Artigo, Tito Guarniere - Janot já vai tarde
Rodrigo Janot já vai tarde. Ele será lembrado mais pelo
que Gilmar Mendes diz dele - o mais desqualificado dos procuradores gerais - do
que podem pensar seus admiradores, se é que ainda existem.
Janot desmoronou em meio a ações temerárias, intoxicadas
de incúria técnica e de uma visão tosca das instituições. Há pessoas que não
sabem lidar com o poder e descambam para o terreno perigoso da soberba. Com o
tempo, ao invés de redobrar o cuidado que deve presidir as suas iniciativas,
perdem o senso de medida, ignoram as próprias contingências e talvez sem
perceber, passam a violar regras, limites, valores.
Foi o que o procurador fez com o presidente Michel Temer.
Os petistas e quem mais for, como Chico Buarque e Caetano Veloso, têm o direito
de defender a narrativa (a palavra está se tornando insuportável) de que Temer
é um golpista. Mas o procurador não pode aderir, com instrumentos legais que só
ele dispõe, ao "fora, Temer". Não se trata de Temer, mas da
instituição Presidência da República.
Há regras severas até para mandar gravar um cidadão
comum. Porém Janot, que celebrou o acordo de delação com Joesley Batista e o
ministro Fachin, do STF, que homologou, deram procuração, com o selo da
Justiça, ao réu confesso de mais de 200 delitos para gravar o presidente.
Fizeram as duas autoridades o que não é permitido ao
presidente da República fazer: gravar um cidadão sem o seu consentimento.
Inebriados de poder, não perceberam que estavam indo longe demais, tinham
vazado todos os limites, celebrando um acordo - uma conspiração, poderia dizer
- com um notório delinquente, para grampear nada menos do que um chefe de Poder.
O Ministério Público, é bom lembrar, dentre 10 medidas de
combate à corrupção, propôs ao Congresso Nacional o teste de probidade de
servidores públicos. A medida fascistoide - jamais cogitada nem na ditadura -
não chegou a ser aprovada. Mas Janot e Fachin decidiram por conta e risco
inaugurá-la antes do tempo, e de forma triunfal: com o próprio presidente da
República. Não lhes faltaram aplausos de setores da mídia e da opinião pública,
moralistas de ocasião, afeitos a um linchamento moral. Esses setores passaram
ao largo do preço pago pela patranha ousada, o prêmio da delação, nada menos do
que o perdão perpétuo dos delitos praticados.
A operação tinha furos e mais furos e não se desdobrou
como o planejado. Temer, a duras penas e sabe-se lá a que preço, se manteve na
presidência, resistindo ao bombardeio da mídia, rede Globo à frente e de hordas
de justiceiros exaltados.
O próprio Janot, para não se complicar ainda mais, veio a
público para revelar novos furos da operação. A delação dos Batista e dos executivos
da JBS contou com o "apoio técnico" de Marcelo Miller, ex-procurador.
Miller, que até bem pouco tempo era o braço direito de Janot, passou a ser o
braço direito dos Batista. Trabalhou dos dois lados do balcão, e obteve o
acordo fantástico que isentou os Batista dos seus crimes, dando-lhes salvo
conduto para a fruição feliz dos seus bens e das suas fortunas.
Rodrigo Janot foi o protagonista principal de um dos
episódios mais sórdidos desta época de tanta sordidez.
titoguarniere@terra.com.br
Tenho a impressão que existe também um forte componente ideológico e político-partidário nas ações, não só do Janot, como também de outros membros da PGR. Isso precisa ser esclarecido um dia.
ResponderExcluirHá muita coisa para desvendar nessa complexa rede de trambicagem. Tomara que a nova procuradora tenha uma atuação digna e ética como exige o cargo!!
ResponderExcluirO pior cego é aquele que não quer ver.
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