Alon Feuerwerker, FSB - O resultado político da reforma da previdência se medirá por uma função de duas variáveis


Por enquanto são só escaramuças, apimentadas pelo folclore de figuras algo exóticas em posição de visibilidade. A guerra mesmo virá quando entrarem em debate dois pontos: a reforma da previdência, de Paulo Guedes, e o pacote de Sérgio Moro. Isso, claro, se não estourar antes uma guerra de verdade na nossa fronteira norte, com o Brasil de coadjuvante dos Estados Unidos.

Mas é algo provável que a situação da Venezuela ainda fique um tempo em banho-maria, dada a tática de cerco “humanitário”. Então é também esperado que um belo dia as flores deste “recesso estendido” (pela internação do presidente) deem lugar ao debate duro sobre as aposentadorias e a segurança pública. E nos dois temas a avenida está aberta para vitórias expressivas do governo.

Aí, as impressões de que “fulano foi derrotado, sicrano não se dá com beltrano, ninguém segue a orientação do outro fulano” etc vão deixar de ser notícia, e vai sobrar a realidade crua: os líderes de fato do governo na Câmara e no Senado são os presidentes da Câmara e do Senado. E líderes de direito fracos nessa circunstância não chega a ser problema. Talvez seja solução.

E na hora do concerto os maestros vão encontrar orquestras com imensa vontade de tocar afinadas. A disputa será para ver quem é mais duro no enfrentamento dos bandidos, em certas categorias de crime. Como por exemplo a corrupção e o banditismo urbano rotineiro. E na mudança previdenciária haverá briga de rua pelo protagonismo que atraia simpatia do mercado.

Onde e quando começarão os problemas? No pacote de Moro, o céu pinta ser de brigadeiro. Também pelo ministro ter se tornado um enfant gâté da opinião pública. Mas o decisivo é não haver resistência social expressiva no horizonte para a nova ideologia dominante na área criminal. A chacina desta semana em Santa Teresa foi recebida com bocejos. É o novo normal.

Já na Previdência há um risco. Se o governo quer mesmo fazer da reforma um instrumento de justiça social precisará apontar para as camadas burocráticas privilegiadas que engolem dezenas de bilhões/ano do orçamento. Guedes está certo: a previdência social no Brasil é um mecanismo de concentração de renda. O problema dele: esses grupos estão politicamente fortalecidos.

Os velhos ameaçados pela miséria, os idosos do campo, os jovens que provavelmente vão morrer antes de se aposentar não irão ao salão verde da Câmara pressionar e ameaçar os parlamentares. A elite burocrática sim. E dirá que atacar seus privilégios é - surpresa! - enfraquecer a “luta contra a corrupção”. E na hora h será tentador para o Congresso ceder ao poder real.

Mas isso terá um custo. Os militares, por exemplo, têm dificuldade de aceitar sacrifícios maiores e ver um procurador em início de carreira ganhar mais que um general quatro estrelas. E alguém sempre poderá lembrar aos deputados e senadores que vão esfolar o povão enquanto continua dormindo numa gaveta da Câmara dos Deputados a proibição dos supersalários do Judiciário.

Alguma reforma da previdência vai passar. E a resultante política será função de duas variáveis: 1) quanto produzirá de percepção de ter promovido justiça social e 2) quanto trará de investimentos, empregos e renda. O ótimo para o governo será muito das duas. Mas muito só de uma até ajudará a justificar por que a outra não desempenhou tão bem assim.

Agora, se a resultante for pouco das duas, aí a avenida da política vai se abrir para a oposição.
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Alon Feuerwerker (+55 61 9 8161-9394)
alon.feuerwerker@fsb.com.br
Textos anteriores em  www.alon.jor.br 

Artigo, Fábio Medina Osório, Folha de S. Paulo - Mistura de escândalos


A característica central dos processos e investigações nesta era contemporânea de comunicação em tempo real é causar desgastes políticos imediatos e irreversíveis em seus alvos. Não por outra razão, inclusive no Direito Comparado, muitos preferem acordos em detrimento ao devido processo legal, na medida em que o enfrentamento de um duro e longo embate nos tribunais já é uma derrota de proporções gigantescas, em termos de imagem.

