Culpados somos todos


Astor Wartchow
Advogado
      Salvo episódicas ações incontroláveis da natureza, as tragédias têm na ação e omissão humana seu efeito disparador. Embora também sejam freqüentes os acidentes que decorrem de falhas técnicas dos equipamentos, independentemente da operacional intervenção e omissão pessoal.
      Tocante os incidentes nacionais, nos episódios de ação e omissão, seja na determinação da causa ou nas (falta de) ações de remediação das primeiras conseqüências, sempre se sobressaem os piores frutos de nossa aversão ao método: a incompetência e a negligência.
      Importa recordar o naufrágio da lancha Bateau Mouche e o desabamento do prédio de Sérgio Naya. A catastrófica aterrissagem do vôo da TAM no aeroporto “alagado” de Congonhas. O incêndio na creche de Uruguaiana e o mergulho do ônibus escolar na barragem de Erechim. E a incomparável tragédia da boate Kiss.
      A incompetência e a negligência são irmãs siamesas. Imprudência, incapacidade, inabilidade, inaptidão e não idoneidade na concretização de determinada obra e tarefa faz, em algum momento, toda a diferença. Negativamente!
      Regra geral, reagimos irônica e jocosamente àqueles que nos pedem cuidados preventivos, ações e controles predeterminados. Afinal, método e previsibilidade são monótonos, repetitivos e cansativos. Não rimam com nossa criatividade, nem combinam com nossa espontaneidade. Com o excêntrico e famoso “jeitinho”.
      “-Não vai acontecer nada!”, respondemos aos metódicos (ou chatos, como nos os chamamos) quando insistem e nos advertem. Mas, às vezes, acontece. E entre as milhares de ocorrências “anônimas” e sem vítimas graves, acontece, sim, a tragédia. 
      De uma forma ou de outra, somos todos inocentemente tolerantes e omissos. Em ásperas palavras, somos todos culpados. Basta olhar e observar ao redor com um mínimo de atenção. Quando não é nosso comportamento individual e coletivo inadequado e de alto risco, a exemplo do trânsito, são as obras inacabadas, mal-localizadas, não funcionais, precárias e inseguras. 
      Nossos desejos e nossas idealizações público-privadas não resistem a um crítico e seletivo exame. A realidade nos derrota diária e paulatinamente. E de tempos em tempos – a exemplo do agora destruído museu, de forma amarga e cruel!


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