A partir da próxima semana, fora a jabuticaba, haverá
outra coisa para chamarmos de nossa: a presidente da República afastada por um
golpe que comparece ao último ato do seu julgamento para se defender diante de
golpistas. Se for absolvida, dirá que derrotou o golpe. Se for condenada, dirá
que foi vítima dele. Em seguida, embarcará para uma temporada de férias no
exterior porque ninguém é de ferro.
A única invenção brasileira reconhecida em fóruns
internacionais é a duplicata mercantil. Data da época em que Dom João VI
transferiu para o Rio de Janeiro a sede do império português.
Nem o avião é reconhecido como uma invenção do brasileiro
Santos Dumont que morava em Paris e que, ali, fez sua geringonça decolar pela
primeira vez no início do século passado.
Na verdade, não há registro confiável de que a jabuticaba
tenha primeiro brotado aqui antes de se espalhar por outros países de clima
tropical. De forma tal que a presidente, capaz de acreditar na força dos seus
argumentos para convencer os golpistas a não golpeá-la, poderá, e com justa
razão, passar, sim, à História da política universal como algo originalmente
brasileiro.
Não só a presidente. Também o golpe transmitido pela
televisão e comandado no seu desfecho pelo presidente do Supremo Tribunal
Federal, a mais alta corte de Justiça do país.
Previsto na Constituição que a presidente jurou defender,
o golpe é chamado ali de impeachment, e serve para destituir do poder o
governante que tenha cometido crime de responsabilidade.
Dilma acha que não cometeu crime algum. E para abortar o
golpe, valeu-se de todos os recursos lícitos e ilícitos. Empenhada em preservar o mandato e seus direitos
políticos, bateu à porta da Justiça algumas dezenas de vezes, sem sucesso.
E também sem sucesso à porta de deputados e senadores
oferecendo cargos, liberação de dinheiro para obras públicas e outras
vantagens.
Poderia não ter feito nada disso uma vez que se tratava
de um golpe, não de um processo de impeachment regulado pela Constituição e
acompanhado de perto pela Justiça. Debitemos tamanho equívoco, porém à sua
ingenuidade.
Deve ter imaginado que seria possível vencer o golpe
participando ativamente de todas as suas fases. Não estava só. Procederam
igualmente assim todos os que a apoiam.
Sua ida ao Senado para depor e ser interrogada pelos
senadores investidos da condição de juízes, será a prova definitiva para quem
ainda carecia de alguma de que Dilma jamais foi alvo de um golpe. Como Fernando
Collor não foi.
Como Itamar Franco e Fernando Henrique não teriam sido, tantas
foram as vezes que o PT quis derrubá-los pela mesma via usada para se derrubar
Dilma agora.
Collor caiu sob a suspeita de ser corrupto. Depois foi
absolvido pelo Supremo, voltou à política e aliou-se a Lula e a Dilma. Está
sendo investigado pela Lava-Jato sob a suspeita de ser corrupto.
Dilma cairá porque desrespeitou a Lei Fiscal e gastou
muito além do que estava autorizada a gastar pelo Congresso. Deve celebrar a
sorte de cair antes de novas delações que acabarão por comprometê-la.
Na raiz da queda de Collor e de Dilma está a perda de
apoio político para que seguissem governando. Perderam apoio porque
infelicitaram o país a tal ponto que as ruas se voltaram contra eles e, sob o
ronco delas, os partidos.
Demos graças a uma democracia tão repleta de defeitos
como a nossa, mas mesmo assim capaz de garantir pelo voto a troca de
governantes.
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