Posted on junho 20, 2016 by Tribuna da
Internet
Carlos Newton
O método de atuação da força-tarefa da Operação Lava Jato
é intrincado e às vezes necessita de tradução simultânea. Fala-se muito em
delação premiada da Odebrecht, mas isso não existe. Não há um acordo amplo que
envolva toda a empresa. A delação premiada é um benefício individual, embora
possa ser concedido em grupo, como está acontecendo agora, com os procuradores
solicitando delação premiada para três executivos simultaneamente, porque estão
indiciados no mesmo inquérito.
No caso da Odebrecht, maior corporação envolvida na Lava
Jato na condição de agente corruptor, a delação mais importante será de seu
ex-presidente Marcelo Odebrecht, embora a força-tarefa nem espere dela maiores
novidades, porque apenas confirmará outros depoimentos já concedidos.
Ainda há um impasse e a delação premiada somente será
aceita se Marcelo Odebrecht der informações adicionais sobre o envolvimento
direto do ex-presidente Lula da Silva e da presidente afastada Dilma Rousseff
no esquema de corrupção. Há outras exigências da força-tarefa, mas estas duas
são as principais, consideradas indispensáveis ou “condições sine qua non”,
como dizem os juristas.
EMILIO SE DESESPERA – O empresário Emilio Odebrecht,
pai de Marcelo, está desesperado e não entende por que o filho ainda reluta em
revelar o que sabe sobre as atividades ilegais de Lula e Dilma.
Foi por ordem direta de Emilio Odebrecht que os
executivos da empreiteira já informaram a força-tarefa sobre o tráfico de
influência que Lula fazia em benefício do grupo, especialmente no exterior.
Revelaram também que Lula era remunerado através de supostas palestras de sua
empresa, a consultoria LILS, e do Instituto Lula, que recebia patrocínio
constante. Além disso, confirmaram que a Odebrecht fazia doações legais e
ilegais (caixa dois) às campanhas eleitorais do PT, a pedido de Lula e Dilma.
Também a pedido do patriarca Emilio, os executivos
revelaram que a presidente Dilma realmente nomeou o procurador Navarro Ribeiro
Dantas para o Superior Tribunal de Justiça, com a missão específica de libertar
Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez.
O ÚNICO A FAVOR – O fato concreto é que Ribeiro
Dantas foi efetivamente nomeado por Dilma para ocupar a vaga do desembargador
Newton Trisotto, provisoriamente na cadeira e que era relator e vinha votando
contra a soltura dos presos da Lava Jato.
E no julgamento do habeas corpus que pedia a liberdade de
Marcelo Odebrecht, o neoministro Ribeiro Dantas, como relator, foi o único dos
cinco integrantes da turma do STJ a votar pelo “sim”, e o fez com um entusiasmo
constrangedor, digamos assim.
Agora, Navarro está sendo investigado pelo Conselho
Nacional de Justiça por ter sido citado na delação do ex-senador Delcídio
Amaral, que confirmou a nomeação do ministro como parte de estratégia do
governo para soltar Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo.
MARCELO AINDA RELUTA – Um ano se passou, o
empreiteiro Otavio Azevedo conseguiu delação premiada, já foi solto e está
revelando tudo o que sabe. Os executivos da Odebrecht cumprem as ordens do
patriarca Emilio, estão fazendo importantes depoimentos e até ensinando a
força-tarefa a operar o programa de computador do chamado “Departamento da
Propina”. Mas o recalcitrante Marcelo Odebrecht ainda reluta, levando ao
desespero sua família.
O patriarca Emilio Odebrecht até já se ofereceu para
depor, mas não adianta, porque ele não está sendo investigado e a delação
premiada só pode ser feita oficialmente pelo filho Marcelo.
De toda forma, falta pouco, muito pouco mesmo, para
Marcelo Odebrecht ceder e revelar, em plenitude, como na verdade Lula da Silva
e Dilma Rousseff se comportaram ao exercer a Presidência da República. E aí é
que a Lava Jato vai pegar fogo.
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