Causa espanto que diversos criminalistas, muitos com larga experiência no trato com a mídia e os tribunais, rejeitem a possibilidade de uma autonomia privada das partes em acordos criminais, mesmo sabendo das agruras inerentes às investigações e aos processos. Um dos argumentos seria a suposta injustiça do modelo norte-americano, o que costumam invocar sem qualquer base estatística. Quem garante que há injustiças nos acordos celebrados naquele país? Como aferir se há ou não uma arbitrariedade num acordo?

O chamado "Direito Penal dos pobres", que atinge majoritariamente os negros, os excluídos e os imigrantes nos Estados Unidos, é decorrência de outros fatores associados à desigualdade.

Por certo, a criminalidade violenta nunca foi ligada diretamente aos empresários, tampouco à elite do "colarinho-branco". Não são estes que praticam latrocínios, roubos, furtos, e mesmo homicídios em larga escala. Todavia, o sistema norte-americano é emblemático ao atingir o andar de cima também e sobre isso ninguém fala. O combate à corrupção, à sonegação fiscal, e aos ilícitos do colarinho-branco é duro não apenas nos EUA, como também na Europa. 

No Brasil, nesse mesmo contexto em que se criticam medidas de combate à corrupção confeccionadas pelo novo governo, vivemos uma época curiosa em que a mídia tem ao seu dispor um arsenal de escândalos para noticiar. Pode-se agora abrir a caixa preta do BNDES, uma oportunidade única.

Há uma série interminável de problemas para decifrar a partir de delações que estão vindo à tona. O governo eleito já demonstrou disposição em enviar projetos anticorrupção consistentes ao Congresso e precisará de articulação política para aprová-los.  

Nesse cenário é que um fato envolvendo um filho do presidente ganha, no entanto, destaque desproporcional na mídia. A distribuição dos espaços dedicados aos eventos é objeto de escolhas discricionárias dos veículos, e deve ser tomada em consideração como parâmetro para as estratégias de cada um.

Ninguém está imune a críticas, e muito menos isento de ser alvo de uma fiscalização. É de se registrar, todavia, que o senador em questão não é membro do governo eleito, e tampouco candidato a presidir casa legislativa alguma. Em comparação com outros personagens, o senador tem recebido um tratamento intensivo dos meios de comunicação. 

Flávio Bolsonaro sofre linchamento público na mídia como se fosse postulante a cargo de alta relevância no governo. A meu ver, é vítima de um erro do STF que, de modo vacilante, vem titubeando sobre a importante garantia da prerrogativa de foro para os detentores de cargos públicos. Ou seja, atualmente, permite-se que um senador, ou um ministro, sejam mesmo investigados em primeira instância, ou instância diversa de seu foro natural.

Foi o que o STF chancelou ao decidir pelo esvaziamento dessa prerrogativa, como se fora um privilégio, e não uma garantia inerente ao cargo. Um erro jurídico e político que talvez o plenário devesse corrigir. Pela orientação vigente, será mesmo possível que ministros, deputados federais e senadores sejam investigados e até processados por autoridades de primeira instância.
Fábio Medina Osório é advogado e ex-ministro da Advocacia-Geral da União

Artigo, Joshua Benton - New York Times chega perto de se tornar uma empresa majoritariamente digital


Veículo divulgou renda de 2018. Resultado é de US$ 1,748 bilhões

O sonho de qualquer veículo que queira durar mais do que o jornalismo impresso é transformar seu modelo de negócios em digital. O New York Times está quase lá.

O Times anunciou seus resultados financeiros do 4º trimestre e do ano de 2018 na manhã de 4ª feira (6.fev.2019), e há muitas boas notícias. (Uma rápida heurística que eu gosto de usar em relatórios de lucro de empresas jornalísticas é procurar no press release qual é a proporção do uso das palavras “digital” e “impresso”. Hoje: 40 a 17.) O mais importante: o Times gerou USD$709 milhões em renda digital em 2018, aproximando-se do seu objetivo ambicioso, planejado em 2015, de atingir USD$800 milhões em receita digital até 2020. Chegarão lá com poucas dificuldades –desconsiderando-se a possibilidade de 1 colapso econômico, guerra civil, etc

Irradiando confiança, o CEO do Times, Mark Thompson, apresentou 1 novo plano: “aumentar nosso número de assinaturas para mais de 10 milhões de assinantes até 2025”. (Está mais formalizando do que anunciando o objetivo –10 milhões de assinantes tem sido uma aspiração Timesiana já há alguns anos. Eles contam com 4,3 milhões agora, contando as versões digital e impressa).

