TITO
GUARNIERE
TRUMP
MOSTRA AS GARRAS
Sempre
achei que a linguagem tosca, os ataques grosseiros contra adversários reais e
imaginários, os chiliques em série, fossem truques de campanha. Candidatos são
assim em todo o mundo: personagens de si mesmos, fazem qualquer negócio e
desempenham qualquer papel para vencer a eleição.
Só
os candidatos derrotados guardam coerência com o que dizem em campanha. O
vencedor negaceia e desconversa sobre o que prometeu. Pois Donald Trump quebrou
o protocolo e, eleito presidente, dobra a aposta e reafirma cada ponto das
bandeiras que empunhou, mesmo as mais atarantadas. Não se pode mesmo confiar em
políticos: até quando a gente calcula que eles tenham mentido, eles falaram a
mais pura verdade.
Trump
ganhou a eleição na contramão do “stablishment”, inclusive do seu próprio
partido. Com “feeling” apurado, capturou o sentimento de eleitores dos grotões
da América, e das regiões depauperadas pela globalização. Eles elegeram Trump:
os americanos ressentidos com a perda de “status” - mais do que a perda de
postos de trabalho, pois os Estados Unidos exibem um dos menores índices de
desemprego do mundo.
Culpados
da perda e decadência eram a globalização, a voracidade comercial da China, os
imigrantes, usurpadores dos empregos americanos. E por omissão e descaso,
culpados eram os velhos políticos de Washington, seus conchavos e manobras de
bastidores. Retórica rasa mas eficaz, para convencer as massas nostálgicas do
poder e da riqueza do Império (que, diga-se, jamais ficou menor) de que
deveriam chamar o xerife Trump: ele entendia as suas aflições e era o único
capaz de botar para correr os vilões.
Mas
não era só retórica, vemos agora. Era verdade! E aí o temos, rasgando como um
papel de peixaria, o TPP-Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica, tratado
de comércio que vinha sendo pacientemente costurado entre uma dezena de países
relevantes - Japão, Austrália, Nova Zelândia entre outros. De uma canetada
rompeu o trato, pela televisão, sem aviso prévio, tratando os parceiros com
desprimor e desrespeito.
E
reafirmou que irá construir o muro na fronteira com o México, para combater a
imigração ilegal. E quer mais, que o país vizinho pague a metade - coisa que o
México, com toda a razão, se nega a fazer. Trump ameaça com um míssil
econômico: se o México não pagar a sua parte, os EUA taxarão em 20% os produtos
mexicanos importados. O nome disso é chantagem, extorsão.
É
assustador. O presidente dos EUA age como uma prima-dona destemperada, um
ditador de república bananeira, que ignora nuances e sutilezas da diplomacia,
códigos de conduta e normas civilizadas do convívio entre as nações. Trump é o
Chávez da direita. Só que um é presidente da nação mais poderosa e rica do
mundo e o outro era o tiranete de uma república mambembe.
Trump
não está ameaçando apenas o México, as nações soberanas da TPP - cujo acordo
desfez como um velhaco vulgar -, os imigrantes hispânicos, e sabe-se lá mais
quem. Ele nos ameaça a todos. Retorna ao cenário mundial a imagem – que havia
abrandado com Obama – de uma América boçal, belicosa, abusando de seu poderio.
Não vai terminar bem.
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