Crianças correm grandes riscos na internet - Patricia Knebel
O computador, o tablet e o smartphone se tornaram um objeto de
desejo de 10 entre 10 crianças e adolescentes. Por esses gadgets eles choram,
batem pé e acabam convencendo os pais a ajudá-los a entrar, muitas vezes cedo
demais, no mundo da tecnologia. Mas você já parou para pensar que os simples
hábito de jogar no computador pode estar expondo o seu filho a riscos
seríssimos, como o dele achar que está trocando informações sobre táticas do
game com um menino da sua idade quando, na verdade, está conversando com um
pedófilo? Ou que, ingenuamente, a sua filha está enviando fotos íntimas pelo
Facebook na intenção de conhecer um ídolo? Foi isso que aconteceu recentemente,
quando a tia de uma menina de 10 anos estranhou quando ela pediu uma short de
dormir emprestado e foi averiguar. Descobriu que um perfil falso no Facebook do
fã-clube da cantora Larissa Manoela estava tentando convencer a menina, e
muitas outras, a enviar fotos com roupas curtas sob o pretexto de ter a chance
de conhecer a artista. Golpes como esses acontecem todos os dias. Eles tiram
dinheiro, inocência e paz das crianças e dos seus pais. Conter isso é uma
responsabilidade de todos que as cercam, alerta Daniel Diniz, membro do
Conselho Consultivo do (ISC)2 para a América Latina, que reúne 120 mil
profissionais de segurança cibernética, e do Conselho Administrativo do Center
for Cyber Safety and Education.
Jornal do Comércio - Qual o tamanho dos riscos
aos quais as crianças estão expostas hoje em dia com a internet?
Daniel Diniz -
As crianças correm riscos do tamanho de prédios arranha-céus, ou seja, são
muitos, muito altos e podem trazer consequências trágicas em alguns casos se os
pais, professores e a sociedade como um todo não assumirem seu papel ativo em
protegê-las. Os cibercriminosos estão em uma busca permanente pelos dados dos
cidadãos para obter alguma vantagem financeira ilícita. Os alvos preferenciais
desses criminosos são as crianças e os idosos, geralmente vulneráveis a golpes
conhecidos como engenharia social, em que o golpista procura enganar a vítima
fazendo-a revelar informações sensíveis. As redes sociais geralmente são usadas
no Brasil e em outros países da América Latina por crianças que ainda não
possuem idade apropriada para entender os riscos. Os pais cedem à pressão dos
filhos que, muitas vezes, convivem com amigos na escola que também já utilizam
essas plataformas antes do tempo. Os criminosos usam essas redes para obter
informações de suas vítimas. As crianças também costumam jogar games que
possuem capacidade de comunicação e interação com outras pessoas que fingem ser
da mesma idade. Existem vários casos de pedófilos utilizando esses meios para
cometer seus crimes contra as crianças.
JC - É muito comum hoje em dia vermos
as crianças com tablets e smartphones. Que riscos que chegam por meio desses
dispositivos?
Diniz - Realmente é muito comum os pais presentearem a criança
pequena com um celular ou tablet, e um dos riscos é deixar a capacidade de
instalação de novos aplicativos sob o controle dela. Muitos aplicativos podem
conter o que chamamos software malicioso, os malwares. Este tipo de app
malicioso rouba os dados do celular ou tablet, ou pode ligar câmera e microfone
sem o conhecimento do usuário a fim de monitorar seus passos. Pensando que
nossos filhos possam estar sujeitos a este tipo de ameaça, devemos acordar para
o problema e assumir nossa parte na proteção deles.
JC - Os pais parecem
perdidos sobre como agir em relação à tecnologia e às crianças. Qual o conselho
que você daria para eles tentarem aumentar a proteção?
Diniz - Também tenho a
mesma sensação. Não só os pais estão perdidos, mas todas as pessoas com as
quais as crianças interagem regularmente, como professores, avós, tios, primos
e outros familiares. Isso tem uma explicação: a tecnologia evolui de forma
rápida demais, e o mesmo acontece com as ameaças ao seu uso. As crianças
geralmente são ávidas por tecnologia porque estão em processo de mudança, de aprendizado.
Elas se identificam facilmente com as transformações e as assimilam muito
rapidamente. Os adultos não conseguem acompanhar esse círculo frenético. O uso
consciente e seguro da tecnologia pela sociedade, especialmente pelas crianças,
consideradas altos utilizadores (heavy users), é um grande desafio que estamos
enfrentando no século XXI. É um problema que deve ser combatido todos os dias
pela sociedade, sobretudo com muita informação e debates sobre os riscos que
estamos correndo de forma a embasar a tomada de boas decisões. No caso das
crianças, é fundamental que elas conheçam estes riscos e sejam acompanhadas por
pais, professores e familiares. O principal conselho é: acorde imediatamente
para esse assunto. Seu filho já está correndo riscos que ele e você
desconhecem. Alguns podem trazer consequências amargas pelo resto da vida,
muitas vezes por negligência nossa, pais e/ou responsáveis. Busque informar-se,
leia a respeito do tema e procure aconselhamento com as pessoas em quem você
confia.
JC - Como os pais podem buscar criar um instinto de navegação segura?
Diniz - Criar a cultura de segurança no uso da tecnologia pelas crianças,
adultos e toda a sociedade é adicionar estes hábitos seguros ao dia a dia
delas. À medida que elas incorporam esses hábitos, não importa qual é
tecnologia ou dispositivo usarão, pois já terão o hábito de usar a tecnologia
em seu benefício para aprender, se divertir, se comunicar com a família, mas
sem se expor. Esses hábitos seguros significam para o uso da tecnologia o mesmo
que a higiene para a saúde humana: prevenção. Prevenir-se contra riscos, usando
a tecnologia para o que ela foi realmente criada: melhorar nossas vidas.
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