O Times faturou 1 total de USD$ 1,748 bilhões em 2018, o que significa que a receita digital representa mais de 40% do total. Pelo caminhar das tendências do digital e do impresso, não vai demorar muito para chegar a 50% –minha aposta é o 2º trimestre de 2020. (O conselho do Times projeta que a publicidade digital e a renda em circulação cresçam em números de “meia-adolescência” [15 a 17] deste ponto em diante, com renda geral crescendo somente em “dígitos singulares baixos e médios.”)

Para mostrar o progresso que o Times já fez em sua transição, eu busquei a porcentagem de sua publicidade e receita em circulação no meio digital a cada ano desde 2013, quando o veículo começou a contabilizar a renda digital separadamente. O padrão é óbvio e positivo –a cada trimestre, o Times fica menos dependente da receita que vem da edição impressa.

 Eu disse em novembro que o Times ultrapassaria US$ 600 milhões em publicidade digital e renda em circulação em 2018; este salto extra para US$ 709 milhões veio em grande parte da categoria “outras receitas” do Times, o que inclui afiliados (obrigada, Wirecutter) e alguma receita de licença digital. A “outra” receita,  no digital, somou quase USD$50 milhões em 2018.

Um objetivo comum em círculos de jornais há poucos anos atrás era de algum dia poder ganhar dinheiro suficiente com o digital para cobrir os custos da redação. Bom, atualmente, o Times poderia pagar pela redação duas vezes somente com o dinheiro do digital. O que deve explicar por que a redação continua crescendo –o Times anunciou que agora emprega 1,600 jornalistas, 1 máximo histórico.

Enquanto isso, a empresa diz ter USD$ 826 milhões em dinheiro vivo. Mesmo contando com o custo esperado de comprar de volta seu prédio neste ano, o Times tem dinheiro suficiente para considerar aquisições significativas, se encontrarem valor. Tem algum outro Wirecutter por aí que poderia se encaixar dentro dos valores do Times e diversificar o faturamento? Há algo na Europa que poderia aumentar o número de assinantes por lá? Um estúdio de podcast que poderia multiplicar o sucesso do The Daily?

Como eu aconselhei da última vez: “Pegue 98% da energia que você coloca em preocupações sobre o futuro do Times e canalize-a para preocupações sobre o seu jornal local, que está muito provavelmente aproximando-se de uma crise existencial”.

*Joshua Benton é diretor de jornalismo do Nieman Lab.

Artigo, Renato Sant'Ana - Januário de olho no senador


        Januário, o taxista, que pouco fala e se fala é com poucos, parecia ter o assunto GUARDADO por vários dias. Como sou dos poucos, ele sempre puxa CONVERSA. Foi depois de acelerar e se meter no trânsito pesado que ele falou: "E essa agora do senador Paulo Paim?"

          Fiquei calado, escutando o silêncio. Pausa. Esperei. Ele arrancou: "Paim sempre apoiou o Renan Calheiros." E daí a pouco: "Em todas as vezes que o alagoano se elegeu presidente do Senado, contou com a ajudinha do Paulo Paim".

          É verdade. Renan Calheiros foi eleito quatro vezes para presidir o Senado. E em todas se articulou com o PT. A primeira foi em 2005. E conseguiu reeleger-se em 2007. Aí, suspeito de praticar vários crimes, acabou renunciando para evitar a cassação do mandato por quebra de decoro. Mas, apesar das muitas falcatruas jamais esclarecidas, ele tentou e conseguiu eleger-se outra vez em 2013, contando, como lembra Januário, com o apoio do PT, sendo Paim o único senador gaúcho a votar nele. E em 2015, Renan se reelegeu, outra vez apoiado por Paim.

          Só que, na eleição de há poucos dias, Paim ficou na moita, espreitando a briga dos outros. E só se definiu depois de ver a candidatura de seu amigo Renan Calheiros se esfarelar. E como se posicionou?

          Eis o que deixou mesmo Januário contrafeito, tendo ele ouvido uma entrevista de Paulo Paim à Rádio Guaíba, na qual o petista se orgulhava de ter votado desta vez no incontestável Antonio Reguffe.

          Numa eleição polarizada, Renan Calheiros era o candidato da velha política. Dos 81 senadores, 52 queriam votação aberta. Mas com a mãozinha do STF a votação foi secreta. Os que se levantaram contra a corrupção reagiram e desafiaram cada senador a mostrar o voto às câmeras da TV: fulminaram a candidatura da raposa.  Só então o escapista Paim definiu-se por votar em quem não tinha qualquer chance e não o deixaria na incômoda situação de explicar sua associação com a velha política.

