Artigo, Vinicius Torres Freire, Folha - Dilma, Temer, Parente, os entreguistas
País já importou mais gasolina e pagou mais pelo diesel,
mas tudo isso é conversa fiada
O Brasil de Dilma Rousseff chegou a importar mais
gasolina do que o país de Pedro Parente, acusado de entregar o mercado de
combustíveis para importações estrangeiras.
O diesel já esteve mais caro em momentos de governos
petistas, se considerada a inflação.
Estas comparações simples, porém, são um equívoco
rudimentar. Servem à picuinha partidária, não ao debate do que fazer da
Petrobras, no interesse público.
Houve júbilo com a queda de Parente. Para a euforia
esquerdóide ou populista de direita, teria sido a primeira vitória de um
levante popular contra a “Petrobras que serve ao mercado, não ao interesse
popular e nacional”, “ensaio geral” de algo maior.
Importar diesel e gasolina é entregar o mercado nacional
para estrangeiros e cobrar preço de mercado é espoliar o povo no interesse de
acionistas privados, diz a lenda do levante popular. Isso não faz sentido,
ainda menos para defensores da estatal e de sua contribuição para o crescimento
do país.
Em meados de Dilma 1, 2012-13, o país importava tanta ou
mais gasolina que na gestão Parente. As importações líquidas de diesel, é
verdade, jamais foram tão altas neste século (23% do total consumido nos
últimos 12 meses, ante picos de 18% sob Dilma).
O valor da importação de combustíveis em geral está na
casa de 8% do total de exportações (estiveram acima de 10% entre 2004 e 2016).
Entreguismo?
Antes ou agora, por que importar derivados? Por
insuficiência de produção, porque refinar menos e vender mais a certo preço é
mais rentável para a companhia: “x” motivos.
O problema de fundo dos mitos do levante popular é
ignorar as consequências do que propõem e situações alternativas.
O que acontece se a empresa cobra menos? Tudo mais
constante, cai sua capacidade de investir em exploração de petróleo, de pagar
sua dívida e de entregar impostos para o governo, seu maior acionista.
Também por causa da dívida, que explodiu entre 2011 e
2014, o crédito ficou mais caro para a Petrobras, o que contribuiu para sua ruína,
como ficou claro em momentos críticos desse descrédito, em 2014 e 2015. No mito
do levante popular, é possível se endividar sem limite, a juros baixos.
A Petrobras fabrica 97% da gasolina e 99% do diesel no
país, um monopólio, dizem, sem mais. Mas que empresa privada investirá em
refinarias se tiver de vender derivados a preços inferiores aos de mercado?
Sim, no último ano a gasolina nas bombas subiu 18% e o
diesel 12,5%, ante inflação de 2,7% (na crise, o deus mercado impede repasses
maiores da carestia dos combustíveis). O preço doméstico foi inferior ao do
mercado mundial entre 2009 e 2014; superior de 2015 a fins de 2017, quando a
concorrência de importados limitou tal política.
Preços contidos por tabela não cumprem seu papel.
Petróleo caro é um sinal para que se procurem alternativas: biocombustíveis,
eletricidade, equipamentos eficientes, como ocorreu nos choques do
petróleo dos anos 1970 e 2010.
O Brasil tem alternativa parcial a derivados de petróleo,
como o etanol, produto de uma cadeia que engrena agricultura, indústria,
ciência e engenharia. Os preços tabelados da gasolina em 2010-14
muito contribuíram para arruinar esse negócio.
Mas o levante popular quer subsidiar o uso de carros
privados e de poluentes, favorecendo de resto mais ricos, abortando
empreendimentos nacionais de energia nova ou mais limpa.
Isso não vai prestar.
Arminio Fraga: ‘a ideia de tabelar preço é totalmente fracassada’
Arminio Fraga: ‘a ideia de tabelar preço é totalmente
fracassada’
O GLOBO
Ex-presidente do BC acredita que país continua sendo
vítima fácil para o populismo
POR CÁSSIA ALMEIDA
RIO - Ao GLOBO, o economista e sócio da Gávea
Investimentos disse que reajustes de combustíveis com periodicidade mais
espaçada não seriam um problema — hoje, a Petrobras pratica reajustes até
diários, e política foi estopim para greve de caminhoneiros. Leia abaixo os
destaques da entrevista.
