Artigo, Tito Guarniere - Pauta única
Não há heróis e vilões. Os personagens da República
convulsionada, cada um deles a seu modo e estilo, exatamente como nós outros,
cometem erros e padecem de fraquezas e defeitos, e é claro, na outra ponta, têm
atributos e qualidades.
Não é exata a fronteira entre o pecado e a virtude, o bem
e o mal, o PSDB e o PT. Lamentavelmente, todos navegamos nos campos opostos,
isto é, somos capazes de agir com elevação e altruísmo, às vezes, e em outras,
talvez mais comuns, caímos e recaímos na submissão, na arrogância, na
mesquinharia, ou o que talvez seja pior, no ridículo.
Já é meio caminho reconhecer nossas imperfeições. Mas no
Brasil em catarse, entretanto, florescem como erva daninha hordas cada vez mais
agressivas, que não perdem seu tempo com dúvidas, eis que só têm certezas. Em
meio ao próprio alarido, não ouvem ninguém. Querem, ter direito à opinião e
também direito aos fatos. À menor contrariedade berram: "fascista"!
"lacaio"! "tucanalha"! "petralha!.
A turba (re)age aos arroubos e espasmos, como uma manada.
E tem para dar-lhe gás e força, os gurus lotados em postos chaves de blogs e
sites e nas salas de redação da grande imprensa.
As Organizações Globo (quase toda), sites como O
Antagonista, deitam o verbo com suas versões que beiram a inconsequência e o
facciosismo, ensandecidos na tarefa messiânica de "passar o país a
limpo". Não chegam a notar que a corrupção é, sim, uma chaga moral que nos
envergonha, que precisa ser extirpada, mas que tê-la como pauta única equivale
a olhar o Brasil de binóculo pelo lado errado.
Para esse time de jornalistas e hordas cheias de si, o
julgamento do TSE da chapa Dilma-Temer foi uma "vergonha". Mas
aplaudem o procurador geral da República que celebra acordo com um gânsgter
para gravar o presidente, em troca de uma indulgência plenária não para o
presidente, mas para o gângster.
Mas há quem traga luz ao debate. É o caso do ex-ministro
Delfim Neto, em artigo na Folha de São Paulo, quando adverte: "Estamos
numa crise real e enorme, apimentada por notícias transmitidas por imaginários
informantes em "off", que alimentam, em tempo contínuo, a
"intriga criadora". Parte da imprensa autopromoveu-se: de
"técnicos de futebol" que sempre foram a "competentes
jurisconsultos" que - sem dúvida alguma - "julgam" e
"escracham" votos de ministros do TSE, STJ e STF, sem o menor
respeito pelos seus conhecimentos e pela naturalidade do contraditório..."
E o jornalista Fernão Lara Mesquita, em artigo imperdível
para quem deseja entender o Brasil desta quadra, "O maldito
vira-casaca", no Estadão, ensina: "Há muito, já, que o crime aprendeu
a instrumentalizar a imprensa. Planta indignação para colher arbítrio (...).
Mas os jornalistas recusam-se olimpicamente a levar em conta esse dado a
realidade. Graças a isso, ao dolo que sempre rondou a operação desse poder
coadjuvante (o"4º") das repúblicas porque poder ele é, também a
leviandade do dono, a vaidade do repórter, a pusilanimidade do chefe e até a
competitividade das empresas passaram a pesar sem peias na equação que
transformou a arma mais temida na hoje mais acionada pelos inimigos da
democracia no Brasil".
titoguarniere@terra.com.br
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