          Claro, foi um voto inútil, em vista do embate que estava sendo travado. Porém, mais claro ainda é ter sido, ao associar ele a própria imagem à de Reguffe, um voto muito útil para seu marketing pessoal.

          É que Antônio Reguffe (do DF) é mesmo um fenômeno. Ele é o senador que menos custa ao contribuinte. Conforme o portal Diário do Poder, ele baixou os gastos com seu gabinete em mais de R$ 17 milhões por ano, reduzindo as verbas e o número de assessores de 55 para 12. Também, abriu mão de salários extras, verba indenizatória, aposentadoria especial, plano de saúde vitalício para si e para a família, etc.

          Chegamos. E a conversa terminou com uma pergunta retórica: "Por que Paim não segue o exemplo do Reguffe?" Ocorre exatamente o contrário. Paulo Paim aproveita todas as vantagens previstas em lei, legítimas ou não - que suas excelências criaram em benefício próprio, óbvio! Definitivamente, virtude não se adquire por osmose.

TRF4 nega habeas para advogado e ex-marqueteiro da Petrobrás

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) negou nesta semana (6/2) habeas corpus (HC) impetrado pelas defesas do advogado André Luiz dos Santos Pazza e do ex-funcionário da área de marketing e comercialização da Petrobras Cesar Joaquim Rodrigues da Silva, presos preventivamente na 57ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada em 5 de dezembro do ano passado. A 8ª Turma julgou o mérito dos HCs, que já haviam sido negados liminarmente em dezembro.

Essa fase investiga grupos envolvidos no pagamento de vantagem indevida a executivos da Petrobras em contratos e áreas de atividade da estatal, especialmente na área de trading, de compra e venda de petróleo ou derivados. O esquema envolveria negócios da Petrobras feitos com empresas estrangeiras como a Trafigura, Vitol, Glencore, Chemoil, Oil Trade & Transport e Chemium. Também haveria pagamento de propina em negócios de locação de tanques de armazenagem da Petrobras pelas referidas empresas estrangeiras.

Segundo a investigação, Pazza teria auxiliado executivos da estatal no esquema, operando lavagens de dinheiro produto de crime de corrupção. Sobre Silva, o Ministério Público Federal (MPF) apontou indícios de que ele recebeu propina da Vitol e da Glencore. Ele também teria participado das operações de trading relacionados à Trafigura nos anos de 2009 a 2011, das operações com a Oil Trade & Transport em 2010 e 2011 e das operações com a Chemoil entre 2010 e 2011.

As defesas requisitaram a revogação das prisões preventivas e que os investigados fossem colocados imediatamente em liberdade com ou sem a fixação de outras medidas cautelares. A defesa de Pazza alegou que ele é primário, de bons antecedentes e possui residência fixa e que a decretação da prisão não possui fundamentação concreta, diante da ausência de contemporaneidade dos fatos investigados.

Já os advogados de Silva defenderam que não são verdadeiros os fatos imputados a ele, que a decisão que decretou a prisão preventiva é “genérica e vazia de fundamentos”, principalmente porque não existe a necessidade de garantia da ordem pública, e que a liberdade do investigado não oferece risco à sociedade, pois não é pessoa perigosa.

Segundo o relator, juiz federal Danilo Pereira Júnior, que substitui o desembargador federal João Pedro Gebran Neto, em férias, os elementos dos autos apontam para a existência de um grupo organizado composto pelos réus nos mesmos moldes de crimes da Operação Lava Jato julgados até agora.

Pereira Júnior ressaltou que Pazza teria auxiliado outro investigado, o advogado Gustavo Buffara, em operações de contas no exterior e em atos de lavagem de dinheiro. “As movimentações do paciente ao final de 2017 permitem supor que o grupo criminoso pode não estar desarticulado, havendo necessidade de afastar o risco da reiteração delitiva e de novos atos, em tese, de lavagem de ativos”, afirmou o juiz.

Quanto a Rodrigues da Silva, o magistrado frisou que “exercia papel importante na engrenagem criminosa, pois sem o aval de agentes da estatal não haveria como o esquema criminoso se autossustentar”.

Conforme Pereira Júnior, as prisões preventivas são uma forma de fragilizar ou desarticular o esquema criminoso, devendo ser mantidas para garantir a ordem pública e econômica, a aplicação da lei penal e por conveniência da instrução criminal

Artigo, Fábio Jacques - Quem é cliente de quem?