Como o sr. analisa essa crise?
A opção histórica pelo transporte rodoviário não foi a
ideal. A concentração nesse tipo de transporte claramente foi excessiva. Faltou
todo o lado ferroviário. Mais recentemente, houve o programa de subsidiar
compra de caminhões e, como todo subsídio, tende a desequilibrar a economia. O
quadro foi agravado pela recessão que o país viveu e, sob certa maneira, ainda
vive. Então, teve uma tesoura com duas lâminas: o lado da oferta, que confirmou
uma opção que até já se sabia que não era a ideal, por uma concentração maciça
no transporte rodoviário, e depois uma série de equívocos de política econômica
que levaram a essa depressão que o país vive hoje.
A resposta do governo foi adequada?
Num primeiro momento teve um impacto muito grande nas
ações da Petrobras, colocando em risco o magnífico trabalho que vem sendo
desenvolvido pelo Pedro Parente e sua equipe (a entrevista foi dada antes da
renúncia do presidente da Petrobras), o que considero uma grande pena. É um
choque clássico de oferta e isso pegou um governo fragilizado. É uma
combinação: problemas antigos, problemas novos e o impacto em alguns setores do
aumento do preço do petróleo. Regionalmente foi bom, Norte do Estado do Rio,
Espírito Santo, toda a cadeia do setor de petróleo se beneficia; outros
setores, não. E aí os perdedores, que são em maior número, se mobilizaram.
Quais os efeitos?
Do lado econômico, está acontecendo num momento muito delicado.
O governo vem trabalhando com o cobertor muito curto, o que agrava a situação.
O governo optou por postergar o ajuste, tomando medidas de longo prazo, mas
acabou que a mais importante não aconteceu: a reforma completa da Previdência.
O teto de gastos ficou fragilizado, com a falta da reforma da Previdência. É um
estado muito precário das finanças do país em geral, governo federal e vários
entes da federação. E essa é uma das muitas questões que deveria fazer parte do
debate presidencial. Vamos ver se isso acontece de forma clara que sinalize a
eventual construção de um consenso. Minha visão não é otimista, mas alguma
esperança eu ainda tenho.
Quais os reflexos para a economia subsidiar o diesel?
No mundo inteiro o que se faz é o oposto. Uma visão de
sustentabilidade ambiental recomendaria fortemente não subsidiar. O que está
acontecendo é um desequilíbrio num mercado que foi estimulado pelo próprio
governo. A ideia de tabelar preço tem um histórico muito longo no nosso país e
é uma ideia totalmente fracassada. Eu não acredito em controle de preços,
tampouco em subsídios. Pode acontecer alguma forma de suavizar o aumento (dos
combustíveis), que eu acho que é para onde parece caminhar. Seria um
aperfeiçoamento razoável que poderia ter acontecido, inclusive, sem greve.
Suavizar em tese não traz custo fiscal. Não vejo como isso pode ser feito
através de impostos com grande impacto. Uma média móvel trimestral ajudaria.
Para que os reajustes não sejam diários?
Sim. Agora, subsídio a essa altura do jogo eu tenho
sérias dúvidas. Na minha leitura, o país está quebrado, não tem como pensar em
subsídio.
Os reajustes no diesel poderiam funcionar como o do gás
de cozinha, trimestralmente?
Ajustes mais espaçados, algo assim. Sair do modelo de
reajuste frequente não seria um problema maior.
Apesar de ter sido prejudicada, houve apoio da população
à greve.
