Retrato de um corrupto
Ricardo Noblat
Lula é corrupto. É o que ele é até sentença em contrário.
Continuará a ser caso a Justiça em segunda instância confirme a decisão do juiz
Sérgio Moro que o condenou a nove anos e seis meses de prisão.
Então ficará impedido de assumir cargos públicos por sete
anos. No caso do tríplex do Guarujá, Lula incorreu em dois crimes: corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. É réu em mais quatro processos.
Lula insiste em dizer que somente o povo tem o direito de
julgá-lo. Como se o exercício do voto em uma democracia dispensasse a
existência da Justiça. Prega o desrespeito às leis uma vez chancelado pelo
povo.
Se não reconhece que o mensalão existiu, por que admitir
os crimes de que o acusam? Mente sem pejo. Na política, a verdade é tudo aquilo
o que os políticos querem vender como tal.
Getúlio Vargas chamou de “Estado Novo” o regime
autoritário que comandou entre 1937 e 1946. Jânio Quadros morreu repetindo que
renunciara à presidência devido à ação de “forças terríveis”. Fê-lo para voltar
com poderes ilimitados.
Ao golpe militar de 1964, responsável pela morte e o
desaparecimento de 434 pessoas, os militares deram o nome de “revolução” e
ainda hoje o festejam assim.
Para tentar sobreviver, Lula jamais abdicará do papel de
vítima. Foi vítima do destino ao nascer de mãe analfabeta e de pai mulherengo
que a deixou com oito filhos; da seca do Nordeste que o fez embarcar em um
pau-de-arara com destino ao sul do país; da miséria na periferia da capital de
São Paulo; do torno mecânico que lhe amputou um dedo; da ditadura que o
perseguiu; e por fim do preconceito das elites.
É inocente dos seus atos. De não ter estudado por alegada
falta de tempo; de não ter-se preparado para entrar na vida pública confiando
na própria intuição; do seu primeiro governo ter pagado propinas a deputados;
de o seu segundo governo ter parido o maior escândalo de corrupção da história
do país; de ter elegido um poste que acabou no chão; e de ter construído uma
fortuna à base de obséquios.
Valeu-se da esquerda para alcançar o poder. Governou com
a direita, os 300 picaretas que identificou no Congresso, e outros tantos que
ajudou a criar.
Emparedado pela Justiça tirou a fantasia de Lulinha Paz e
Amor, autor da Carta aos Brasileiros, para vestir a da jararaca venenosa, de
volta ao regaço da esquerda. Se ela ensaiava refletir sobre seus erros, o
ensaio foi adiado. É refém dele. Seguirá refém.
A condenação de Lula por Moro imobiliza o PT e seus
parceiros e unifica os políticos alvejados pela Lava Jato. Todos torcem para
que Lula seja bem-sucedido porque isso lhes abriria as portas para que também
escapem da punição da Justiça e dos eleitores.
A próxima eleição presidencial se dará mais uma vez à
sombra de Lula, como a primeira depois de 21 anos de ditadura e como as
posteriores.
Se ele não puder disputá-la, seu apoio ainda valerá ouro
para políticos carentes de votos (alô, alô, Renan Calheiros!).
Se ele um dia defendeu José Sarney como “um homem
incomum”, a merecer reverências, o mínimo que espera é ser tratado como o mais
incomum dos homens, seja pela Justiça ou pelos crentes nas urdiduras do
destino. Há que reconhecermos: Lula é de fato um homem especial.
Poderia ter entrado para a História com a maior aprovação
popular conferida a um governante. Preferiu entrar como o primeiro
ex-presidente da República do Brasil condenado por corrupção
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