A mudança de governo foi a melhor notícia econômica do
terceiro trimestre – a melhor e uma das poucas positivas. Ainda em recessão, a
economia afundou 0,78% em relação ao trimestre anterior, segundo o Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) divulgado na quinta-feira
passada. O indicador até subiu 0,15% de agosto para setembro, mas seria um
exagero falar em retomada do crescimento. Deve ter sido mais um modesto
repique, insuficiente para compensar a queda acumulada nos dois meses
anteriores. O resultado dos nove meses de 2016 foi 5,19% inferior ao de janeiro
a setembro de 2015. A queda chegou a 5,42% em 12 meses. O IBC-Br é usado como
prévia do balanço trimestral do Produto Interno Bruto (PIB). O balanço do
período de julho a setembro deve sair no fim de novembro. O dado mais amplo
poderá ser diferente do estimado pelos técnicos do BC, mas o quadro geral
parece já estar bem caracterizado. Os dados setoriais já publicados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) parecem ter confirmado a
continuidade da retração.
Os economistas do BC mantêm, por enquanto, a previsão de
um PIB 3,3% menor em 2016 que no ano anterior. A estimativa coincide com as
últimas projeções do mercado e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O
desemprego de 12 milhões de pessoas, a quebradeira de muitas empresas, o
aumento da inadimplência e o agravamento da crise fiscal, por causa da redução
da receita de impostos, são os efeitos mais sensíveis da recessão.
Mas a crise econômica produziu pelo menos dois efeitos
positivos. Os preços passaram a subir mais lentamente e já se prevê para o
próximo ano uma inflação bem mais próxima da meta oficial de 4,5%. Além disso,
o comércio de bens voltou a dar saldo positivo e o déficit na conta corrente do
balanço de pagamentos diminuiu consideravelmente. Visto mais de perto esse
resultado fica menos bonito, porque a melhora é explicável principalmente pela
redução das importações, uma consequência da recessão.
Empresários e até consumidores começaram a mostrar mais
otimismo, ou menos pessimismo, segundo pesquisas de várias instituições,
algumas semanas antes da conclusão do processo de impeachment. O processo foi
encerrado em setembro, com o afastamento definitivo da presidente Dilma
Rousseff. A mudança efetiva de governo só ocorreu depois disso, quase no fim,
portanto, do terceiro trimestre. Só a partir daí se poderia falar de uma alteração
de política econômica sem risco de retorno.
Apesar da melhora de humor de empresários e consumidores,
indicada por várias sondagens naquele período, o ambiente político do período
de julho a setembro ainda foi caracterizado por muita insegurança. As primeiras
mudanças ensaiadas pelo presidente em exercício envolveram negociações
políticas difíceis e custosas. Embora as linhas básicas da nova orientação
estivessem definidas, era cedo para falar de mudanças definitivas. A
continuidade da recessão no terceiro trimestre parece combinar com esse quadro
político ainda carregado de incertezas.
Na melhor hipótese, a economia brasileira terá chegado no
terceiro trimestre ao fundo do poço. Com os números dos três meses finais de
2016 será possível conferir se isso ocorreu. Os poucos dados de outubro até
agora conhecidos, como os da indústria automobilística, deixam ainda alguma
dúvida sobre o fim da queda. Mas será necessário um conjunto maior de
informações para uma avaliação segura.
Se a atividade tiver chegado ao fundo, os brasileiros
terão mais uma notícia animadora. Mas nada permite apostar num início de
recuperação neste fim de ano. Mesmo as perspectivas de 2017 parecem menos
entusiasmantes do que até há algumas semanas. Isso se explica pelas condições internas
de demanda, ainda muito fracas, e pelas incertezas derivadas da eleição de
Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Se um número razoável de
congressistas brasileiros pensar seriamente sobre esses dados, a tarefa de
reconstrução econômica ficará um pouco menos difícil para o Executivo.
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