- O autor é advogado no RS.
Face as históricas diferenças sociais e econômicas
vigentes em nosso país, infelizmente ainda duradouras, muitos cidadãos entendem
que as cotas deveriam ser sociais e não raciais. Sem dúvida, uma opinião
sustentável e respeitável.
Todavia, não podemos deixar de reconhecer que a questão
do negro (escravidão) é uma herança nacional negativa e que devemos superar
pelo sistema de cotas raciais, na falta de alternativa melhor.
Com a experiência infanto-juvenil de quem cresceu e
conviveu na Vila Schulz e imediações (Santa Cruz do Sul), historicamente
habitados por expressiva população negra, e convivendo com colegas e amigos
pobres, muitos descendentes negros, digo mais em defesa das cotas raciais.
Estas famílias de vilas e periferias (negros,
principalmente) são pobres desde sempre. Não tem bens para receber em herança,
nem para distribuir, por que não houve acumulação patrimonial familiar. Bisavô
e avô pobres, pai e filho pobres.
Não tem como pedir emprestado dinheiro algum para alguém,
por mínimo que seja. A exemplo da família, o vizinho também é pobre, o amigo é
pobre, o tio e o primo são pobres.
O ator negro da globo, Milton Gonçalves, disse certa vez
o seguinte: “Quero ver os negros com dinheiro no bolso!” Nunca esqueci esta
frase. Concordo com ele.
O racismo é outro assunto. É uma questão cultural e
educacional. Na maioria dos casos sem solução. Não é a toa que é catalogado
legalmente como crime.
Aliás, não é defeito exclusivo dos brasileiros racistas.
Mundo afora, em todas as comunidades, há expressões e comportamentos de racismo
e discriminação. De todas as cores da pele, origens étnicas e geográficas!
Então, se a eliminação do racismo e dos preconceitos é
mais difícil e complexa porque inerentes a condição, circunstância e
contradição humanas e grupais, a amenização e superação da condição
socioeconômica adversa, do negro, por exemplo, nosso caso, é imediatamente
viável e eficaz como política pública e de estado.
Conseqüentemente, considerada a eficácia da política de
cotas raciais, a crescente ascensão educacional, social e econômica permitirá a
imposição política do sujeito a partir de sua evidente inclusão produtiva e
capacidade de consumo de bens materiais e culturais.
Finalmente, nunca esqueçamos que o método e a prática da
escravidão se fez presente quase que em todas as comunidades humanas ao longo
dos tempos, independentemente de origens geográficas, étnicas e cores da pele
das vítimas.
No caso brasileiro, a desumanidade se praticou contra
índios locais e negros de origem africana. E esta é a nossa dívida social. E
que precisa ser honrada e resgatada.
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