Gilmar Mendes faria um favor a si mesmo
e, sobretudo, ao país se tratasse de marcar encontros com princípios
abandonados em algum lugar do passado
Por Augusto Nunes
“Recuso o papel de coveiro de prova
viva”, resumiu o ministro Herman Benjamin no fecho da monumento à verdade que
ergueu em meio às ruínas da Justiça. “Posso até participar do velório, mas não
carrego o caixão”, completou o relator do julgamento da chapa Dilma-Temer no
Tribunal Superior Eleitoral.
Com o apoio de dois ministros do Supremo
Tribunal Federal, indiferente a provocações, apartes impertinentes, risos
debochados e sussurros cafajestes, Benjamin acabara de devassar com comovente
altivez a catacumba repleta de canalhices protagonizadas pela dupla que fez o
diabo para ganhar a eleição de 2014.
Ele soube desde a primeira linha da
surdez obscena do trio de súditos afinado com o solista no comando. Mas
entendeu que precisava mostrar a milhões de brasileiros o que seria enterrado
nesta sexta-feira. E deixar claro que ainda há juízes mesmo em tribunais
infestados de espertalhões e sabujos trajando togas puídas nos fundilhos.
O que falta é mais gente decidida a
avisar nas ruas, aos berros, que o Brasil decente não se deixará intimidar
pelos poderosos patifes que teimam em obstruir os caminhos da Lava Jato.
Refiro-me à verdadeira Lava Jato, representada por Sérgio Moro, não à caricatura
parida em Brasília por Rodrigo Janot.
A gargalhada de Gilmar Mendes na
primeira página da Folha deste sábado comunica que o nada santo padroeiro de
amigos em apuros continuará tentando marcar encontros com o que chama de
“prisões alongadas ocorridas em Curitiba”. Faria um favor a si mesmo e,
sobretudo, ao país se marcasse encontros com princípios e valores abandonados
em algum lugar do passado. Quase todos podem ser localizados no histórico voto
de Herman Benjamin.
Não será difícil ao atarefado Gilmar
Mendes achar tempo para a tentativa de reencontrar a Lei, a Verdade e a
Justiça. Basta suspender por algumas semanas encontros com bandidos de
estimação e com agentes funerários especializados no sepultamento de provas do
crime.
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