Artigo, Iracilda Gonzalez - Tragédia da ambição desmedida
Revisito William
Shakespeare (1564-1616) na Tragedia por ele escrita-A Tragédia de Macbeth, que
bem expressa a realidade que estamos vivendo.
A ambição desmedida viola valores, muitas vezes
resultados que foram de árduas conquistas. Faz inversão de costumes que foram
sabiamente constituídos.
A ambição pelo poder de que fala mais especificamente
William Shakespeare , mostra o uso da astucia para eliminar quem quer que
impedisse ao personagem à chegada ao poder absoluto.
Sem nenhum escrúpulo, as mãos são manchadas de sangue
para eliminar as pessoas que são os obstáculos.
Na tragédia de Shakespeare, a pseudoastúcia foi derrotada
pelos adversários e a loucura final e o suicídio foi o fim dos ambiciosos sem
limites. A maldade contida na ambição desmedida tornou inviável a própria
sanidade mental.
Nos dias atuais estamos testemunhando a presença da
ambição desmedida com novas/velhas roupagens, visando sempre um domínio sobre
algo, sobre alguém, sobre um povo, um país. Enfim, uma imposição. Imposição que
é buscada a qualquer preço.
A ideia de se chegar a ser soberano absoluto é perseguida
de maneira feroz. Há a avidez de êxtases inauditos.
A ambição em ser um líder Messiânico, um salvador um
redentor, um enviado divino, como ideal político, é uma ideia de caráter
pessoal, que pode tristemente acontecer, se encontrar terreno propício, como
Hitler encontrou na Alemanha. Contou na época
com o grande “mestre da propaganda”-Goebels; que se encarregou de
mostrar um universo mágico,falso da realidade.Além de outros fatores complexos.
A ambição, em si, é bem vinda quando traz acréscimo ao coletivo,
à ciência, ao conhecimento, ao bem estar
do outro.Quando, porém, é fruto da vaidade, visando vantagens pessoais,sendo
manipulada como se ao bem estar do outro se destinasse, não resiste ao tempo,
que é o grande decantador da humanidade.
Ambição sem pudor anda de braços dados com a corrupção,
não mais como uma questão social e política, mas como um estado de Ser.
Falando isso, registro um fragmento de sessão do STF, em
19/12/2017. Durante um embate com outro ministro, disse o Ministro Barroso: “ Estamos
vivendo uma tragédia brasileira- a
tragédia da corrupção que se espraiou de alto a baixo sem cerimônia.Um país em
que o modo de fazer política e negócios funciona assim: o agente político
relevante escolhe o diretor da estatal ou ministro,com cotas de arrecadação, e
o diretor da estatal contrata, tem licitação fraudada ,a empresa que vai superfaturar a obra ou
contrato público prá depois distribuir dinheiros e aí não faz diferença se foi
para o bolso ou para a campanha porque o problema não é pra onde vai ,é de onde
vem- é a cultura de desonestidade que se cria de alto abaixo com maus
exemplos”... “ sem achar que ricos criminosos tem imunidade, porque não tem”.
Correto Ministro! O embate é saudável.
No entanto, há um diáfano véu que encobre o que está por
trás da retórica. Ambos têm algo na mente que não é colocado. Apesar dos
estilos diferentes, um numa linguagem rude, que não vale a pena comentar, e o
Ministro Barroso mais sofisticado. Mas, nitidamente tem lados, e lados opostos.
Se instalou uma babel. Falam línguas diferentes porque
são diferentes os objetivos. Então aparecem meias-verdades, uma explícita, e
outra, jaz não no inconsciente, mas bem acobertada por uma questão de
estratégia, de pontos de vista, de lados escolhidos.
Quando um Ministro entra na sala, via de regra, a
balburdia cessa, estranhamente lá eles a protagonizaram. Não é sem razão que os
índices mostrados nas pesquisas de opinião vê-se uma descrença com o STF; possuindo a Lava Jato de Curitiba índices melhores de confiabilidade.
Parece fazerem um trabalho que visa o
cumprimento estrito das leis.
Para sair da “cultura de desonestidade”, creio eu, é
importante que se banhem com coragem na água de purificação da consciência e
adquiram coerência e integridade no mais amplo
significado dos termos.
Iracilda Gonzalez
Médica e psicanalista.
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