* Professor de filosofia
Não é uma formulação séria arguir que Lula, condenado,
deveria disputar eleições.
A primeira experiência da esquerda no poder, no Brasil,
está, literalmente, tendo um fim jurídico-policial. De política, no sentido
mais nobre da palavra, pouco sobrou. Quando oposição, o PT apareceu como uma
esperança de transformação social e de ética na política. Sua bandeira era a da
limpeza moral e está sendo, agora, lavado pela Lava-Jato. De nada adianta
argumentar que fizeram o que todos fazem, uma vez que o partido foi eleito para
fazer diferentemente dos outros.
Não é nada trivial que um ex-presidente seja condenado
pelo que fez durante a sua gestão. E o foi, com uma sentença perfeitamente
argumentada e apresentada. As provas nela abundam, sendo de nenhuma serventia a
demagogia de quem se diz perseguido. Seus advogados jamais se debruçaram
verdadeiramente sobre o seu processo, preferindo a via política, como se essa
pudesse ser a sua salvação. Talvez não tivessem outra saída, pois a evidência
dos crimes os teria dissuadido de sua defesa. Em todo caso, escolheram a
tergiversação e não o esclarecimento.
Eleições não são feitas para a absolvição de criminosos.
Isto é tarefa da Justiça, independentemente do que os insatisfeitos pensem
dela. A escolha pelas urnas dos governantes e dos representantes políticos
segue todo um rito legal, tendo, entre outras condições, que os condenados em
segunda instância não possam disputar eleições.
A título de hipótese, considere-se que criminosos
pudessem disputar eleições. Narcotraficantes, dotados de grandes recursos,
poderiam, assim, escapar da prisão. Teriam um salvo-conduto, digamos,
"democrático". Logo, não é uma formulação séria arguir que Lula,
condenado, deveria disputar eleições de qualquer maneira. Seria nada mais do
que postular uma aliança entre o autoritarismo e a criminalidade.
O PT está na encruzilhada. Poderia ter optado por outra
via. Uma escolha possível poderia ter sido o reconhecimento dos crimes
cometidos, acompanhado de um pedido de perdão. Quiçá seus eleitores e
simpatizantes pudessem ter-se compadecido e atribuído esses crimes à sua
inexperiência no exercício do poder e aos desvios de seus dirigentes. Teria
sido uma aposta na renovação a partir de uma verdadeira autocrítica.
Contudo, o partido tomou outro caminho, o da negação, da
mentira e da falsidade. Está atrelando o seu destino a um líder que passará os
próximos meses, assim como passou os últimos, negando o que fez. Seu futuro
imediato será prestar contas à Justiça. E essa não dá sinais de arrefecer
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