A sociedade não aceita aumento da passagem por estar descontente",

A sociedade não aceita aumento da passagem por estar descontente", diz Nelson Marchezan Júnior
Prefeito eleito de Porto Alegre ainda falou sobre reforma administrativa e transparência nas contas públicas

Por: Paulo Germano, Juliana Bublitz e Juliano Rodrigues
01/11/2016 - 02h00min | Atualizada em 01/11/2016 - 02h11min
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O prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), dedicou o dia seguinte à vitória a uma maratona de entrevistas. No início da tarde, o deputado federal conversou com ZH durante cerca de uma hora. Falou sobre alguns dos seus planos para a cidade, embora tenha mostrado cautela com o prazo para colocar as promessas em prática. Antes, quer promover reforma administrativa, mapear os principais problemas e formar a equipe de governo, que ainda está indefinida. O futuro prefeito da Capital disse ainda que quer ser lembrado como gestor transparente e político confiável.

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Confira os principais trechos da entrevista:

Qual será a primeira medida ao assumir?
Não sei exatamente. A gente tem de construir coisas até lá, temos dois meses para construir normatizações internas que deem mais transparência às contas públicas.

Corte de CCs, por exemplo?
A gente fala em reestruturação da gestão. Hoje, a gestão parece estar muito longe. São várias estruturas com status de secretaria, então o problema se dilui, e a solução nunca chega. A pessoa tem um problema que só pode ser resolvido pelo setor público e fica perdida em uma estrutura gigantesca.

Então a primeira medida é cortar órgãos?
Não é cortar, é reorganizar. Vamos buscar técnicas de gestão que possibilitem contato mais direto entre o topo da pirâmide, o cargo que tem posição de decisão final, o prefeito, e aquele que tem o problema a ser resolvido, o cidadão.

O senhor diz que não vai fazer loteamento de cargos, mas que vai avaliar as indicações dos partidos. Como vai ser o processo de escolha dos secretários?
Vai ser por aquele que atender melhor o interesse público. Não só na escolha, mas também na permanência. Tenho contrato assinado com a sociedade. A sociedade me entregou um contrato, que eu já tinha assinado, que são as minhas propostas. Me deu prazo de quatro anos, me deu as metas, aquilo que tenho de fazer, os princípios da gestão. Tenho de buscar o secretariado que atinja essas grandes metas. Tu não podes levar quatro anos para cumprir uma atividade específica na área da saúde, da segurança, da educação. Se essa pessoa que estiver no cargo, independentemente do partido, do sindicato que indicou, de como essa pessoa veio para cá, não cumprir a meta, precisará pedir para sair, porque se ela não cumprir, não vou cumprir a minha meta em quatro anos. Isso é em qualquer empresa.

Se a pessoa não pedir para sair, será demitida?
Ela vai pedir. Vamos conversar e fazer entender. Não é questão de incompetência, mas de, naquele momento, não conseguir atender a missão. Não é questão pessoal, mas de interesse público.

Quanto tempo os secretários vão ter para atingir as metas?
Não tenho como dizer hoje. Não sabemos como vamos dividir as metas e como vai ser a estrutura.

Os secretários serão técnicos?
Me parece que há uma confusão de que político não pode ser técnico. Acho que político que não busca a qualificação técnica perde grandes oportunidades e não merece prosseguir na política. E o contrário também.

Ser ficha limpa será condição para fazer parte do governo?
É uma condição dos princípios e valores que construímos na campanha. Não desenvolvemos isso na prática, mas a pessoa para ocupar cargos tem de ter certificação, seja para ser cargo em comissão ou função gratificada. E que possa ter curso de formação interna na prefeitura. Há servidores que estão lá há muito tempo, alguns com muita qualificação, mas que não tiveram essa oportunidade.

Seu principal aliado é o PP, e o senhor diz não ter "corrupto de estimação". Vai tirar o PP do DEP, onde houve fraude?
Não devemos ter partidos repetidos em secretarias que ocupam atualmente. A ideia é que pessoas que estão em funções agora não sigam nelas.

A Smov (obras) ficou anos sob comando do PTB e do PDT. Há reclamação, inclusive sua, de que as ruas de Porto Alegre têm muitos buracos. Como resolver?
A gente não sabe se a Smov vai continuar sendo Smov. Não sabemos qual vai ser a estrutura de gestão e vou repetir: não tem uma secretaria que a gente possa dizer que vai existir, ou que vá funcionar como está funcionando. Não ventilamos nenhum nome, nem com partidos, nem com entidades. Não é pela indicação que alguém vai ocupar um cargo. A vida real está ruim, a prefeitura está ruim e precisa melhorar. Se fizer do jeito igual, se fizer a mesma coisa, vamos ter os mesmos resultados.