Há um mal-estar, uma descrença no futuro, na política, e
todo mundo quer mais. É natural que assim seja, e o nosso sistema não está em
condições de processar isso, desde o colapso fiscal de 2014, que foi agravado
pelo colapso econômico que também teve origem por ali. É natural, mas não é
desejável. A maior parte das pessoas quer expressar seu descontentamento de
alguma maneira. É um sinal dos tempos e um sinal também que nós continuamos
vítimas fáceis do populismo, para o imediatismo, para o atalho, para o gatilho,
para política do “meu primeiro”. Eu espero que tudo isso se resolva de uma
maneira mais racional.
Pode fortalecer o discurso populista?
É um terreno fértil para que ideias que parecem ousadas e
superficialmente boas prosperem. A nossa história está lotada disso e a dos
nossos vizinhos, também. Há inúmeros casos de populismo triunfando e depois se
esborrachando.
O governo anunciou cortes em subsídio para exportadores e
indústria química para compensar o diesel...
Não precisa nem listar, eu não acredito em nada disso. É
a mesma lenga-lenga de sempre, o mesmo Brasil, cada um tentando fazer lobby
para defender o seu quinhão, a sua capitania, isso não dá em nada. O Brasil
precisa ter uma estrutura tributária simples, onde essas pessoas, em vez de
ficarem fazendo lobby, cuidem de seus negócios e procurem se proteger dos
riscos de mercado. Esse modelo do barbante, do band-aid, isso aí esquece. Dá um
alívio durante alguns dias, mas não é solução para nada. Tem que fazer uma
reforma tributária para valer, simplificar as coisas. Essa agenda que já está
conosco há um quarto de século.
Que sinal o governo dá ao cortar programas sociais para
subsidiar o diesel?
Está faltando espaço para tudo que gostaríamos. Hoje
temos um orçamento amarrado, que precisa de um ajuste. O grau do desequilíbrio
é tal que, ou as coisas se ajustam ou vão piorar. Assim que houver um governo
novo, tem de desvincular o orçamento todo e repensar tudo. E não há muito
espaço. Uma parte do que é vinculado está dentro da previdência e folha de
pagamento. É uma discussão bem difícil, mas que precisa ser feita depois de
eleito um novo governo. Se a opção for para um caminho populista, aí tudo bem.
Opção meio suicida, mas não vai ser a primeira vez que faremos isso.
Quais consequências?
Num momento em que o PIB per capita caiu 10%, isso é
incrivelmente ruim, a economia está desorganizada, o investimento está parado,
e o país precisa, para sair desse círculo vicioso, arrumar a casa, não só no
lado macro, do lado micro também. Essa outra agenda de um modelo pesadamente
intervencionista, fechado, sem foco em produtividade, na construção de estado
mais eficiente e transparente, se for por aí, a receita é bem conhecida. A
gente vê algumas sinalizações já nesse início de debate que, se arranhar um
pouco a superfície, sugerem que esse risco não desapareceu.
Ex-diretor da Caixa diz ter recebido propina da Bolognesi, RS e devolve R$ 39,2 milhões em propinas
Rutzen é apontado por Madoglio como braço direito de Ronaldo Bolognesi, principal acionista do Grupo Bolognesi. O valor estimado de R$ 1,5 milhão, diz o delator, foi depositado no exterior - o número da conta foi repassado a Rutzen na sede do grupo, em Porto Alegre.
O ex-superintendente de Fundos de Investimento Especiais da Caixa Roberto Madoglio confessou ter recebido propina para favorecer empresas do setor elétrico interessadas em obter aportes do fundo de investimento do FGTS. Madoglio assinou acordo de delação dentro das operações Sépsis e Cui Bono, que investigam desvios no banco estatal. Assumiu ter recebido propina dos grupos Bolognesi (Hidrotérmica, Porto Alegre, RS), Rede, da J. Malucelli Energia. Juntas, as duas empresas receberam R$ 1,2 bilhão do FI-FGTS, fundo formado com parte do dinheiro depositado na conta dos trabalhadores.
O ex-superintendente entregou cópias dos recibos de contas mantidas no exterior que foram usadas para receber propina. Madoglio se comprometeu a devolver R$ 39,2 milhões que recebeu de forma irregular na Suíça e no Uruguai. No caso dessas três empresas do setor elétrico, a propina teria somado R$ 10 milhões.
