O STF é o melhor lugar do mundo para delinquentes top de
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J.R. Guzzo, VEja.
O Supremo Tribunal Federal já deixou, há muito tempo, de
ter alguma relação com o ato de prestar justiça a alguém. O que se pode esperar
da conduta de sete ministros, entre os onze lá presentes, que foram nomeados
por um ex-presidente condenado a doze anos de cadeia e uma ex-presidente que
conseguiu ser deposta do cargo por mais de 70% dos votos do Congresso Nacional?
Outros três foram indicados, acredite quem quiser, por José Sarney, Fernando
Collor e Michel Temer. Sobra um, nomeado por Fernando Henrique Cardoso – mas
ele é Gilmar Mendes, justamente, ninguém menos que Gilmar Mendes. Deixem do
lado de fora qualquer esperança, portanto, todos os que passarem pela porta do
STF em busca da proteção da lei. Quer dizer, todos não — ao contrário, o STF é
o melhor lugar do mundo para você ir hoje em dia, caso seja um delinquente
cinco estrelas e com recursos financeiros sem limites para contratar advogados
milionários. O STF, no fundo, é uma legítima história de superação. Por mais
que tenha se degenerado ao longo do tempo, a corte número 1 da justiça
brasileira está conseguindo tornar-se pior a cada dia que passa e a cada
decisão que toma. Ninguém sabe onde os seus ocupantes pretendem chegar. Vão
nomear o ex-presidente Lula para o cargo de Imperador Vitalício do Brasil? Vão
dar indulgência plenária a todos os corruptos que conseguirem comprovar atos de
ladroagem superiores a 1 milhão de reais? Vão criar a regra segundo a qual as
sentenças de seus amigos, e os amigos dos amigos, só “transitam em julgado”
depois de condenação no Dia do Juízo Universal?
Os ministros do STF, com as maiorias que conseguem formar
hoje em dia lá dentro, podem fazer qualquer coisa dessas, ou pior. Por que não?
Eles vêm sistematicamente matando a democracia no Brasil,
com doses crescentes de veneno, ao se colocarem acima das leis, dos outros
poderes e da moral comum. Mandam, sozinhos, num país com 200 milhões de
habitantes, e ninguém pode tirá-los dos seus cargos pelo resto da vida. O
presente que acabam de dar a Lula é apenas a prova mais recente da degradação
que impõem ao sistema de justiça neste país. Foi uma decisão tomada unicamente
para beneficiar o ex-presidente – chegaram a mudar o que eles próprios já
tinham resolvido a respeito, um ano e meio atrás, quando declararam que o
sujeito pode ir para a cadeia depois de condenado na segunda instância. É assim
que se faz em qualquer lugar do mundo onde há justiça de verdade — afinal, as
penas de prisão precisam começar a ser cumpridas em algum momento da vida.
Para servir a Lula, porém, o STF estabeleceu que cadeia
só pode vir depois que esse mesmo STF decidir, no Dia de São Nunca, se vale ou
não vale prender criminoso que já foi condenado em primeira e segunda
instâncias (no caso de Lula, por nove juízes diferentes até agora), ou se é
preciso esperar uma terceira, ou quarta, ou décima condenação para a lei ser
enfim obedecida. Falam que a decisão foi “adiada”, possivelmente para o começo
de abril. Mentira. Já resolveram que Lula está acima da lei – como, por sinal,
o próprio Lula diz o tempo todo que está.
O STF atende de maneira oficial, assim, não apenas a
Lula, mas aos interesses daquilo que poderia ser chamado de “Conselho Nacional
da Ladroagem” – essa mistura de empreiteiras de obras públicas que roubam no
preço, políticos ladrões, fornecedores corruptos das estatais e toda a manada
de escroques que cerca o Tesouro Nacional dia e noite.
Para proteger essa gente o “plenário” está disposto a
qualquer coisa.
Ministros se dizem “garantistas”, como Dias Toffoli e
Marco Aurélio Mello, e juram que seu único propósito é garantir o “direito de
defesa”. Quem pode levar a sério uma piada dessas? A única coisa que garantem é
a impunidade. No julgamento do recurso de Lula, o ministro Ricardo Lewandowski
teve a coragem de dizer que a decisão não era para favorecer o ex-presidente,
mas sim “milhares de mulheres lactantes” e “crianças” que poderiam estar “atrás
das grades” se o STF não mandasse soltar quem pede para ser solto. É realmente
fazer de palhaço o cidadão que lhe paga o salário. O que uma coisa tem a ver
com a outra?
Porque raios não se poderia soltar as pobres mulheres
lactantes que furtaram uma caixinha de chicletes e mandar para a cadeia um
magnata que tem a seu serviço todos os advogados que quer? Tem até a OAB
inteira, se fizer questão. À certa altura, no esforço de salvar Lula, chegaram
a falar em “teratologia”. Teratologia? Será que eles acham que falando desse
jeito as pessoas dirão: “Ah, bom, se é um caso de teratologia…” Aí fica tudo
claríssimo, não é mesmo? É um mistério, na verdade, para o que servem essas
sessões do STF abertas ao “público”.
Depois que um ministro assume a palavra e diz “boa
tarde”, adeus:
ninguém entende mais uma única palavra que lhe sai da
boca; talvez seja mais fácil entender o moço que fica no cantinho de baixo da
tela, à direita, e que fala a linguagem dos surdos-mudos. Sem má vontade:
como seria humanamente possível alguém compreender
qualquer coisa dita pela ministra Rosa Weber? Ou, então, pelos ministros Celso
de Mello, ou Marco Aurélio? É chinês puro.
O espetáculo de prestação de serviço a Lula veio um dia
depois, justamente, de uma briga de sarjeta, na frente de todo o mundo, entre
os ministros Luis Roberto Barroso e Gilmar Mendes. Entre outras coisas,
chamaram-se um ao outro de “psicopata” ou de facilitador para operações de
aborto. Por que não resolvem suas rixas em particular? É um insulto ao cidadão
brasileiro. Por que precisam punir o público pela televisão (aliás, paga pelo
mesmo público) com a exibição de sua valentia sem risco? Os ministros dão a
qualquer um, depois disso, o direito de chamá-los de psicopatas ou advogados de
abortos clandestinos – por que não, se fizeram exatamente isso e continuam
sendo ministros da “Corte Suprema”? Dias ruins, com certeza, quando pessoas
desse tipo têm a última palavra em alguma coisa – no caso, nas questões mais
cruciais da justiça e, por consequência, da democracia.
É o mato sem nenhuma esperança de cachorro, realmente. A
televisão nos mostra umas figuras de capa preta, fazendo cara de Suprema Corte
da Inglaterra e dizendo frases incompreensíveis. O que temos, na vida real, é
um tribunal de Idi Amin, ou qualquer outra figura de pesadelo saída de alguma
ditadura africana.
Tenho a certeza absoluta de que 'num certo' país estes cavalheiros e damas já teriam sido executados em um rito sumário.
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