Por que acha que Vanderlei Cappellari, diretor-presidente da EPTC, é tão ruim se diminuiu o número de mortes em acidentes? Ele vai ser demitido?
Não tenho nada contra ele, não o conheço pessoalmente e ele é servidor de carreira. Vou tirar ele da direção porque o conceito da EPTC está equivocado, virou adversária do Uber. Claro que quem comete infrações precisa ser multado. Isso não vai diminuir, talvez até aumente, mas a gente precisa utilizar a EPTC como parceira da sociedade.

O senhor deve alterar a regulamentação do Uber?
Não sei se o prefeito vai vetar algo. Parto do princípio de que as atividades empresariais têm de ter regulamentação para garantir a segurança dos munícipes. Tudo mais que inventar de regulamentar que não seja proteção ambiental, proteção do interesse público, estarei cometendo equívoco.

O Movimento Brasil Livre (MBL) apoiou o senhor na campanha. Ele vai ocupar espaço?
Eles não querem espaço no governo. É uma relação normal com pessoas que representam uma parte da sociedade.

Uma das suas propostas é modificar os pardais para que flagrem carros roubados. O senhor já tem um planejamento?
Não. Ganhei a eleição domingo.

Mas quando o senhor elaborou a proposta, não sabia?
O prazo não. Tenho ideia de custo, de quanto custa fazer o cercamento da cidade, do software.

Qual é a ideia de custo?
As câmeras custam cerca de R$ 4 mil por mês. Fazem a captação com um link para um banco de dados e para atuar com a Polícia Civil e a Brigada Militar, que têm interesse gigantesco porque facilita a vida deles.

Essas parcerias serão feitas no início do governo?
Já conversamos com delegados, comissários, oficiais, soldados. Agora, vamos conversar com os órgãos oficiais. O governo do Estado pode dizer que não quer, mas seria uma situação inaceitável.

A arrecadação vem em queda desde 2014. O senhor pretende buscar ajuda com Michel Temer e José Ivo Sartori?
Do ponto de vista financeiro, acho difícil que Porto Alegre tenha ajuda de um Estado quebrado e de um país em crise financeira. Talvez consiga auxílio técnico.

O percentual de endividamento da prefeitura está em 16,2% da receita, mas o limite legal é de 120%. O senhor pretende fazer novos empréstimos?
Vamos estudar bastante isso. A ideia é que a gente possa usar essa capacidade de endividamento para questões de interesse público. Mas, se a prefeitura tem capacidade de endividamento e não tem como pagar a folha, provavelmente não tem recursos para a contrapartida.


Prefeito eleito afirmou que partidos não devem ocupar as mesmas secretarias nas quais estão hoje
Foto: André Ávila / Agencia RBS
Contratos serão revistos?
Acho que temos de conversar com as empresas de ônibus. Elas já estão dizendo que não conseguem cumprir o que foi contratado na licitação. É uma ótima oportunidade para que se possa rever isso e colocar itens de segurança. Se o ônibus for mais seguro, mais gente vai usar, e o movimento vai melhorar.

Vai romper o contrato?
Não, não dá para dizer isso.

Em 2017, o senhor terá de lidar com a revisão da tarifa de ônibus. É possível negociar?
O prefeito obrigatoriamente terá de conversar sobre isso. Como vai ser a conversa, a gente não sabe. Provavelmente, vai ser uma conversa difícil. O sistema de gestão precisa vir para a prefeitura. A prefeitura precisa ter dados. Esse é um fator importante a ser renegociado.

O senhor tem alguma convicção sobre o aumento da tarifa?
Tenho convicção de que a sociedade não aceita aumento por estar descontente com o setor público.

O senhor vai se posicionar contra o aumento da tarifa?
Seria precipitado falar isso, mas precisamos encontrar alternativas.

A Carris será privatizada se continuar gerando prejuízo?
O conceito é que não pode gerar prejuízo, porque a dona Maria e o seu João, que não têm dinheiro para comer ou para dar comida ao seu filho, não podem pagar R$ 50 milhões de prejuízo pelo luxo de ter uma empresa pública.

O senhor acha que pode melhorar a qualidade do transporte se a Carris for privatizada?
O critério não é esse. O critério é: se a Carris gera prejuízo, a sociedade não tem de pagar esse prejuízo.

Quanto tempo a nova direção terá para salvar a companhia?
Não sei nem os problemas, como vou dar prazo para solucioná-los?

A sua principal promessa na área da saúde é abrir oito postos até as 22h. No primeiro ano, vamos ver isso na prática?
Acho que sim. Agora, como vou responder isso, se ninguém sabe como estão as contas da prefeitura? Desde janeiro, o prefeito diz que talvez não pague os salários. Se ele não consegue dar o planejamento financeiro do ano, como eu, que não estou na prefeitura, vou dar?

O senhor vai saber lidar com cobranças quando for prefeito?
Vou. Vou responder de forma muito simples.

Como o senhor quer ser lembrado como prefeito?
Como um político em quem é possível acreditar.

E que marca quer deixar?

A marca da transparência e da participação da população.

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