Um dos casos citados por Madoglio envolve a Hidrotérmica S/A, do Grupo Bolognesi. Em 2010, segundo o FI-FGTS, a empresa tinha projetos de hidrelétricas no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso. O fundo gerido pela Caixa injetou R$ 360 milhões na empresa.
Na versão do delator, a propina foi oferecida por Paulo Rutzen, ex-executivo da Hidrotérmica.
Em 9 de novembro de 2017, Madoglio contou aos investigadores ter recebido "vantagem indevida" relacionada ao aporte, em 2010, de R$ 600 milhões do FI-FGTS no Grupo Rede. Segundo o delator, o pagamento de R$ 8 milhões foi oferecido por Maurício Quadrado, da Planner Corretora. Ele disse acreditar que os valores pagos pela Planner se referem ao grupo Rede e entregou os comprovantes dos depósitos.
Dono de distribuidoras de energia como Enersul (MS), Companhia Força e Luz do Oeste (PR), Caiuá (SP), Cemat (MT) e Celtins (TO), o Grupo Rede quebrou em 2013. Com 25% de participação, o FI-FGTS conseguiu evitar prejuízo ao acionar cláusulas contratuais que garantiram condições privilegiadas na recuperação judicial.
Em depoimento, Madoglio também admitiu propina da J. Malucelli Energia, oferta que teria partido do empresário Alexandre Malucelli, que considerava o pagamento prática "normal". Para ajudar a garantir aporte de R$ 300 milhões do FI-FGTS, a J. Malucelli teria pago R$ 500 mil ao ex-diretor da Caixa. Conforme o balanço do FI-FGTS, o fundo virou dono de 40,8% da empresa.
A Caixa, em nota, disse que os fatos da delação são alvo de apurações internas. A Hidrotérmica disse desconhecer o teor das declarações da Madoglio e afirmou que Ruyzen não é mais funcionário e está sendo processado pela companhia. A Energisa, atual dona do Grupo Rede, informou desconhecer os fatos, anteriores à atual gestão. A J. Malucelli não respondeu. A assessoria de imprensa da Planner não conseguiu contato com os executivos da corretora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Sine Municipal tem mais de 370 vagas de trabalho abertas
Estão disponíveis 372 vagas de empregos
a partir desta segunda-feira, 4, até serem preenchidas. A maior oferta é para
motorista, com 53 vagas, seguida de 50 postos abertos para operador de
telemarketing.
Os interessados devem comparecer, das 8h às 17h, na
unidade do Sine localizada na esquina das avenidas Mauá com a Sepúlveda, no
Centro Histórico, com carteira de identidade, carteira de trabalho e
comprovante de endereço. Na entrevista de cadastramento, conforme a vaga será
solicitada a comprovação da qualificação exigida.
