Por longos e tristes anos, empresários brasileiros
mantiveram lucrativos negócios na África, que só cessaram com o fim da
escravidão. Passam-se os tempos e os bons negócios voltam - para alguns
brasileiros, para alguns africanos. Até um bom dinheirinho na conta de Eduardo
Cunha, lembra-se? foi atribuído à venda de carne moída brasileira, enlatada,
para a África.
O Quadrilhão, por enquanto o principal processo da Lava
Jato, que envolve Lula, o sobrinho de sua primeira esposa, e a Odebrecht, tem
tudo a ver com a África - exceto o dinheiro, que passa por lá e volta para os
bolsos já preparados para recebê-lo (e distribuí-lo). A Exergia, empresa
energética do sobrinho, foi criada, segundo a Polícia Federal, apenas para
receber e destinar corretamente os pixulecos da Odebrecht. O sobrinho tinha
metade de uma empresa de fechamento de varandas. Criou a Exergia, que firmou 16
contratos com a Odebrecht, financiados pelo BNDES. E sua vida mudou: viagens,
jatinhos, gastos exuberantes, contatos com estadistas.
Um desses estadistas é o presidente de Angola, José
Eduardo dos Santos. Seu país é rico, tem petróleo e diamantes; seu povo é
pobre, vivendo com cerca de R$ 7 por dia; sua filha é a mulher mais rica da
África. E deste relacionamento, diz a investigação, R$ 31 milhões sobram para o
sobrinho do homem. Acompanhe o julgamento do Quadrilhão, que pode levar à
prisão um ex-presidente e líder popular. Mas tem muito mais.
O caminho das pedras
Os diamantes, pedras pequenas e valiosas, fáceis de
esconder, sempre foram as favoritas de quem quer contrabandear dinheiro. E
consta que Angola, ainda bem relacionada com Portugal, seu ex-colonizador, e
com países como Cuba, faz parte do ciclo de movimentação de valores. Se
depósitos bancários são monitorados e arrestados, dinheiro embutido em
financiamentos internacionais circula com muito mais segurança e garantia.
O Banco Espírito Santo baseou suas operações no triângulo
África, Brasil, Espanha; mas cometeu uma série de irregularidades graves. Na
mesma época, uma senhora que costumava viajar no avião presidencial brasileiro
sem constar na lista de passageiros foi várias vezes à África, e daí a
Portugal. Rumores, até hoje não comprovados, citavam a entrega de pacotes e
caixotes, talvez lembranças, a funcionários do banco.
E dizia-se que qualquer problema no Espírito Santo se
refletiria no pai e no filho.
Registrado
Todas as histórias estão narradas no relatório da CPI do
BNDES. Veja tudinho em "Como Lula operou na África", de Cláudio Júlio
Tognolli, http://tognolli.tumblr.com/ É grande, mas fascinante. Compensa ler.
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