Precisamos falar sobre o serviço público
Astor Wartchow
Advogado
Ultimamente, umas das perguntas mais recorrentes entre os cidadãos é a
seguinte: como é possível que a Receita Federal e o Banco Central - que
fiscalizam física e digitalmente o mais modesto contribuinte - não tenham
percebido com competência e rigor, ao longo dos últimos anos, as transferências
bilionárias nacionais e internacionais?
Como é possível que volumes extraordinários de dinheiro vivo tenham sido
sacados e movimentados quando se sabe que "na boca do caixa"
são feitas exigências e perguntas várias para o cidadão ao movimentar qualquer
"merreca"?
Precisamos falar sobre o serviço público. Exemplo mais recente: os funcionários
do BNDES foram à frente do prédio em protesto contra a recente operação da
Polícia Federal. Por que? Com tanto e exibido zelo, onde estavam durante o
manipulado e continuado saque?
Vale o mesmo argumento aos funcionários da Petrobrás e demais estatais. Não
zelaram pelo patrimônio público, nem mesmo pelos próprios fundos de pensão complementar,
agora "quebrados", igualmente manipulados e saqueados através das
aquisições suspeitas e volumosas no mercado de ações.
A rigor, não há nada de novo no saque continuado da nação. Muda a retórica a
pretexto de ideologias e mudam os inocentes úteis. Mas nossa nação continua
prisioneira das corporações do mastodôntico estado brasileiro.
Invariavelmente, as práticas e omissões se repetem no legislativo, no
executivo, no judiciário e nos demais órgãos públicos. Todos "ilhas"
de privilégios e direitos ditos adquiridos e intocáveis. Mas, preocupados
apenas com o próprio "umbigo"!
O triste momento que vivenciamos não exige apenas a rediscussão e reexame dos
poderes de estado, da organização política e administrativa, mas, sim,
sobretudo, da vocação e qualidade do serviço público nacional.
Afinal, como é possível que haja tantos e continuados saques e atentados contra
a administração pública e os interesses nacionais diante dos olhos de uma
apregoada apta, selecionada e concursada dita elite de servidores
públicos?
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