O pré-candidato ao Planalto pelo Psol, Guilherme
Boulos, afirmou no programa Roda Viva, da TV Cultura, que “a maioria
do alimento que chega na mesa do povo brasileiro não vem do agronegócio, vem da
agricultura familiar”. Está certo isso?
Não, está errado. O número correto é 25%. Quem garante é
o prof. Rodolfo Hoffmann, conceituado economista agrário. Trabalhando com os
dados do Censo Agropecuário do IBGE, o professor da Esalq/Unicamp tomou por
base o valor monetário, e não os volumes físicos (toneladas), gerado no campo.
Sua conclusão foi precisa: “a afirmativa de que a
agricultura familiar produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil não tem base
e, pior, não tem sentido. A afirmativa é falsa. O valor monetário de toda a
produção da agricultura familiar corresponde a menos de 25% do total das
despesas das famílias brasileiras com alimentos. ” Confira seu
ensaio.
Conclusão: é totalmente fake dizer que 70% dos alimentos
do Brasil sejam produzidos pela agricultura familiar. Jamais se descobriu
qualquer estudo acadêmico que embase essa informação, corrente na internet. De
onde, então, surgiu esse fatídico número?
Em 2012, o IBGE divulgou uma tabulação especial, baseada
nos levantamentos do Censo Agropecuário de 2006, mostrando que a agricultura
familiar respondia, entre outros gêneros, por 83,2% da produção de mandioca,
69,6% da produção de feijão, 33,1% da produção de arroz em casca e 14,0% da
produção de soja. Esses eram os números reais.
Daí, então, algum iluminado assessor do Ministério do
Desenvolvimento Agrário, comandado na época pelo PT, preparou um documento
onde, sem mostrar nenhuma metodologia, e para valorizar o programa de reforma
agrária, colocou que 70% do alimento advinha dos agricultores familiares. O
número mágico virou discurso oficial da esquerda.
Intrigado, o prof. Hoffmann decidiu pesquisar o assunto.
Embora ligado ao PT, os ideólogos da esquerda fingiram que não leram seu
trabalho. Ficaram quietos, e fizeram a luta política mascarar o conhecimento
técnico. Criou-se assim um dos mais poderosos ‘agromitos’ utilizados no Brasil.
Boulos não tem culpa pelo equívoco. Ele apenas repete o
mantra dessa esquerda irresponsável, que adora atacar o agronegócio. Na
essência, sua formulação diz que, voltada para a exportação, a agricultura
empresarial não produz comida para os brasileiros. O equívoco é brutal.
Tome-se o caso da soja. Muitos dizem que essa oleaginosa
apenas se destina ao mercado externo quando, na verdade, dela se extrai o óleo
consumido pela maioria da população brasileira. Óleo de soja representa um
alimento básico nas mesas das famílias mais pobres. Os ricos consomem óleo de
girassol, canola ou milho.
Na indústria processadora, após o esmagamento para
extração do óleo, resta o farelo de soja. Extremamente proteico, esse
subproduto é componente essencial –chegando a atingir 60%– das rações que
alimentam as granjas de aves e suínos.
Acontece que da carne de frango produzida no país, 69,8%
são consumidas (2016) aqui no mercado doméstico; nos suínos, o consumo interno
foi de 81,4% da carne produzida. Ou seja, sem a soja do “agronegócio” a nossa
população não comeria frango assado ou costelinha da feijoada, nem o ovo, a
linguiça, o pernil, o filé de peito, nada disso.
Tem mais. Especialmente no Sul do país, grande parte das
lavouras de soja é conduzida por milhares de pequenos agricultores, que
cultivam área entre 30 a 100 hectares. São produtores rurais enquadrados no
PRONAF, o programa oficial de apoio aos familiares do campo. Seu nível de
tecnologia e produtividade, entretanto, se equipara ao dos produtores gigantes
de Mato Grosso. Embora familiares, têm o agronegócio na veia. Qual o segredo? O
cooperativismo. Pequenos, juntos, ficam grandes, e fortes.
Conforme diz o professor Hoffmann, “não é necessário
criar ‘estatísticas’ sem sentido para mostrar a importância da agricultura
familiar no Brasil”. Eu arremato: nem inventar mentiras contra o agronegócio.
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