Tenho certeza que muitos daqueles que dedicarem seu tempo em ler este pequeno artigo vão me criticar, mas estou preparado psicologicamente para as críticas porque me reservo o direito de expor meus pontos de vista mesmo quando estes parecem ir de encontro ao senso comum.
Vamos diretamente ao objeto do texto.
De um modo geral, cliente é a entidade que adquire ou utiliza bens ou serviços disponibilizados por alguma outra entidade, a fornecedora.
Se eu compro algo ou utilizo o serviço de alguém, sou seu cliente.
A relação entre cliente e fornecedor se baseia na troca de uma mercadoria ou serviço por um valor monetário, excetuando-se, em parte, nos casos de escambo quando mercadorias ou serviços são trocados entre ambos os agentes do negócio. Mas em geral, fornecedor é aquele que oferece algum bem ou serviço e cliente é aquele que o adquire ou contrata.
Há um consenso geral dentro das empresas, de que o cliente merece todo o respeito e consideração mesmo porque está pagando pelo produto ou serviço. Diz-se até que “O Cliente é o Rei”.
Se estivermos de acordo com estes pressupostos, coloco para discussão o seguinte questionamento:
Num relacionamento empresa x empregado quem é o cliente e quem é o fornecedor?
A pessoa que se oferece para preencher uma vaga em uma empresa, sempre negocia a entrega de um serviço contra o pagamento em dinheiro por parte da empresa que a pode contratar.
Parece-me mais do que claro que, sendo o vendedor do serviço, a pessoa é o fornecedor e a empresa o cliente que a contrata para prestar este serviço por cujo desempenho deverá ser responsabilizada.
O raciocínio, para mim, é lapidar. A empresa sempre é a cliente e o empregado sempre é o fornecedor.
As portas das empresas parecem ter-se transformado em portais com o mágico poder de inverter as regras do relacionamento entre cliente e fornecedor.
Se a empresa contrata uma pessoa para pintar seu escritório, esta pessoa é um fornecedor. Se dias depois contrata esta mesma pessoa como sua funcionária para trabalhar no departamento de manutenção fazendo o mesmo serviço, será que ela se transforma cliente? No primeiro ato deste drama paradoxal, a empresa tem todo o direito como cliente de exigir um trabalho perfeito dentro do que foi contratado e até mesmo de suspender o pagamento em caso de atraso, imperícia ou desídia. No segundo ato, é a pessoa que passa a ter todo o direito de reclamar da empresa como se esta estivesse lhe vendendo alguma coisa e não comprando como de fato acontece.
Isto se deve à nossa cultura empresarial do coitadismo. É uma inversão de valores fruto de uma legislação trabalhista eivada de ideologismos que considera o empresário como um tirano e o empregado como sua vítima, esquecendo todo o trabalho e as muitas noites mal dormidas dedicadas a construir uma empresa e, como consequência, crescer e gerar empregos.
A pessoa quase sempre é vista como a parte fraca do relacionamento, dependente da empresa, plena de direitos e carente de deveres, para cuja satisfação ou até mesmo na esperança de que se motive para bem realizar aquilo pelo que foi contratada e pelo que é paga segundo acordo previamente estabelecido entre as partes, a empresa investe em benefícios, comodidades e até mesmo em departamentos especializados com profissionais altamente remunerados que trabalham exclusivamente voltados para a satisfação e bem estar das pessoas, ouvindo suas queixas, dando suporte psicológico, criando novos benefícios e, em suma, fazendo de tudo para que as pessoas se sintam felizes e satisfeitas.
Já imaginaram se isto acontecesse em qualquer outro relacionamento negocial fora dos portais das empresas?
Seria muito interessante ver filas e mais filas de clientes voltando às lojas, aos supermercados, aos bancos, aos consultórios médicos, odontológicos ou advocatícios preocupadas em saber se os donos destas entidades estão se sentindo bem, se estão motivados ou se não estão precisando de algum suporte psicológico. E caso constatassem a existência de algum foco de insatisfação passassem a oferecer apoio ou até mesmo mais dinheiro pelo produto comprado ou pelo serviço contratado mesmo que os mesmos não tenham funcionado a contento?
Não sei se se trata de equívoco ou burrice mesmo, mas se o cliente é o rei, como apregoado pelos gurus das negociações, a empresa é a rainha que deve ser respeitada e atendida pelo menos naquilo pelo que está pagando.
Como decorrência desta constatação lógica, os modelos de gestão precisam urgentemente ser repensados e reposicionados em um novo patamar muito mais profissional, justo e efetivamente negocial sem o que as empresas continuarão contabilizando prejuízos e perdas e as pessoas amargando sua infelicidade por se julgarem equivocadamente injustiçadas por aqueles que pagam pelos seus serviços.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias Atratoras, Porto Alegre, e autor do livro “Quando a empresa se torna Azul – O poder das grandes Ideias”.
www.fjacques.com.br -  fabio@fjacques.com.br



