E AGORA?
Assistindo a votação sobre o acolhimento ou não da denúncia contra o “golpista”
(segundo muitos bolivarianos) Michel Temer, lembrei-me do grande poeta Carlos
Drummond de Andrade e da sua incomparável obra “José”, mais conhecida como “E
agora, José?”.
Depois da verdadeira pantomima orquestrada por um grupo de deputados,
mais competentes a fazer baderna do que ter a postura digna de um parlamentar,
posso comentar sobre o verdadeiro show de hipocrisia que – horrorizado – vi
acontecer no plenário da outrora respeitada Câmara dos Deputados.
Começo
pela postura vergonhosa de alguns membros da nossa Câmara Federal, citando –
entre outros tantos – os petistas gaúchos Maria do Rosário, Paulo Pimenta e
Henrique Fontana. Estes foram alguns que, ao lado dos tradicionais anarquistas
do PSOL Chico Alencar e Ivan Valente, fizeram do plenário da Câmara um
picadeiro, ao comportar-se igual às piores torcidas organizadas dos clubes de
futebol – desrespeitando o ato solene aos gritos de Fora Temer, e atirando
papéis picados para cima.
Saber
encarar uma derrota com fidalguia é atributo para poucos e, certamente, estes
não podem jactar-se de possuírem esta qualidade.
Durante
a coleta dos votos individuais de cada deputado, houve momentos hilários, como
o da deputada Benedita da Silva (PT/RJ) ao “justificar” seu voto declarando que
Michel Temer causou o desemprego de milhões. Teria sido ele em poucos meses, ou
os governos do PT em anos?
O
caricato deputado Jean Wyllys também não poderia perder a oportunidade e atacar
o presidente Temer por segregar os negros, a população LGTB, os índios e até os
quilombolas. Quer dizer que somente agora, nos meses em que Temer governa o
país, há esta segregação? Quanta hipocrisia!
E tivemos
um deputado que votou lembrando os moradores de rua. Acreditem se quiserem! Não
bastasse tal despautério, este parlamentar apresentou-se diante do microfone (e
das milhões de pessoas que assistiam à votação pela TV) vestindo um chapéu que
remetia ao sambista Adoniran Barbosa. Isso em uma sessão solene da Câmara, e
sem cantar nenhum samba. Só mesmo rindo. Para não chorar...
Ah, e
ainda houve uma figura ridícula, um papagaio de pirata que estacionou ao lado
do microfone e fazia gestos e cara de experiente jurista a cada voto dos
colegas. Pelo amplo conhecimento jurídico demonstrado deveria estar sentado
numa cadeira do STF, e não pressionando seus colegas deputados.
E agora,
Globo? E agora, JN? E agora, petistas? E agora, bancada bolivariana?
Quais os
factoides irão criar para continuarem chamando a atenção?
Tivemos
também os fanáticos que aproveitaram os segundos de audiência gratuita para
lançarem LULA 2018 e pedirem DIRETAS JÁ.
LULA
2018 só se for numa cadeia!
E
DIRETAS JÁ, outra vez? Para um novo TEMER ser votado como vice do PT?
Sobre
isso, aliás, assistimos as duas maiores hipocrisias da noite: Enquanto meia
dúzia chamava o presidente Temer de “golpista”, e de não ter recebido nenhum
voto (isto depois da chapa Dilma/Temer ser considerada legalmente como uma só),
outros diziam que a ex-presidente Dilma era honesta, e que o atual presidente é
corrupto; esquecendo-se que ambos foram delatados pela mesma pessoa! Bota
hipocrisia nisso...
Quase
encerrando, um breve comentário: para quem achou que os 227 votos NÃO
representam apoio à volta do PT, quero lembrar apenas que Jair e Flavio
Bolsonaro também votaram NÃO.
Concluo
transcrevendo uma estrofe do poema JOSÉ, escrito pelo mestre Drummond, Carlos
de Andrade:
Sozinho
no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
E agora, José?
Este congresso, com raras exceções, está podre !!
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