Afinal, o que fazia a Cientec?

Afinal, o que fazia a Cientec?

A Cientec foi extinta junto com outras fundações e estatais pelo governo Sartori, como parte de um pacote de redução de custos proposto pelo executivo gaúcho e aprovado na Assembleia Legistativa na semana passada.

Carlos Martins.

A Fundação Piratini era um das que tinha mais visibilidade no grupo: era responsável pela TVE e Rádio Cultura. A Fundação de Economia e Estatística tinha defensores apaixonados no meio econômico e a Zoobotânica entre os amantes da natureza.
Talvez uma das menos conhecidas do grupo fosse a Cientec, focada na área de Ciência e Tecnologia. 
Nas tardes tórridas de dezembro em Porto Alegre a minutos do recesso de final de ano, uma pessoa pode ser perdoada por passar algumas horas pesquisando, o que, afinal, acontecia no Ceitec.  Foi o que eu fiz.
Em primeiro lugar, não foi fácil descobrir os feitos da Cientec. Na página inicial, há quatro destaques: o aniversário de 74 anos da Fundação; a notícia de que a Cientec teve papel decisivo no ganho de causa para o Estado no caso Ford;  a auditoria de um servidor público na Índia e Emirados Árabes para fiscalizar uma empresa sino-indiana que fornece tubos para Corsan e o DMAE, e finalmente uma ação promovida para conscientização da Saúde do Homem, na qual o palestrante recomenda que se coma mais frutas e legumes e também a prática de esportes. 
Indo um pouco mais a fundo, o relatório de gestão de 2015 explica que a Cientec foi criada em 1942 por iniciativa de engenheiros vinculados à construção de estradas. Na época parece que era uma necessidade o desenvolvimento, teste e medição de materiais de construção. 
Em 2015, a Cientec emitiu 9.911 laudos (média de 39 por dia útil) e 43.459 serviços tecnológicos. Não fica claro o que seriam esses 171 serviços tecnológicos realizados a cada dia. Parece bastante, contudo.

Há também uma incubadora com duas sedes. Em Porto Alegre, dos 11 slots dedicados a start-ups, 6 estavam ocupados em 2015. Já em Cachoeirinha, dos 18 slots, apenas 4 estão em uso. Consta no relatório que 3 incubadas se graduaram em 2015, ainda que a meta definida pelo Governo Sartori fosse 4.  As seguintes empresas se graduaram1 em 2015: Presentech, UpControl e DS PRO AUDIO. 
De uma maneira geral, houve queda nos indicadores de 2014 para 2015. Por essas e outras razões,  a incubadora estava passando por uma reestruturação interna para alinhar sua gestão aos mandamentos da ANPROTEC.
Lendo mais atentamente o relatório de gestão de 2015 e o histórico da companhia, vai ficando claro que a Cientec atuava com mais afinco à prestação de serviços para a área pública e privada, nas áreas de tecnologia metal-me1cânica, geotecnia, engenharia de edificações, materiais de construção civil, química, alimentos, engenharia de processos, e engenharia eletroeletrônica. Do total de serviços prestados, 81,6% foi para a iniciativa privada. A receita total de serviços em 2015 foi de 10,8 milhões de reais. 
Entre os projetos de  pesquisa, desenvolvimento e inovação, destacam-se aqueles voltados à indústria carvoeira, com 8 projetos no total de 10. Isso talvez não agrade muito quem é contra a geração elétrica a partir da queima de combustíveis fósseis. Destes, 4 projetos contavam com financiamento do CNPq,  3 com recursos próprios e um projeto era financiado diretamente pela Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), subsidiária da Eletrobras (é sem acento).  Os outros dois projetos de PD&I estão relacionados a sistemas de navegação marítima.
Há também os chamados “Estudos Especiais”, que eram desenvolvidos sempre em parceria com alguma universidade. Estes, em sua maioria, destinados à pesquisas na área química, principalmente em bicombustíveis. Havia 23 projetos desta modalidade em 2015. Ademais, há os projetos de execução de serviços, conforme mencionado anteriormente. 
240 funcionários compõem o quadro de recursos humanos. Apenas um era “cargo de confiança” em 2015. A idade média dos empregados é de 53,3 anos. Não encontrei, em mais de 4 horas de pesquisas, dados consolidados sobre a situação financeira da estatal. O relatório curiosamente não informa as despesas e gastos totais da organização. Contudo, informa que a produtividade média de cada funcionário em 2015 (receita de serviços dividida pela força de trabalho ativa) foi de R$ 48.039,80. Fazendo uma conta “de padaria”, poderíamos assumir que, caso a média salarial exceda o valor de R$ 3.700,00 (provavelmente excede), a empresa incorre em prejuízo operacional. Isso sem considerar os impostos sobre o trabalhador, férias, inativos, previdência...
É inegável que a Cientec presta um serviço para a sociedade. Sua linda história, contudo, não é garantia de vida eterna. Resta saber como que as atividades que ela vinha desenvolvendo (e não me pareceu muito em termos de desenvolvimento tecnológico) vai ser absorvido pela comunidade. 
* Carlos Martins é graduado em Comércio Exterior e pela Unisinos e estuda Economia na UFRGS. Já trabalhou para governos estrangeiros como consultor e analista de mercado.1 



Um comentário:

  1. Aqui se exalta outra característica do estatismo: A PRETENSÃO e a falta de contato com o dia-a-dia!.Porque não se dedicar a temas mais modestos? Mais pé no chão do Brasil? Porque? Porque a finalidade é só dar emprego e não obter resultado.
    Isso me faz lembrar meus tempos de estudante no ITA. Eu, basbaque estudante, me maravilhei com o IPD, Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento. Procurava-se na época um metal para substituir válvulas em circuitos integrados. Era a jóia da coroa. Todo mundo pesquisava. O Brasil, os militares da Aeronáutica também pesquisavam. Pesquisavam o Germânio como substituto. Fortunas foram gastas e... foram ultrapassados por aqueles meninos da Califórnia. Ao invés do caríssimo Germânio, substituíram por, por ...AREIA.
    Silício.
    Como um estado com centros de pesquisa totalmente divorciados do circuito científico mundial vai competir no mais requisitado item de pesquisa acadêmico? Um estado cujas universidades começam a ser ranqueadas depois do numero 235 (a USP)? (o ITA é fora do gráfico).
    Minha sugestão: Pesquisar o modo de vida dos habitantes do planeta XYZ235. Esse planeta não existe? E dahi? É só para dar emprego, é só para subornar a classe acadêmica e científica e embasbacar estudantes ingênuos!

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