta de planejamento..." Pausa. Ele disse: "É!". E eu pensei, só não falei: talvez isso também aconteça com a zaga do Grêmio...

 

O professor da Federal que mora no meu condomínio (caso único...) não acredita que há torcedores que pensam racionalmente sobre o que ocorre no clube pelo qual são apaixonados. Mas há! E esse tipo de torcedor se pergunta: onde estão com a cabeça os dirigentes que não planejam a médio e longo prazo? Por que brigam tanto para ocupar um cargo na direção? O que pensam fazer do clube? Essas perguntas valem para Internacional, para Grêmio e tantos outros.

 

O que a maior parte da torcida não percebe é que a burrada dos cartolas quase nunca é por falta de capacidade. Eles fazem m... quase sempre porque confundem conveniências pessoais com interesses da instituição.

 

E nem te conto... O papo do carinha do aplicativo rolou depois que o Inter perdeu para o Cuiabá, mas antes que sofresse a virada do River Plate quando lhe faltou pernas para segurar os argentinos. E a dúvida é como vai ser o jogo de volta com o River no próximo dia 8, no Beira-Rio.

 

Ai-ai-ai... Adivinhação é sempre um risco. Mas dizer o óbvio é fácil. Se o Internacional não ferrar o River no primeiro tempo, dificilmente terá pernas para vencê-lo no segundo. Sem vencer, a Libertadores já era! E uma desclassificação significa que o ano praticamente termina em agosto para o Colorado, restando-lhe, além do baixo astral, disputar no Brasileirão uma vaga para algum dos torneios continentais. Como se sentirá a torcida, que não sabe o que é um título há tantos anos?

 

Só não me venham a hostilizar os jogadores, que não são culpados de o tempo passar para eles. Cobrem as pessoas certas pelas coisas certas: falta planejamento, falta não misturar planos pessoais (pior, misturar política partidária) com os reais interesses do clube. Já viram que a atual direção do Inter compra, a peso de ouro, jogadores de qualidade, mas que estão próximos de pendurar as chuteiras por motivos óbvios? Eles vão se aposentar no Inter. Ou, no máximo, daqui a pouco, serão vendidos a peso de... casca de banana! Sem darem um só título à torcida.

 

Mas isso não é um problema só do Internacional, não! O clube ser usado para fins que a torcida nem imagina, a falta de planejamento, direções incompetentes, todos os questionamentos aqui valem para Internacional, para Grêmio e assemelhados.

 

Carambolas! Esse negócio dos clubes é igual às estatais! Isso já foi dito. Mas tem que dizer de novo. Onde não existe um dono para cobrar resultado há sinal verde para a politicagem, para o oportunismo, para o espertalhão com lábia que engana os trouxas e mistura seu próprio interesse com o da instituição. Os cabras fazem suas aventuras, mas o risco é dos outros, o prejuízo é dos outros. Clubes... estatais... o que é de todos não é de ninguém. E um bando de abestados acha isso bom...


Um comentário:

  1. Sou colorado e concordo, pagar 800 mil/mês para craques com 35 anos é um absurdo. Esse Enner Valência vai faturar 1.500 mil por mês. Bota bela aposentadoria.

    Eu critiquei a vinda do Suarez para o Grêmio, não por despeito, mas por lógica. O Grêmio perderia em qualquer instância: se desse errado, perderia , pois teria que ficar lhe pagando a fortuna de 2 milhões por mês até o final do ano 24; se desse certo, como deu, também perderia, pois o mercado cresceria o olho e ele iria fazer corpo mole para sair e ganhar mais!

    Centro-avante bom foi mandado embora numa venda de 2 milhões de dólares que é troco, o Alemão, 24 anos, um touro forte, uma saúde, um inferno para qualquer zaga!

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