O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, enviou à
presidente Dilma Rousseff, por meio do governador de Minas Gerais, Fernando
Pimentel (PT), documentos que demonstravam o caixa dois em sua campanha de
2014. O objetivo seria demonstrar que a petista não estava blindada na crise de
corrupção que se instalou em seu governo e pressioná-la a tomar providências
quanto ao avanço da Lava Jato.
O relato foi feito pelo ex-diretor de Crédito à
Exportação da Odebrecht Engenharia e Construção João Nogueira em depoimentos à
Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele descreveu uma série de encontros com
Pimentel no fim de 2014 para tratar de estratégias para evitar que as
investigações levassem o governo petista e a empreiteira a uma debacle. Na
época, o petista havia acabado de se eleger governador, após um período de
pouco mais de três anos como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior.
Segundo Nogueira, Marcelo Odebrecht viajou a Belo
Horizonte em 17 de dezembro de 2014 a lá se encontrou com Pimentel. Naquela ocasião,
teria apresentado ao petista o material sobre os repasses ilegais à chapa
Dilma-Michel Temer. A questão é hoje objeto de uma ação de cassação por abuso
de poder econômico e político no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"O que o Marcelo disse foi que tinha passado uma
mensagem à presidente Dilma, porque o Pimentel era muito próximo dela: a
comprovação, por meio de documentos, de que contribuições com recursos não
contabilizados tinham sido feitas à campanha", afirmou o colaborador,
explicando que o chefe visava a "catalisar uma atitude" do governo.
"Eram tempos já desesperadores", acrescentou.
O delator explicou que o recado foi levado a Dilma,
conforme lhe teria dito o próprio Pimentel numa conversa posterior, também em
BH. Dilma teria pedido a Giles Azevedo, um de seus auxiliares mais próximos,
para ficar "em cima do tema contribuições".
O delator não soube informar sobre eventuais providências
do governo após o aviso de Marcelo Odebrecht. Um dos objetivos da empreiteira
era que o Planalto atuasse para que uma reclamação apresentada pela Engevix
contra o juiz Sérgio Moro fosse aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
fazendo com que a Lava Jato fosse avocada pela Corte, o que não ocorreu.
Os depoimentos de Nogueira constam de pedido de inquérito
apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para avaliar
possível tentativa de obstrução de Justiça. O relator da Lava Jato no Supremo,
ministro Edson Fachin, determinou o envio do caso ao Superior Tribunal de
Justiça (STJ), que avaliará se há elementos para a abertura de uma
investigação. Ele também autorizou a remessa de cópias dos depoimentos à
Justiça Federal no Paraná.
Conforme o relato do colaborador, a Odebrecht também
estava preocupada com a Operação Acrônimo, recém-desencadeada pela Polícia
Federal, que poderia alcançar tanto Pimentel quanto a empreiteira. "Tenho
amigos olhando, isso não vai longe", teria dito o petista ao executivo.
No fim do ano passado, após o avanço das investigações, o
governador e Marcelo Odebrecht foram denunciados por corrupção. O petista é
acusado de receber propina de R$ 12 milhões para favorecer a empreiteira quando
ministro. O petista nega.
Outro lado
Procurada nessa sexta, a assessoria de Dilma reiterou o
teor de nota já divulgada, na qual alega ser mentira que tivesse conhecimento
de "quaisquer situações ilegais que pudessem envolver a Odebrecht e seus
dirigentes, além dos integrantes do próprio governo ou mesmo daqueles que
atuaram na campanha da reeleição".
"Após meses de insinuações, suspeitas infundadas e
vazamentos seletivos de acusações feitas indevidamente por dirigentes da Odebrecht,
finalmente Dilma Rousseff terá acesso a íntegra das declarações. Não
conseguirão atingir a sua honra e a sua vida pública, porque tais acusações são
mentirosas", diz o comunicado.
Em nota, o advogado Eugênio Pacelli, que defende o
governador de Minas, afirmou que, sobre esses fatos, "parece muito fácil
demonstrar que o delator nada diz de concreto". "Afirma ter mandado
recado' à ex-presidente, recado esse que seria a comprovação de que ele poderia
se transformar em um delator, se algo não fosse feito. Pela lógica dele, nada
se fez. Transformou-se em um. Melhor: no principal delator", diz a nota.
"O governador Fernando Pimentel esclarece que sempre
teve consciência da impossibilidade de qualquer interferência política na
condução da Lava Jato. E foi esse o seu comportamento desde sempre. Tanto o
juiz Sérgio Moro, quanto os membros do Ministério Público Federal são
constitucionalmente independentes e não podem sofrer qualquer tipo de
influência em seus atos. Jamais relataram algo nesse sentido em relação ao
governador", completa. O advogado também diz que é importante ressaltar
que também não houve iniciativa legislativa da ex-presidente para qualquer fim
contrário às investigações. "Precisamos de mais fatos e menos
boatos!", finaliza.
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