O Estado capturado
Professor de Filosofia
Por: Denis Rosenfield, em Zero Hora
As chacinas e massacres das prisões brasileiras denotam,
antes de mais nada, uma ausência de Estado. O sistema carcerário faz parte do
sistema estatal, independentemente de sua administração ser terceirizada para o
privado.
Sua função consiste em assegurar a vida e a segurança dos
que, por seus crimes, são afastados do convívio social. Devem ser mantidos à
parte da sociedade, sem que isto signifique, porém, que sua vida possa estar em
risco. O direito à vida é um princípio do Estado, valendo igualmente para os
detentos.
Contudo, a situação carcerária está indo simplesmente
além de uma omissão do Estado por revelar uma captura de todo um setor estatal
pelo crime organizado.
Não se trata de uma mera escaramuça entre detentos, mas
de uma luta de facções dentro dos presídios pelo seu controle; ou seja, estamos
diante de uma luta pelo poder, reflexo de uma luta pelo narcotráfico em todo o
território nacional.
Observe-se que não se trata de uma luta entre o crime
organizado e os agentes penitenciários ou policiais, mas de uma luta interna
entre as organizações criminosas. É como se os policiais e agentes
penitenciários não mais existissem.
O Estado foi capturado. É como se o Exército em uma
batalha militar tivesse evacuado um território por tê-lo perdido, passando este
a ser controlada por seus inimigos.
Ora, trata-se de uma situação extremamente grave, com o
Estado não podendo mais assegurar a qualquer cidadão o direito à vida, à
segurança.
Se, de um lado, o Estado perdeu o controle dos presídios,
de outro, perdeu o controle das ruas. Homens e mulheres não mais conseguem
caminhar livremente nas cidades brasileiras. Não podem circular em carros ou
ônibus, pois são acossados diariamente pelo crime.
O Estado tampouco consegue proteger adequadamente as suas
fronteiras, com as organizações criminosas introduzindo livremente no país
drogas e armamentos. Lá também se trava uma guerra que não tem merecido a
atenção devida.
Estamos diante de uma situação muito perigosa, com o
Estado deixando progressivamente de agir, abdicando de seus
"territórios".
O Estado do Rio de Janeiro, em particular, é um símbolo
do que pode, amanhã, ocorrer em qualquer cidade brasileira. Foi capturado pelo
crime. Até um ex-governador está preso, dada a enormidade da corrupção
praticada.
A falência do sistema carcerário pode ser mais uma
manifestação de uma séria desestruturação do Estado brasileiro.
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