Gustavo Grisa: um país sem agenda?
A agenda brasileira ainda é uma versão requentada das
reformas realizadas na década de 1990
* Advogado
É preocupante constatar que, enquanto se centra o debate
nacional em disputas de curto alcance e uma repulsa quase generalizada à classe
dirigente, temos um descolamento temático da resolução de problemas e da busca
de oportunidades para o Brasil. São esquecidos os temas estratégicos, o nosso
lugar no mundo em meio ao turbilhão e às perspectivas de uma eleição de 2018
tumultuada com muito moralismo, clima pós-crise, e, talvez, um ínfimo espaço
para os temas realmente críticos para o país.
Além da agenda política e do debate pré-eleitoral, há
necessidade premente de discussão de conteúdo, de uma agenda nacional. É
preciso que os agentes públicos ou candidatos a agentes não fujam de assuntos
polêmicos.
A agenda brasileira ainda é uma versão requentada das
reformas realizadas no mundo na década de 1990. Existem questões temáticas
nacionais que precisam ser definidas e discutidas em uma perspectiva que vai
além do show midiático e dos discursos polarizados: o tamanho do Estado, as
contas públicas, o regime do funcionalismo, a seguridade social que realmente
podemos ter; a flexibilidade no trabalho, políticas consistentes de segurança
pública e a inserção do país na quarta revolução industrial e sua realidade
econômica. Quais os caminhos para buscar e se garantir prosperidade? Como
manter a sociedade resiliente e sustentável, continuar a melhorar o padrão de
vida dos brasileiros? Ciência, tecnologia, cultura e meio ambiente são
realmente assuntos de terceiro plano?
Será que a evolução das redes sociais e do engajamento da
nossa sociedade assegurará um mínimo debate e construção temática no período
pré-eleitoral e eleitoral? Ou continuaremos a assistir a improvisos e a uma
gestão populista e genérica em que coalizão é sempre mais importante do que o
conteúdo, as prioridades? Continuaremos a ter nossos rumos construídos ou
arbitrados por vagamente iniciados nos temas? Que ninguém se engane. Política
também se faz com um mínimo de policy. E, sem policy, sem agenda, não
se renova instituição, o Brasil não avança.
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