Pauta moral
Professor de Filosofia
Por: Denis Rosenfield
Mais de meio milhão de brasileiros foram às ruas clamando
pela ética na política, pela moralidade na administração da coisa pública. Os
cidadãos não mais aguentam a corrupção e a apropriação privada e partidária dos
recursos públicos, que pertencem à sociedade sob a forma de impostos,
transferidos compulsoriamente para o Estado.
Cabe a este administrar os bens da sociedade, sem o que o
próprio fato de cidadãos pagarem impostos, contribuições e taxas não teria
nenhuma significação. As ruas hoje fiscalizam a utilização destes recursos.
Trata-se de um dado incontornável, ao qual os políticos em geral não têm
prestado a devida atenção.
O Brasil mudou. A classe política não acompanhou esta
mudança. Permanece esta arraigada a práticas patrimonialistas que não são mais toleradas
pela sociedade. Há uma espécie de estranhamento da cidadania que não se
reconhece em seus representantes.
Prova disto consiste nas manobras operadas na Câmara dos
Deputados e na Presidência do Senado para desvirtuar as 10 medidas contra a
corrupção, que contaram com amplo respaldo popular. A operação consistiu em
iniciativas de parlamentares, muito deles investigados e sob a mira da Lava-
Jato, que procuraram, desta maneira, salvar a própria pele.
A inoportunidade das iniciativas foi completa. No momento
em que estamos prestes a conhecer os detalhes das delações da Odebrecht, há uma
evidente tentativa de impedir que políticos envolvidos sejam responsabilizados
por seus crimes.
Evidentemente, o pacote de medidas contra a corrupção
exigiria uma análise mais cuidadosa, porém exige o bom senso que não sejam os
investigados os responsáveis por tal tarefa. Não possuem a qualificação moral
necessária. E a moralidade tornou-se uma condição da política no Brasil.
As bandeiras das ruas foram "Contra a corrupção",
"Fora Renan" e "Fora Maia", personificações, no caso,
daquilo que não deveria ter sido feito. Aliás, esses presidentes exibiram uma
ausência completa de sintonia com o que sente e pensa a sociedade brasileira.
O descompasso é total. Se persistirem nesta via, o meio
milhão de participantes facilmente atingirá alguns milhões em pouco tempo. Se
isto ocorrer, marcharemos inexoravelmente para uma crise institucional.
Enquanto isto, Lula e Dilma, dois ex-presidentes, dão
adeus a um dos mais sanguinários e repressores ditadores, Fidel Castro.
Sentirão, certamente, saudades. A reação moral da sociedade brasileira não lhes
diz respeito. Não escutam as ruas. Faz sentido!
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