Renato Sant'Ana - A jogada de Janaína


         Sob pressão de críticas, os governos se aprimoram (se tiverem juízo). E quando blindados a crítica, como nos regimes totalitários, marcham para o desastre. Bolsonaro não tem, pois, que ser blindado. Aliás, bom seria que fosse mais criticado. E menos atacado.
          Pois a deputada estadual de primeiro mandato Janaína Paschoal (PSL-SP), eleita com uma avalanche de votos pela notoriedade de quem assinou o requerimento de impeachment de Dilma Rousseff e pelo apoio ao candidato Bolsonaro, usou o Facebook para espinafrar o presidente da República.
          Para examinar a postura de Janaína, é útil recorrer ao chavão de comparar a política com o xadrez: não adianta idealizar um final de torre e dama se as peças não estiverem presentes. Quer dizer, joga-se com o que se tem.
          É assim com a política. Gostaríamos, por exemplo, de ter um presidente com o perfil de Winston Churchill e de contar com um Congresso Nacional confiável. Mas a realidade com a qual jogar é outra: temos um presidente impulsivo e de metáforas sofríveis e um parlamento inqualificável.
          No xadrez, movem-se as peças, projetando alguns lances adiante e conjecturando acerca da reação do adversário. Na política é igual, ainda mais num quadro de práticas predatórias como o nosso. Tanto num quanto noutro, os jogadores agem regidos por um "para que", cada ato direcionado a uma finalidade. Claro, há também a hipótese do autoengano: basta agir apenas em base a um "porquê", identificando causas úteis a justificar inclusive os próprios erros.
          Esta é a questão: "para que" Janaína (do partido governista) entrou nessa de lavar roupa suja nas redes sociais? Que efeito esperava produzir? Desconhecerá a partida que está sendo jogada?
          Nos dois flancos da bipolaridade nacional, todos admitem que há uma guerra em andamento, embora alguns finjam não ver a truculência dos que se opõem às desejáveis mudanças. A escória do chamado Centrão aliou-se à esquerda revolucionária para emparedar Bolsonaro e inviabilizar o governo - pouco importando as consequências para o país. Os primeiros querem forçar o governo a fazer negócio - leia-se fatias do orçamento e distribuição de cargos -, enquanto os outros cuidam de impedir que Bolsonaro tenha cacife eleitoral em 2022.
          Como se vê, há um dilema, uma inevitável escolha entre, por um lado, a governabilidade do país e, por outro, o fisiologismo que o Centrão pontifica em conluio com a esquerda. Não resta muro para empoleirar-se!
          Mas Janaína, que sempre criticou a prática do "toma lá, dá cá" (o "modus operandi" do Centrão), além de ignorar o dilema, dá a impressão de ainda não ter compreendido que, na sua posição, todas as manifestações públicas são movimentos no tabuleiro da política, em favor próprio ou, errando a mão, em proveito do adversário.
          E, imitando a impulsividade do presidente em redes sociais (coisa que ela critica), a neófita vocaliza a retórica dos seus presuntivos adversários, dizendo que Bolsonaro "terá que parar de fazer drama para TRABALHAR!", como se ele estivesse inerte. Se ele está fazendo menos do que deve ou aquém do que pode é um bom tema de discussão. Mas não há como negar que já se tomaram várias medidas de impacto transformador.
          E aqui surgem dois fatos que passam batidos para Janaína. Um é a tática de guerra que amplifica as patacoadas de redes sociais do presidente e apoiadores imediatos, produzindo a falsa impressão de que não há governo. O outro é que nosso presidencialismo tabajara obriga a que praticamente todos os atos do Executivo sejam submetidos ao Congresso Nacional, onde todas, todas as iniciativas do governo vêm sendo atacadas pela aliança do Centrão com a esquerda.
          Mas o zelo aqui não é pela pessoa do presidente Bolsonaro, senão pela governabilidade do país. Ninguém, com noção de democracia, faz apologia de governo algum. Janaína só é criticada por mover as peças no tabuleiro em estranha coincidência com os que querem um Brasil ingovernável.

Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.

3 comentários:

  1. Excelente texto, Políbio! Votei na Janaína e estou p. da vida - ela não trabalha - não fez nada na ALESP, nunca criticou o João Doria (que não trabalha e já faz campanha para Presidente em 2022) e vive criticando o Presidente Jair que trabalha e muito. Primeiro, Janaína tem que mostrar serviço na ALESP e vigiar o Governador de SP - João Doria - Ela é deputada estadual de SP e este é o papel dela!!! Como uma pessoa pode ser tão cara de pau???

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  2. Dizem existir vários tipos de inteligência, acho que existe a inteligência política (ou a falta dela). Janaína não possue inteligência políca, por isso tem se equivocado nas suas análises. Também percebo esse problema em vários deputados recém eleitos, eles querem trabalhar pelo Brasil e apoiam o presidente, mas têm apanhado feio dos profissionais. Este é um preço a ser pago para a renovação política de que necessitamos, com o tempo pessoas com melhor inteligência política e boa índole serão eleitas, é o que espero.

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  3. Começo com o "Excelente texto" da postagem de "pabulq"; concluo com: é isso aí gente: BRASIL ACIMA DE TUDO!....

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