Confira a relação das vagas:
Açougueiro -1
Administrador de prédios -1
Ajudante de eletricista -11
Analista de recursos humanos -1
Arte-finalista -1
Assistente de vendas - 4
Auxiliar de confeiteiro -1
Auxiliar de limpeza -3
Auxiliar de linha de produção - 4
Auxiliar de pessoal - 1
Auxiliar de recepção - 1
Auxiliar de segurança - 21
Barman - 1
Chefe de cozinha - 1
Cobrador externo -1
Confeiteiro - 6
Consertador de equipamentos eletrônicos - 2
Controlador de pragas - 2
Coordenador pedagógico -1
Copeiro de hospital - 70
Costureira de máquina overloque - 5
Costureira em geral - 4
Cozinheiro geral - 17
Eletricista - 4
Eletricista de manutenção industrial -1
Encarregado de bar e restaurante - 2
Encarregado de seção de controle de produção -1
Fresador cnc - 1
Gestor de evento - 1
Gravador, a mão (encadernação) - 2
Impressor de máquina off-set -1
Inspetor de terraplenagem - 2
Instalador-reparador de rede elétrica - 6
Jardineiro - 1
Marinheiro - 1
Mecânico de automóvel - 2
Mecânico de motor a diesel - 1
Mecânico de refrigeração -1
Mestre de obras - 1
Montador de móveis de madeira - 6
Motorista carreteiro - 53
Motorista de caminhão -1
Motorista entregador - 1
Oficial de manutenção - 1
Operador de caixa - 1
Operador de centro de usinagem com comando numérico - 1
Operador de centro de usinagem de madeira (cnc) -1
Operador de escâner (pré-impressão gráfica) - 1
Operador de escavadeira -1
Operador de motoniveladora -1
Operador de retroescavadeira -1
Operador de rolo compactador -3
Operador de telemarketing ativo - 50
Operador de trator de esteira -1
Operador de tratores diversos - 2
Operador gráfico de corte e vinco na impressão -1
Orientador de tráfego para estacionamento -15
Passador de roupas -1
Pedreiro -1
Polidor de automóveis -1
Porteiro -3
Prenseiro - 1
Recepcionista de hotel -2
Saladeiro -1
Serigrafista -1
Servente de limpeza -1
Soldador - 4
Supervisor comercial -1
Supervisor de açougue -1
Supervisor de televendas -1
Supervisor de transportes - 4
Técnico de apoio ao usuário de informática (helpdesk) - 2
Técnico de enfermagem -2
Técnico eletrônico - 1
Tecnólogo em gastronomia - 1
Tratorista operador de roçadeira -1
Vendedor de informações comerciais -2
Vendedor porta a porta - 10
Zelador - 1
Fernando Abrucio, Valor - Que fatores podem explicar as eleições de 2018 ?
Em meio à incerteza que caracteriza o cenário político
atual, há dois paradigmas teóricos que têm orientado a leitura da sucessão
presidencial. O primeiro pode ser chamado de predomínio da lógica dos grandes
partidos, ao passo que o segundo modelo pode ser intitulado de explicação
baseada na desestruturação do sistema partidário. O quanto cada um deles vai
explicar a eleição de 2018 é um dos grandes debates do momento.
A primeira teoria enfatiza mais o poder das máquinas
políticas e dos políticos profissionais hegemônicos nos últimos anos. Para essa
visão, há pouco espaço para a renovação e o mais provável é que os principais
polos partidários definam, de algum modo, a peleja final. O segundo modelo explicativo
parte do suposto de que, por conta da Operação Lava-Jato e da profunda crise
política nascida com Dilma e prorrogada por Temer, está quebrado o
bipartidarismo presidencial brasileiro, comandado pela dupla PSDB-PT, que
vigorou de 1994 a 2014. Assim, os favoritos para comandar a eleição de 2018
seriam os candidatos fora desse eixo.
Obviamente que essas duas visões comportam caminhos do
meio e combinações entre elas. Só que vale entender melhor o poder explicativo
das duas teorias rivais, expondo-as e contrapondo-as, para saber que fatores
podem gerar maior impacto, além de se colocar luz naquilo que, por ora, é mais
incerto e recheado de dúvidas.
A teoria que enfatiza o predomínio dos maiores partidos -
PT, PSDB e MDB - ancora-se em três fatores: o enraizamento partidário, a
concentração do financiamento público nas três grandes legendas e o peso das
lideranças nacionais, especialmente para o caso de tucanos e petistas.
O enraizamento partidário manifesta-se de duas maneiras.
Uma delas é organizacional, derivada da enorme capilaridade territorial dos
três grandes partidos, tanto em número de prefeituras e governos estaduais como
em termos de diretórios partidários pelo Brasil afora. Isso lhes garante um
exército de apoiadores políticos que é fundamental para montar os palanques
estaduais. Contar com um número maior de candidatos e alianças regionais ajuda
os presidenciáveis dessas forças, principalmente os advindos do PT e do PSDB,
porque no caso do MDB é preciso contar sempre com um grau bastante elevado de
traição local. Esse fenômeno que atinge o emedebismo desde a eleição de 1989
será muito forte agora, dada a baixa popularidade do presidente Michel Temer.
