Artigo, Marcelo Aiquel - O "tal" do clima de perseguição

       Eu nunca vi, nestes mais de 60 anos de vida, alguém que tenha “culpa no cartório” não se julgar perseguido ao ser denunciado.
      Até o reles ladrão de galinhas reclama do Delegado que o prendeu: “Dr.,por que somente eu vou preso? E os outros?” diz o meliante ao ser capturado.
      Este lamento significa que – antes de demonstraruma confissão explícita de culpa – o delinquente sempre se acha injustiçado.
      Pergunte para qualquer policial que você conheça se isto não é verdade.
      Daí que, saltando de patamar, trocamos a figura do “ladrão de galinhas”, aquele que pratica o crime de bagatela–também considerado pela doutrina e jurisprudência atual como “delito insignificante” – pelo assaltante de fortunas – comumente como adjetivamos os meliantes de colarinho branco, especialmente os envolvidosnos recentes escândalos de corrupção.
      O que diferencia os dois tipos? Ora, é tão somente o resultado do furto: enquanto o “ladrão de galinhas” furta para comer; o “ladrão de casaca” – e não estou me referindo ao conhecido personagem de ficção Arsène Lupin – furta para enriquecer.
      Mas, as diferenças acabam por aqui, pois o sentimento de injustiçadoé comum a ambos os tipos de meliantes.
      Traduzindo isto para os dias de hoje, assistimos – já nem tão estupefatos, diante da “rotineira normalidade” com que as notícias estão sendo divulgadas – alguns personagens importantes da República tentar justificar seus delitos (muitos deles, gravíssimos) com o pífio argumento de estar sofrendo uma perseguição orquestrada e injusta.
      Ora, o que estamos assistindonão se trata de nenhuma “perseguição ideológica”, mas sim apenas uma BEM ORGANIZADA perseguição policial,motivada pelas robustas evidências (quando não são fartas provas) da prática continuada de crimes financeiros.
      E tais evidências não foram escancaradas pela imprensa golpista, nem pela oposição raivosa, como alegam as “vítimas”. Também não o foram descobertas e expostas por coxinhas revanchistas, que supostamente desejariamum 3º turno das eleições.
      Voltando ao foco do artigo, esclareço que – até prova em contrário – todas as evidências foram levantadas durante a BEM ORGANIZADA investigação policial, com a indireta colaboração dos denunciados que, confiantes na impunidade que gozavam, foram sempre muito relapsos em suas condutas.
      A soberba destes “ladrões de casaca”explica o comportamento absolutamente desidioso, descuidado, e imprudente, que tem mantido.
      Afinal, a quadrilha imaginava estar acima da lei e da justiça, portando-se como os novos apóstolos do enviado de Deus.
      Só esqueceram que, na hora de “dividir os delicados...”, havia na mesa do banquete mais de um Pilatos. Se apenas um bastou para trair Cristo, e sem delações premiadas, coloquem vários deles sob o jugo da mão firme do juiz Sérgio Moro. O resultado é óbvio...
      Então foi criada a operação Lava a Jato.Até para compensar a frustração no final das investigações do Mensalão.
      E daí, a cada nova denúncia, aparece a “teoria da perseguição orquestrada”!
      Defendida (a citada teoria) pelos canalhas de sempre...

      Marcelo Aiquel – advogado (24/02/2016)


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