Cavalos e Porcos
A paulatina e agressiva destruição do estado
brasileiro, e por consequência a deterioração da própria sociedade, era
completamente previsível para quem conhece um mínimo da literatura política
universal.
Por exemplo, é inevitável cogitar a atualidade do pensador
político russo Mikhail Bakunin (1814-1876) e destacar sua celébre frase: “Tão
logo se tornem governantes ou representantes do povo(...) não mais
representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem
duvida disso não conhece a natureza humana."
Parenteses: Bakunin foi o principal pensador e
propagador do anarquismo. Uma teoria política que almejava criar uma sociedade
que funcionasse sem hierarquias políticas, econômicas e sociais.
Defendia a ausência de governos, na suposição de
que um sistema social só funcionaria com a maximização da liberdade
individual e da igualdade social. Pregava o anti-autoritarismo, o mutualismo e
o princípio descentralizador.
Afirmava que a centralização da autoridade e do
Estado criavam um obstáculo ao desenvolvimento das pessoas e das
nações.
Profeticamente, afirmara: "(...) o governo da
imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada(...),
tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, (...) pôr-se-ão a observar
o mundo proletário de cima do Estado".
Faz muito tempo que os brasileiros são "os
cavalos de carga" do estado brasileiro, literalmente transformado na
fazenda da "Revolução dos Bichos", do escritor ingles George Orwel
(1903-1950). Ou seja, os (cavalos) brasileiros são comandados pelos porcos. Tal
qual na obra orweliana!
Mas como a esperança se renova, sempre haverá tempo
de reflexões e mudanças. O filósofo alemão Juergen Habermas(1929), a propósito
da crise do estado de bem-estar social e do esgotamento das energias utópicas,
pergunta se “dispõe o estado intervencionista de poder bastante, e pode ele
trabalhar com eficiência suficiente para domesticar o sistema econômico
capitalista no sentido do seu programa?
E será o emprego do poder político o método
adequado para alcançar o objetivo substancial de fomento e proteção de formas
emancipadas de vida dignas do homem?”
Prossegue e responde Habermas: “Trata-se, pois, em
primeiro lugar, da questão dos limites da possibilidade de conciliar capitalismo
e democracia, e, em segundo lugar, da questão das possibilidades de produzir
novas formas de vida com instrumentos burocráticos-jurídicos.”
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