Saída da presidência há treze dias, Dilma Roussef comanda
do Palácio da Alvorada, que ela transformou em bunker, a resistência
democrática contra o golpe que a teria apeado do poder, ainda que
provisoriamente. Como personalidade, Dilma sempre foi uma comunista
confessional. Ela e seus asseclas petistas de fato creem que deixaram o poder
por foça de uma conspiração das elites, de uma súcia da traidores, que tiveram
seus interesses atingidos pelas políticas anticíclicas adotadas por ela na área
da economia. O problema é que tais políticas custaram a Dilma, especialmente
nos dois últimos anos, déficits gigantescos. recessão alta, desaquecimento da
área produtivas e desemprego na ordem superior a 11 milhões de pessoas. Para
salvar as contas públicas, ele passou a criar contabilidade artificiosa e
fraudulenta, isto é, a mentir sobre as contas públicas, fato que já havia sido
detectado por economistas e pelo assustado empresariado paulista em 2013. As
farsas fiscais continuadas do governo Dilma desorientaram a economia, a
inflação passou a tornar-se preocupante, os investimentos sumiram, o
endividamento das pessoas cresceu e o governo perdeu o senso de realidade. Ou
seja, Dilma passou a comandar uma caricatura de governo, sem perspectiva alguma
para os problemas que se acumulavam no pais.
Mas Dilma é Dilma. Ela minimizou a força de milhões de
pessoas que foram às ruas para pedirem seu impeachment, e esqueceu
seletivamente que foi, em seu governo e no governo de seu antecessor e líder
político Lula, que a roubalheira com empreiteiras na Petrobrás se alastrou e
foi escancarada pela Operação Lava-Jato.
Povo na rua, ladroagem bilionária em empresas públicas,
recessão e desemprego formam os ingredientes do impeachment de Dilma, que o
Congresso fez tomar forma, sob a supervisão do Supremo Tribunal Federal. Tudo
conforme o caderninho. Nada de golpe. Tudo conforme a lei.
Mesmo assim, os petistas continuam a puxar a ladainha do
golpismo, revelando para quem não sabia que jamais foram um partido responsável
de governo. Aliás, quando se lê seus últimos documentos, como este mais
recente, do Diretório Nacional do Partido sobre a Conjuntura, volta ao cenário
nacional a confissão da real natureza política do petismo: é um partido
totalitário e revolucionário, de pensamento alinhado à esquerda clássica
comunista. Para sintetizar, o documento afirma, em autocrítica reveladora, que
fracassou em não ter conseguido colocar as forças armadas, a PF, o MPF e o
Judiciário a serviço do partido, deixando estas instituições livres para se
associarem a quem eles chama de “forças conservadoras”. O discurso petista do
golpe se coaduna com esta visão hegemonista do estado, na medida que só por
meio de uma quebra institucional, segundo esta ótica, poderia a burguesia
nacional, as elites ou a classe dominante, apear do poder a força
democrática-popular representada por Dilma e Lula. Os petistas casca grossa
acreditam nisso e aqueles que fanaticamente os seguem, nas universidades, nos
grupos de pressão, na intelectualidade orgânica, que propagam esta ilusão,
porque ela os mantém ativos. como militância, na tentativa desesperada de subverter
a administração Temer. A esquerda radical consagra o conspiracionismo desde
Marx e Engels, que já na Ideologia Alemã (1846), denunciavam a falsa
consciência dos hegelianos de esquerda revolucionários que apenas legitimavam,
no pensamento, a realidade da dominação burguesa. Era necessário, já então,
colocar a prática revolucionária à frente do pensamento e mobilizar as massas
para que atingissem sua verdadeira consciência proletária e revolucionária,
apesar da carga ideológica que impunha a elas a burguesia. Este, segundo o PT,
é o grande problema brasileiro que o partido não soube enfrentar: organizar as
massas por meio do partido e liberarar a consciência revolucionária para fazer
frente as forças do mal.
Marx escreveu muito sobre conspirações, mas a maior delas
era a conspiração permanente da própria burguesia destinada a solapar de modo
sistemático o modo de pensar do proletariado e, assim, manter sua condição de
classe explorada. Para ele, a libertação revolucionária viria quando a
ideologia dominante se tornasse a ideologia da classe operária.
Conspirações e golpes foram pretextos constantes em toda
a história do comunismo, para seus expurgos, assassinatos e genocídios. Lênin e
Trotski, que conduziram o comunismo de guerra, estavam sempre preocupados com a
reação dos socialistas revolucionários e dos camponeses populistas e, com mão
de ferro, extinguiram a oposição aos bolcheviques, ainda na primeira fase da
Revolução de 1917. Stalin era obcecado por conspirações e complôs, a ponto de
expurgar do partido milhares de representantes da esquerda do partido, em
julgamentos humilhantes com o posterior desterro para a Sibéria. Além disso,
via no próprio povo simples potenciais conspiradores e, por isso, criou uma
estrutura policial-política só equiparada a de Hitler. Para ele, todos eram
golpistas em potencial: trsotskistas, sionistas, imperialistas e até médicos
judeus, estes últimos acusados de tramarem a sua morte, pouco antes dela
acontecer, em 1953.
Mao Tse Tung, via sabotagem à sua Revolução onde houvesse
intelectuais, professores e camponeses não reeducados e, assim lançou mão de
chacinas, coletivização forçada e da Revolução Cultural, que, em número de
mortes chegaram a 50 milhões de pessoas. Fidel e Raul Castro, mais Che Guevara,
tinham o mesmo perfil paranoico e por isso destruíram as instituições burguesas
e as pessoas que eles consideravam inabilitadas e possíveis conspiradores
contra a Revolução. O saldo da Revolução foi um país atrasado em todos os
níveis, com mais de mais de 100 mil assassinatos políticos. O mesmo ocorreu no
Caboja, no Vietnam e agora está ocorrendo na Coreia do Norte e na Venezuela,
onde complôs imperialistas e golpes das elites imaginários são usados a todo
momento para justificar a penúria destes países e manter suas populações
sobressaltadas pela quantidade de propaganda massiva do governo.
Para o PT, que representa esta mentalidade do Brasil, é
natural falar em golpe, conspirações e traições. Os petistas não entendem a
linguagem da institucionalidade, porque não são um partido constitucional,
afeito à convivência democrática e à legalidade, Na verdade, quando no poder,
quem conspira, como atestaram o Mensalão e o Petrolão, são os petistas. Sua
natureza é totalitária, exclusivista e hegemonista, Pelos padrões cognitivos dos
petistas, toda a oposição reflete a sua maneira de fazer política e que pode
ser sintetizada pela palavra golpismo, toda a crítica é contaminada pelo
interesse das elites, dos brancos ou dos heterossexuais. Temer é um conspirador
porque assumiu não a cadeira de uma mulher incompetente que estava na
presidência, que arruinou a economia e governou com farsas e roubalheira. Para
os petistas, ela é uma revolucionária que estava transformando o país com
políticas inclusivas, seguindo os passos de Lula. Não nos enganemos. O projeto
petista não está morto, Suas lideranças e militantes usarão de todo o cinismo
para pintar Temer como um reacionário vendilhão do país. Isto não tem a menor
relação com a verdade, mas o PT não opera com a verdade, opera com a sua transgressão,
porque continua alinhado à sua mitologia, incapaz de livrar-se da prepotência
cega do marxismo que encontra em cada opositor um inimigo a ser destruído.
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