Débora de Souza Morsch: liquidando patrimônio público para (re)eleição


Débora de Souza Morsch é sócia e diretora da Zenith Asset Management

Um dia útil após a desistência da oferta que venderia as ações excedentes ao controle do Banrisul, foi comunicado que seria feito um leilão em bolsa para a venda das preferenciais do banco. A oferta que foi cancelada seria feita seguindo normas da CVM e com apresentações prévias para investidores estrangeiros com o objetivo de elevar o preço obtido. Já a venda que foi concretizada ocorreu cerca de 24h após o anúncio para o mercado, sem qualquer explicação, apenas com uma definição de preço mínimo de R$ 18 para cada uma das 26 milhões de ações colocadas à venda. Coincidentemente, apenas um comprador levou 70% das ações ofertadas. Parece que alguém fez um bom negócio.

A venda foi concretizada a R$ 18,65 por ação, arrecadando um total de R$ 485 milhões. Poucos dias depois, a ação já atingia R$ 20,52. Ou seja, em poucos dias, o governo deixou na mesa R$ 48 milhões. Que avaliação foi feita para determinar que R$ 18 seria um bom preço de venda?

Em declaração à imprensa, o líder do governo na Assembleia, Gabriel Souza, afirmou que “o que o mercado quer é comprar o patrimônio do banco por preço baixo”, justificando a rapidez no negócio. O prezado deputado está corretíssimo, o que o mercado quer é comprar as ações a preço baixo. E foi exatamente isso que Sartori propiciou ao mercado. Os investidores agradecem, já estão ganhando dinheiro fácil.

Na última sexta-feira, de forma sorrateira, sem qualquer aviso ao mercado ou à população gaúcha, o governo vendeu cerca de 3 milhões de ações ordinárias do Banrisul. A venda ocorreu a R$ 17,65 por ação, 31% abaixo do valor da ação no pregão anterior. Isso mesmo, 31% abaixo. Mais uma vez, o mercado agradece. Enquanto liquida o patrimônio do Estado, o governador trata sua candidatura à reeleição com uma desfaçatez sem precedentes.

Nessas horas fica a dúvida sobre onde estão e para o que realmente servem o Tribunal de Contas e o Ministério Público de Contas. Parecem ter fechado os olhos para essa destruição de valor. O silêncio ensurdecedor da Assembleia também chama atenção. Os nobres deputados que tanto gritam contra privatizações, como no caso recente da CEEE, mostram que, na verdade, pouco se importam com o patrimônio do Estado.

Essa estratégia tacanha e com visão de curto prazo de vender mal o maior e melhor ativo do Rio Grande do Sul tem a clara finalidade de propiciar uma artificial melhora de curto prazo nas finanças, na véspera da eleição, e assim, tentar transparecer para a população que isso ocorreu por mérito do governo do Estado. Essas ações do banco que foram mal vendidas não voltam mais. A população gaúcha e os órgãos de controle de contas ficarão apenas assistindo de camarote a liquidação do resto desse ativo?

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