Lula tem motivos de sobra para aparecer abatido,
deprimido, preocupado, como atestam as fotos feitas na área externa do palácio
do Planalto, por ocasião da saída de Dilma.
O rastreamento de suas pegadas pela operação lava jato, a
aprovação do impeachment e as nuvens ameaçadorasque pairam no seu horizonte
político e no seu partido são motivos de sobra para seu estado de espírito.
Creio, entretanto que há outras razões e, provavelmente
mais graves e difíceis de lidar, que passam despercebidas.
Refiro-me às relações de Lula e Dilma e, curiosamente, às
condições políticas do criador e da criatura no futuropróximo.
Dilma, por uma daquelassituações imprevistas que se
constituem na política ganhou com o impeachment, uma liberdade que antes não
tinha: não precisa mais fazer o que não sabe e, ainda por cima, fingindo que
sabe -governar.
Não corre mais o risco de presidir o país em meio ao caos
econômico e político.O jogo do poder empurrou-a para a guerrilha política
novamente, talvez a única forma de política que sabe jogar, restabelecendo uma
continuidade que fora rompida na década de 70.
Por guerrilha política entenda-se um conflito político
(não militar) feito de escaramuças pontuais para desgastar o inimigo,
enfraquecê-lo e conquistar o poder.
Atente-se para o que ela ganhou com o afastamento
compulsório provocado pelo processo de impeachment.
Ganhou um inimigo – Temer e seu governo;ganhou os meios
de combate – veículos, casas, recursos para viajar dentro do país e no
exterior, acesso aos meios de comunicação, auxiliares pagos; ganhou uma causa –
lutar contra o golpe em nome da democracia que ela não precisa
justificar;ganhou tambémum tema emocional para mobilizar apoio – sua
vitimização; ganhou ainda aliados no Brasil e no exterior, o suficiente para
produzir fatos, notícias e declarações; ganhou uma condição mais protegida que
Lulaem relação à ameaça da operação lava jato; e ganhou um partido que, goste ou não, terá que fazer
dela a sua bandeira.
Lula, contrariamente à Dilma, será obrigado a “jogar na
defensiva” e a ofensiva que lhe restará será apoiar Dilma...
Apoiar Dilma é o que ele tem feito, contrariando seus
desejos e ambições. Apoiou de mau grado – segundo se diz - na eleição que desejava disputar; apoiou ao
oferecer seus auxiliares mais próximos (Wagner, Berzoini)para ajuda-la no
governo, apoiou ao aceitar tornar-se chefe da casa civil do seu governo – uma
nítida posição de inferioridade – e apoiou ao se instalar no Hotel Royal Tulip
para conseguir votos para ela na Câmara e no Senado.
Ao aceitar a posição subalterna e ao pôr sua reputação,
prestígio e esforço à serviço da luta contra o impeachment, Lula deu-lhe o
reforço de legitimidade – dentro do PT e na esquerda – com o qual ela poderá
remove-lo da liderança do partido.
Se Dilma conseguir evitar o impeachment (o que até agora
parece pouco provável) não precisará mais de Lula ao seu lado e, ao contrário,
Lula talvez seja então um peso a carregar. Ela terá ocupado o espaço do comando
do PT, por ter logrado uma vitória em condições muito difíceis e, mais ainda,
poderáherdarde Temer um Brasil certamente melhor, no rumo do crescimento e da
estabilização.
Se non è vero, forzeè bene trovato.
"lutar contra o golpe em nome da democracia que ela não precisa justificar". Esse Francisco Ferraz nem se deu ao trabalho de colocar golpe entre aspas. Ele acredita mesmo que o impeachment é golpe?
ResponderExcluirLamentável as deduções desse escritor por todos os aspectos... Primeira e última vez que perco tempo lendo seus escritos.
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