Os breves
discursos, que antecediam a declaração de voto dos deputados favoráveis à
aprovação da admissibilidade do processo do impeachment da presidente Dilma
foram acerbamente criticados, pelas homenagens e agradecimentos feitos à
família, aos eleitores e ao respectivo estado, numa oratória que pareceu muito
pobre e sem imaginação, para uso em um momento especial da política e história
do país.
É verdadeira a
crítica. Mas é igualmente verdadeira a crítica (que não foi feita) aos
discursos contrários ao impeachment, que desfiou a mesma “litania do golpe”, do
primeiro ao último deputado, numa repetição igualmente sem imaginação e, em
várias ocasiões, intensamente raivosa.
Os discursos
favoráveis ao impeachment não nos devem surpreender por sua baixa qualidade.
Estavam bafejados pela antecipação da vitória. Não foram pronunciados para nos
fazer pensar...
Já dos
discursos contrários ao impeachment podia-se esperar mais. Qual a razão para os
deputados repetirem a mesma ladainha que Dilma pronunciava nas reuniões que
patrocinava no palácio; a mesma de Lula nos comícios e reuniões; a mesma das
entrevistas dos ministros da casa.
O script dos
discursos era o mesmo porque não fora concebido para expressar uma linha
estratégica, ele era um desabafo.
Acostumado a
demonizar os outros, viciado em ver sua vontade sempre atendida, convicto de
que todos os brasileiros lhes devem muito, decidido a não reconhecer erros, não
exibir nunca a boa e sincera humildade, o “PT do poder” revelou uma grave
deficiência política: não sabe mais como lidar com a derrota.
Refiro-me ao
“PT do poder”para distingui-lo do “PT histórico”. Este sabia perder, reconhecer
a derrota, buscar entendê-la e orientar estrategicamente o comportamento dos
seus militantes e lideranças, levando em consideraçãosuas lições. Se não
soubesse perder (e aprender com a derrota) não teria crescido e chegado aonde
chegou.
O PT de Lula e
Dilma, ao contrário não consegue aceitar a derrota e reage a ela com uma
descarga emocional completamente atípica para um partido de esquerda, cujos
líderes e militantes são treinados para encarar a dinâmica política de forma
impessoal.
De fato, nem
os partidos tradicionais se permitem reações emocionais tão desproporcionadas,
sobretudo de suas lideranças.
A busca de
aprovação para a versão do impeachment de Lula, Dilma e o “PT do poder” é tão
sofregamente procurada que, não sendo aceita no país é preciso busca-la no
exterior.
Somos então
obrigados a ver com constrangimento uma presidente que vai buscar apoio
político no exterior, em entrevistas com jornalistas estrangeiros e, segundo se
diz, em viagem aos EUA, para denunciar o processo de impeachment como golpe,
embora este processo tenha seguidoos passos processuais rigorosamente
prescritos pela legislação existente e com o controle do Supremo Tribunal
Federal.
Se
efetivamente a presidente se prestar a este papel, usando sua posição única
para denegrir as instituições democráticas do Brasil, com o objetivo exclusivo
de manter o poder, estará arrancando seus últimos fiapos de legitimidade.
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