Artigo, Rodrigo Maroni, deputado Podemos, RS - Sou mais um Coringa pelo mundo.

.Há algum tempo, eu, ainda vereador, subi à Tribuna da Câmara de Vereadores e trouxe ao debate um tema muito temido por todos: saúde mental.
Afirmei veementemente: “Qualquer psiquiatra que me ouvisse por cinco minutos, teria muitos motivos para me internar.”
Fui sincero.
Pessoas mais próximas entendem que não sou adepto a protocolos, não uso filtros e gostaria de não precisar usar “máscaras” para me adaptar a um mundo que não aceita o diferente.
E, por esse motivo, descrevo-me nesse texto. Despindo-me de qualquer preconceito.
Sou cheio de manias, obsessões, agitações, hiperatividade, ansiedades, insônias e muitos momentos depressivos.
Por que resolvi tirar as “máscaras” que uma vida em sociedade impõe? Porque não me constranjo em demonstrar minhas fragilidades, minha intolerância por “salas de jantar” por cafés da manhã servidos por príncipes.
O que me constrange é acreditar que uns podem ter tudo e outros, nada, e mesmo assim a sociedade entender que está “ok”.
Óbvio que até pela minha sobrevivência eu faço terapia como prioridade.
Vamos tirar as máscaras e dar a real?
No meu ambiente de trabalho, por exemplo. A política. Há os que se utilizam de todos os tipos de drogas, lícitas e ilícitas, para manter a “figura pública”, e há os vaidosos, esses sim, os piores viciados que existem.
Muitos escondidos nesses vícios, e que poderiam ser tratados em terapia.
Não há como negar que a vaidade é inerente ao ser humano.
É preciso se observar constantemente.
A vaidade somatizada a ambientes de poder é uma bomba relógio para o ser humano.
O poder te deixa refém da vaidade, e se alimenta com a exibição, o prestígio, o “vip”.
Os aplicativos mais utilizados, hoje, são os que propiciam a exibição: Facebook, Instagram, “youtubers”, pois é necessário ser celebridade para ser sinônimo de sucesso. Ser reconhecido.
E é nesse caminho que a política anda. Política + poder + exibição. Prato cheio para alimentar a vaidade.
Sou questionado diariamente: “Rodrigo, tu és político, é necessário ter rede social.”
Pra quê? Se o que realmente quero é uma humanidade menos narcisista, mais solidária, e que eleja pessoas que pensem no coletivo e não pelas postagens mascaradas que lemos diariamente.
O que se caracteriza pela personalidade narcisista?
"Transtorno de personalidade narcisista é caracterizado por um padrão invasivo de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia, que começa na idade adulta e está presente em uma variedade de contextos. Indivíduos narcisistas são caracterizados por fantasias irreais de sucesso e senso de serem únicos, hipersensibilidade à avaliação de outros, sentimentos de autoridade e esperam tratamento especial. Frequentemente apresentam sentimento de superioridade, exagero de suas capacidades e talentos, necessidade de atenção, arrogância e comportamentos autorreferentes. Exibem exagerada centralização em si mesmos, geralmente acompanhada de adaptação superficialmente eficaz, adaptam-se às exigências morais do ambiente como preço a pagar pela admiração; porém, tem sérias distorções em suas relações internas com outras pessoas", segundo o psiquiatra Lucas Romano.
Seguramente muitos, principalmente em ambientes que propiciam visibilidade ou poder - em todas áreas - se encaixam na personalidade narcisista.

E por isso me identifiquei com o Coringa, personagem impactante e que me fez rever a minha história.
Muito pelo que é relatado e roteirizado pelo diretor Todd Philips de forma genial: escancara (sem filtro) uma sociedade que está doente.
E, também, porque acho que todos nós temos “ bagagens no porão” como o falido comediante Arthur Fleck, e que necessitam de máscaras para estarem escondidas. Não darão “likes”.
Dentro de uma sociedade que “bate” diariamente nos pobres, cujo sorriso é mais de desespero do que de felicidade, sinto-me no papel do coringa, que expõe sua personalidade sem filtro ou constrangimento.
Como o Coringa, sinto que “as pessoas só gritam e berram umas com as outras, ninguém nunca é educado! Ninguém pensa como é estar no lugar do outro cara".
Contudo, no final do filme, o caos se inverte, ao invés da vaidade extrema e a riqueza ser sinônimo de “vencer na vida”, o grande Coringa, com todas as suas fragilidades expostas, é o grande representante dos sentimentos mais profundos de uma humanidade que almeja outros exemplos para sobrevier.
Rodrigo Maroni - Deputado Estadual

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