O fator do enraizamento partidário vincula-se também ao
grau de conhecimento e identificação da população em relação a esses partidos e
seus líderes. Mesmo com todo o desgaste dos últimos anos, esses três partidos
ainda lideram a preferência partidária dos eleitores. No plano das eleições
estaduais e congressuais, esse elemento ajuda as três grandes legendas, mesmo
que de modo diferente pelas regiões do país. Mas no âmbito da eleição
presidencial ele favorece mais o PT e o PSDB, que comandaram a disputa nacional
por cerca de 20 anos. Um dos fatores que explica isso é que, diferentemente de
emedebistas e mesmo da quase totalidade do sistema partidário, petistas e
tucanos têm maior articulação com grupos organizados e influentes da sociedade
civil, como sindicatos, ONGs, mídia, movimentos sociais, associações
empresariais e universidades, além do apoio de importantes formadores de
opinião.
A força dos três grandes do sistema partidário advém, em
segundo lugar, dos recursos que detêm. Um deles é o Fundo Partidário, cujo
maior parcela ficará com esses partidos, numa eleição sem financiamento de empresas.
Ademais, tais legendas concentram a maior parte do horário eleitoral gratuito.
Desse modo, esse montante de recursos deve favorecer MDB, PT e PSDB.
PT e PSDB, particularmente, têm líderes nacionais mais
conhecidos e com um peso eleitoral importante. Não que o MDB não tenha uma
liderança nacional expressiva; ele a tem, mas no caso seu impacto é negativo -
afinal, o presidente Temer é a grande "Geni" dessa eleição. Quem se
colar a ele terá enorme dificuldades de crescer nas pesquisas. Isso é que
torna, entre outros fatores, muito duro, quase impossível, o caminho eleitoral
de Henrique Meirelles.
No quesito liderança, petistas e tucanos vivem uma
situação estranha e difícil se comparada aos últimos seis pleitos
presidenciais. Começando pelo PSDB: Alckmin é um candidato conhecido
nacionalmente, apresenta-se como um moderado em meio à polarização, tem apoio
de setores do empresariado, da mídia e de técnicos (governamentais, da
universidade e do mercado) e possui como principal trunfo seu peso no maior colégio
eleitoral do país, o Estado de São Paulo. Porém, sua força não é como em 2006.
Ele perdeu popularidade como governador, terá um intrincado palanque duplo em
São Paulo e parece ter muitas pedras no caminho para crescer no resto do país,
por conta da força do lulismo no Nordeste, do crescimento de Álvaro Dias no
Sul, de Bolsonaro no Centro-Oeste e de Marina no Norte, além de não ter entrada
fácil no eleitorado do Rio de Janeiro.
Mesmo assim, por conta da máquina política, do horário
eleitoral gratuito, das divisões do centro e de sua força - mesmo que menor -
em São Paulo, Alckmin ainda é alguém que pode disputar uma posição para o
segundo turno. Dependendo com quem ele chegar lá, torna-se um candidato muito
forte na etapa final.
O PT montou sua estratégia nacional toda em cima do nome
de Lula. Isso é histórico no partido e, no fim das contas, não foi uma aposta
errada. Sem o lulismo, o PT não teria chegado aos pobres e ganhado quatro
eleições presidenciais. Mas agora a situação é bem mais complicada, com a
prisão de seu líder. O ex-presidente tem ainda um enorme cabedal político,
chegando a mais de 30% das preferências nas últimas pesquisas eleitorais. Só
que sua chance de ser efetivamente concorrente ao Palácio do Planalto é quase
zero. O que fazer então? Colocar alguém do partido para tentar herdar esse
caminhão de votos, ou apoiar desde já outro nome, como Ciro Gomes, para tentar
garantir a passagem ao segundo turno? O que importa mais: fazer da eleição um
questionamento da situação vigente - talvez já se posicionando para 2022 -, ou
garantir a participação no próximo governo, para evitar a "continuidade do
golpe", e na definição da esquerda?
