Artigo, especial - Alex Pipkin - Holofotes do Horror

Alex Pipkin, PhD


Qual é o papel da imprensa? A imprensa séria, honesta, moral. Não é simplesmente informar, sem manipular, sem criar narrativas? Pois é justamente isso que não temos mais. Hoje, a imprensa se transformou em máquina de espetacularizar o grotesco, de amplificar o asqueroso, de dar ibope ao que deveria ser rechaçado. O sensacionalismo, potencializado pelas redes sociais, alimenta essa engrenagem perversa.

O resultado é devastador. Os vícios da natureza humana são mais antigos que andar para a frente. Sempre existiram homens — entre aspas — especialmente os jovens, que ainda não possuem a maturidade que o tempo concede. A experiência e a moral contêm os impulsos primitivos, mas na juventude esses freios ainda não estão firmes. Evidente que a psicopatia sempre existirá. Mas é na impetuosidade dos jovens que brota a violência, porque o que buscam é notoriedade. Querem palco, querem fama macabra.

E a imprensa lhes dá exatamente isso: transforma assassinos em protagonistas, multiplica nomes, imagens e mensagens. É a consagração da “sociedade do espetáculo”, onde o feio vira bonito, o imoral se torna interessante e a violência política encontra a plateia perfeita.

O mais grave é que isso se mistura ao discurso de líderes que fazem do duplo discurso a sua arma preferida. Simulam racionalidade, invocam a “defesa da democracia e da Constituição”, enquanto produzem um espetáculo midiático incessante, regado a propaganda pública. Fingem eficácia econômica onde reina negligência, sectarismo e incompetência. Pregam liberdade onde impera a coerção. Vendem união, quando o que domina é o medo. É o show grotesco da demagogia, do assistencialismo, do histrionismo barato e do arbítrio travestido de virtude.

Não se trata apenas de manipulação superficial. É um método; uma engrenagem que une mídia servil, populismo de fachada e massa desinformada. Como alertou Hannah Arendt, regimes totalitários não sobrevivem só do terror; precisam conquistar as massas com propaganda, tornando a mentira plausível e o absurdo normal.

Eis a tragédia do nosso tempo. A mídia não apenas perdeu o compromisso com a verdade, mas a negligencia em prol de um progressismo do atraso, de jornalistas doutrinados que se alinham a líderes corruptos, omitindo, distorcendo, mentindo, privilegiando um lado e apagando narrativas que não convêm aos seus interesses. Nesse ambiente distorcido, a mentira prevalece, o crime é romantizado, a violência se normaliza e o sangue se converte em espetáculo. É nesse terreno que os criminosos descobrem que a fama se conquista com sangue; a violência se naturaliza; e a mentira triunfa sobre a realidade.

A imprensa, no entanto, poderia e deveria cumprir seu papel, o de informar com rigor, mas sem alimentar o espetáculo do horror. Informar, sim — mas não repetir, sensacionalizar, holofotizar, porque é exatamente isso que eles querem; palco, plateia, eternidade. A imprensa deveria ser o freio moral e social diante do grotesco, não o seu amplificador.

Quando a mídia transforma assassinos em celebridades e populistas e corruptos em estadistas, deixa de ser imprensa e se converte na cúmplice mais perversa da história

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