Infelizmente, lemos na ZH desta quarta-feira um diálogo
fictício, peça subliterária pretensamente engraçada e crítica, na qual um
acusado estaria a falar com seu advogado sobre hipotética condenação e seus
inúmeros recursos, em troca (Gran Finale) de honorários. Esse diálogo,
claramente, tenta vender a ideia de que recorrer de uma decisão judicial é algo
de má-fé, contra a cidadania e “coisa de advogado”. Tal pensamento não possui
clara noção do que seja justiça.
Surpreende que tal texto tenha sido escrito por um juiz
federal, posto que afronta a harmonia das instituições desmerecendo e
desmoralizando não só as instâncias superiores do próprio Poder Judiciário,
como também, e sobretudo, fazendo pouco-caso de alguns direitos fundamentais
duramente alcançados pelos cidadãos, ao custo de muitas lutas, vidas e
sofrimentos.
Essa mensagem enfraquece o nosso Estado democrático de
direito, algo do qual a OAB/RS historicamente, ao lado da cidadania, vem
lutando pela plena aplicação. Quando falamos especificamente da prisão antes do
trânsito em julgado, estamos, sem dúvida, ignorando o direito de Ampla Defesa
e, na sua esteira, o Princípio da Presunção de Inocência e o do Duplo Grau de
Jurisdição.
Querer que decisões sejam definitivas e aplicáveis de
imediato, sem chance de revisões que apontem para erros, é coisa de quem não
erra nunca. Enquanto são apenas homens e mulheres a julgar os processos
judiciais, temos que ter a convicção de que qualquer cidadão pode ser vítima de
uma sentença injusta, e esse tipo de injustiça, assim como todas as demais, tem
poder de fogo para colocar o mal no altar e a santidade no inferno.
O que a OAB faz, e continuará fazendo com seriedade, é
lembrar que existem juízes em outros graus de jurisdição, inclusive em
Brasília, e que todo cidadão sempre terá o direito de bater às suas portas para
pedir que se corrijam as decisões açodadas, arbitrárias ou simplesmente
equivocadas, um risco à liberdade de um inocente. Nesse sentido convém lembrar
mais uma vez que a advocacia deve ser respeitada e preservada, pois uma
advocacia forte significa uma cidadania protegida no seu direito.
Todo cidadão terá direito se tiver dinheiro.
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