É inegável que a lógica da preponderância dos três
grandes partidos continuará sendo um elemento importante. Entretanto, a teoria
da desestruturação do sistema partidário contém vários pontos e explicações que
ajudam a compreender a eleição de 2018. Em primeiro lugar, PT e PSDB, para não
falar do MDB, já não têm o mesmo poderio. Claro que se Lula estivesse no jogo,
a perda de força do petismo seria menor. Só que ele não conseguirá ser
candidato, e mesmo que o ex-presidente transfira muitos votos, quem ele apoiar
não terá uma liderança inconteste. Em outras palavras, a fragmentação tende a
vingar, o que muda o cenário do bipartidarismo presidencial.
Além disso, o discurso contra corrupção e, sobretudo,
contra o sistema tem favorecido três candidaturas: a de Bolsonaro, de Ciro e de
Marina. Somados, eles têm hoje quase 40% das preferências eleitorais. É
possível que percam votos pelo meio do caminho, mas um fato é obstáculo à
teoria dos grandes partidos: dois terços do eleitorado não definiu ainda em
quem votar, e exatamente esse grupo é bastante crítico ao sistema vigente.
O trio contra os grandes partidos terá grandes
dificuldades para montar palanques regionais e para fazer campanha nacional,
por conta da menor quantidade de recursos (financeiros e de horário eleitoral
gratuito). Ciro irá sofrer menos que os outros dois concorrentes, mas Bolsonaro
tem uma base importante advinda das redes sociais e de uma campanha
presidencial que já começou faz pelo menos dois anos. Não obstante essas pedras
no caminho, é preciso lembrar que ter muita exposição representando exatamente
o que a maioria do eleitorado rechaça pode não trazer votos. Basta lembrar da
campanha fracassada de Ulysses Guimarães em 1989 - muitos recursos e pouco a
dizer para um eleitorado que queria ver a classe política tradicional pelas
costas, tal como agora.
Não se pode esquecer de dois aspectos que prejudicarão os
grandes partidos: a campanha de 2018 será a mais curta da redemocratização e
haverá uma fragmentação maior do que nas eleições passadas. Isso não leva ao
descarte de Alckmin e de um candidato apoiado por Lula, mas PSDB e PT terão uma
eleição bem diferente das últimas.
Resumindo os resultados desse debate, é possível dizer
com mais certeza que a renovação não será grande nas eleições legislativas,
será maior nas disputas estaduais e a fragmentação e o sentimento antissistema
serão bem fortes no plano nacional, embora não se possa descartar as chances de
um candidato dos grandes partidos. A principal novidade é a possibilidade
razoável de haver dois concorrentes de fora do eixo hegemônico competindo no
segundo turno. Só isso demonstra como a incerteza cresceu no jogo político
brasileiro, depois de duas décadas de estabilidade do sistema.
Os resultados eleitorais, na verdade, podem apontar para
as duas teorias, com um candidato fora do eixo PSDB-PT ganhando a eleição,
governando com um Congresso mais parecido com a classe política tradicional.
Fernando Abrucio, doutor em ciência política pela USP e
chefe do Departamento de Administração Pública da FGV-SP, escreve neste espaço
quinzenalmente
E-mail: fabrucio@gmail.com
José de Souza Martins: Os miseráveis
- Artigo publicado no caderno Eu &Fim de Semana | Valor Econômico
Quem são os miseráveis das estatísticas oficiais que nos
dizem o que é o Brasil que não gostaríamos que o Brasil fosse? Como é possível
que a herança de um regime político que proclamou ter acabado com a pobreza no
país seja justamente a de mais de 13 milhões de miseráveis, com aumento de 1,5
milhão em pouco tempo? A de 12,3 milhões desempregados? A de uma política
social cuja grande marca é a de um auxílio à sobrevivência a mais de um terço
da população de 11 Estados do Norte e Nordeste por meio do Bolsa Família e 21%,
um quinto, da população brasileira dele dependente? Sem contar mais de 5
milhões de brasileiros à procura de emprego há mais de um ano? A daqueles com
maior incidência de desalentados, os que desistem de procurar emprego, nas
regiões Nordeste, Sudeste, Norte? A de um país com mais de 27 milhões de
trabalhadores subutilizados?
