Joabel Pereira: Manaus, massacre e oportunismo
Jornalista
Já se disse que um dos maiores problemas do nosso país é
a consagração dos "profetas do acontecido". No entanto, ao acompanhar
o noticiário envolvendo o ocorrido na capital do Amazonas, surge um subproduto
tão ou mais assustador que o próprio massacre: o oportunismo.
É claro que a situação do sistema prisional brasileiro é
péssima, da mesma forma que a permissividade legislativa e o formalismo de
decisões judiciais se tornam um incentivo à deterioração interna e externa.
Dentro dos presídios pela "administração" de facções, fora deles,
pela efetivação das ordens que os "batizados", familiares e
defensores, cumprem e que se materializam nos furtos, roubos e homicídios.
O massacre de Manaus é etapa semifinal do domínio do
crime sobre a sociedade. A partir daí, só a barbárie geral, com as organizações
criminosas ganhando condição formal e institucional, infiltradas nos setores
que deveriam governador e administrar o país.
A comprovação dessa possibilidade e da incapacidade de
mudança no organizar e agir em defesa da sociedade está na desfaçatez com que o
"caso Manaus" é tratado.
Revolta ouvir de todos os setores, citados para não
deixar dúvida: governo do Amazonas, Ministério Público do Amazonas, TCE do
Amazonas, Polícia Federal, Ministério Público Federal, Ministério da Justiça e
Poder Judiciário, este, da Vara de Execuções ao STF, que tudo era conhecido.
Assim, estamos diante da mais evidente e declarada omissão
suscetível de penalização, no mínimo com o afastamento de todos os que sabiam e
nada fizeram para prevenir. Ou, muito pior e bem mais provável, temos o mais
apurado caso de oportunismo.
Dói ver e ouvir relatos de levantamentos e informações
que anunciavam que se tratava de uma bomba prestes a explodir e nada foi feito
para evitar. Revolta a naturalidade com que representantes de todos os setores
referidos se mostram preocupados e interessados em soluções que não
implementaram, a tempo de evitar o pior.
Decididamente, omissão e oportunismo parecem as duas
faces de uma mesma moeda, a do escárnio à sociedade e suas necessidades. São
elas que engordam a demagogia e fortalecem a certeza de que o próximo massacre
fará esquecer o que estamos testemunhando.
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