Texto de Brazil Journal - Jeff Bezos ensina como lidar com canalhas

“Dirty news”: sexo, poder e chantagem.
Pedro Arbex

O homem mais rico do mundo acusou um tabloide de extorsão e chantagem – transformando o que antes era uma mera fofoca sobre um caso extraconjugal de Jeff Bezos numa provável investigação criminal.
A ameaça feita pelo National Enquirer: publicar fotos íntimas que o fundador da Amazon teria enviado a sua amante, Lauren Sanchez, caso o empresário não cumpra duas condições.
A primeira: parar imediatamente as investigações sobre como o Enquirer teve acesso ás sua mensagens de texto, que deram origem ao furo do tabloide. A segunda: declarar publicamente que nem ele nem Gavin Becker, o investigador e segurança particular de Bezos, “tinham base ou conhecimento para sugerir que a cobertura da American Media Inc. [a dona do Enquirer] fosse influenciada por motivações políticas.”.
Esta exigência é uma resposta á entrevista dada por de Becker ao Daily Beast há cerca de uma semana, na qual o segurança disse que “evidências fortes apontam para motivações políticas na cobertura da AMI”.
O nome de Donald Trump não está diretamente envolvido no escândalo, mas o contorno político não pode ser ignorado. David Pecker, o dono da AMI, é um velho amigo do presidente, e sempre ajudou a ‘matar’ matérias desfavoráveis ao amigo.
Trump, por sua vez, odeia o The Washington Post – o jornal de Bezos – pela cobertura crítica que faz de seu governo.
A briga entre Bezos e o National Enquirer começou mês passado.
No mesmo dia em que Bezos anunciou seu divórcio de Mackenzie Bezos, sua esposa por 25 anos, o Enquirer deu capa para a notícia de um caso entre Bezos e LAUREN Sanchez, uma ex-âncora de TV. O curioso: o jornal citava mensagens de texto particulares trocadas pelos dois.
Logo após a publicação da reportagem, Bezos contratou os investigadores para descobrir como as mensagens foram obtidas e se havia alguma motivação por trás da cobertura.
A história começou a ganhar tons mais sérios semanas depois, quando Bezos foi avisado por um alto executivo do Enquirer que Pecker estava “furioso” com as investigações.
“Dias depois do aviso, fomos abordados com uma oferta. Eles falaram que tinham mais mensagens e fotos minhas, e que iriam publicá-las caso não parássemos nossa investigação,” Bezos escreveu no post publicado ontem à noite.
Na sequência, o time jurídico de Bezos recebeu dois emails assinados por Dylan Howard, o ‘chief content officer’ da AMI com uma descrição detalhada das fotos que o Enquirer supostamente tem em mãos e com os termos do acordo, incluindo as duas exigências.
“Ao invés de capitular à extorsão e a chantagem, decidi publicar exatamente o que eles me enviaram, a despeito do custo pessoal e do constrangimento com que me ameaçam,” escreveu Bezos. “Se na minha posição eu não puder resistir a esse tipo de chantagem, quantas pessoas podem?”
O Enquirer alega que asa fotos tem ‘valor jornalístico’ porque o affair de Bezos supostamente informa as pessoas sobre sua capacidade de tomar decisões como empresário. (Try again, Pecker!).
O National Enquirer sempre fez jornalismo de sarjeta, mas o nível da lama está subindo.
O tabloide é investigado por promotores federais por supostos pagamentos feitos antes da eleição de para silenciar uma mulher que alegava ter tido um caso com Trump, a modelo Karen Mcdougal.
O Enquirer comprou os direitos de publicação da história assegurando que as alegações não seriam compartilhadas com outros veículos, e, em seguida, nunca publicou a reportagem – uma prática conhecida como “catch and kill.”