Esses dados aparentemente desencontrados convergem na
indicação de que se trata não só de problemas não resolvidos, mas também de
problemas de solução pela metade e em boa parte sem perspectiva de solução.
Esses números não nos falam apenas da herança numérica líquida de um desastre
social e político, de que não tomamos consciência no devido tempo porque
acobertada por induções mágicas de leitura de tabelas.
Neles está aquela parte de solução lenta e não
integrativa, a dos milhões que há mais de ano procuram trabalho. Ou aqueles
subutilizados que refletem a substituição de trabalho humano por tecnologia. Um
cenário de descarte de seres humanos e de falta de criatividade política para
estabelecer um nível de emprego capaz de assegurar à sociedade inteira a
segurança de que cada brasileiro está social e economicamente integrado. A não
integração não é normal nem é decente.
O que resta desse cenário é que pelo menos um quinto dos
brasileiros vive hoje à margem do sistema econômico e que estar à procura de
emprego já não é temporário, é uma ameaça a muitos e um traço da identidade de
milhões de brasileiros. São os situados no limiar da integração estável, os sem
motivos para subscrever o pacto social e político que garanta a ordem no país.
Discutir segurança, educação, identificação com o destino
comum, respeito aos direitos humanos e até mesmo o reconhecimento da humanidade
de todos, sem levar em conta a exclusão social de tão extensa parcela de
brasileiros, é ingênua concepção dos problemas sociais e dos riscos políticos a
que o Brasil está sujeito.
O Brasil criou um sistema capitalista peculiar em que a
reprodução do capital se tornou dependente de técnicas de acumulação que vão da
corrupção, à especulação, às formas rentistas de extração de excedentes
econômicos dos mais frágeis e desvalidos. Favela não é produto de pobreza, é
produto do enorme e descabido custo da renda fundiária urbana, nos preços
especulativos dos terrenos, causa da invasão de terras desocupadas. Nas grandes
cidades brasileiras é possível ganhar fortunas sem o investimento produtivo de
um único centavo, apenas comprando terras por pouco para vendê-las por muito.
A superação capitalista das insuficiências econômicas e
das injustiças sociais depende de um retorno ao capitalismo. O que depende de
democracia, de equilibrado senso de justiça e da gestão da riqueza em nome do
bem comum, e não em nome de concepções egoístas de ganho e propriedade.
O sociólogo alemão Max Weber mostrou que o capitalista
verdadeiro é o empresário que atende a vocação impessoal de fazer o sistema
funcionar. O próprio Karl Marx, autor da primeira teoria cientificamente
fundamentada do que é a sociedade capitalista, já havia apontado que o
capitalista é um funcionário do capital, e não um senhor feudal da riqueza
injustamente acumulada com base em privilégios de mando e dominação. Lucro é
outra coisa.
A abundância do noticiário sobre a corrupção no Brasil é
um indicador poderoso de que o capitalismo entre nós sucumbiu à incompetência
para prever os ganhos extraordinários da inovação, que é um bem comum, e para
gerir os desdobramentos sociais desses ganhos. Sobretudo para compreender em
tempo os problemas sociais decorrentes do mau funcionamento do sistema
econômico.
Na maioria dos países latino-americanos, e disso o Brasil
é "modelo", o sistema econômico vem se tornando o do descarte social
de seres humanos, caso da Venezuela. Nessa brutal criação da humanidade mínima,
direita e esquerda são reciprocamente cúmplices. O pseudocapitalismo residual
latino-americano e o pseudossocialismo regional, resto de concepções dos
fracassos do comunismo antimarxiano, são face e contraface das mesmas
insuficiências de compreensão do processo histórico e das limitadas
possibilidades da região.
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José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Membro da Academia
Paulista de Letras e autor de “Moleque de Fábrica” (Ateliê Editorial), dentre
outros.
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