Os crimes da mala e o cadáver do Brasil
Em 1928, em São Paulo, um imigrante italiano, Giuseppe
Pistone, estrangulou sua mulher Maria Mercedes, que o denunciara como
trambiqueiro. O que fazer com o cadáver? Pistone serrou-o pelas pernas,
espremeu-o numa mala e despachou-o para um destinatário inexistente em
Bordeaux, França. Ao ser içada a bordo do navio Massilia, em Santos, a mala
abriu acidentalmente e revelou-se o seu conteúdo. Pistone foi preso e condenado
a 31 anos. Cumpriu 13, saiu e até se casou de novo.
O caso passou à história como “o crime da mala”, embora
não fosse o primeiro nem o último com esse nome. Há cinco anos, também em São
Paulo, uma mulher matou a tiros o marido, executivo de uma grande empresa
fabricante de pipoca. Experiente em enfermagem, ela o esquartejou e o
distribuiu por três malas com rodinha, que enfiou no carro e levou até Cotia
para se desfazer. Foi apanhada e presa. E este também não será o último caso do
gênero.
Um novo tipo de crime da mala está em curso no Brasil.
Consiste em esquartejar os escrúpulos e rechear malas, não com o que restou
deles, mas com dinheiro ilícito. O caso mais flagrante é o do ex-deputado
Rodrigo Loures, destacado pelo presidente Temer como seu “homem de confiança”
para se entender com os amigos da JBS — e, dali a dias, filmado ao receber uma
mala numa pizzaria e, assustado, tomar um táxi com ela no colo. A mala continha
R$ 500 mil em espécie e soube-se depois que ele a escondeu na casa da mãe.
Na sequência, Fred Pacheco de Medeiros, operador e primo
do senador Aécio Neves, também foi filmado acomodando em malas R$ 500 mil da
mesma e generosa JBS. E, antes deles, o notório ex-tesoureiro do PT João
Vaccari Neto era tão useiro em rechear mochilas com dinheiro que seu apelido
era “Mocha”.
Em todas essas malas e mochilas, vai, aos pedaços, o
cadáver do Brasil.
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