Votar de novo

 Votar de novo 

Astor Wartchow

Advogado

Sistema político representativo em crise não é uma particularidade  brasileira. O mesmo sentimento de inoperância e decepção popular também é percebido em outras nações. 

Não em defesa de nossa "geléia" geral, mas explicando e justificando a confusão, devemos observar que a atualidade mundial é de absoluta inquietude, inconstância e com graves crises cíclicas. 

São eventos sociais e econômicos negativos que começam discretos, locais e setoriais, para logo, logo, serem escandalosos, interregionais e gerais.

A freqüência das crises e suas características diferenciadas têm causado grande confusão nos governos, nos partidos políticos e naquilo que identificávamos até então como suas convicções ideológicas.

Dito de outro modo, na essência, nem o mercado tem a capacidade de auto-regulação, e nem o estado tem o poder de resolução e “apagar incêndios”. Mas, tanto em uma e outra hipótese, há graves efeitos colaterais sociais.

Entre nós brasileiros, as faces mais freqüentes da degradação do processo político-partidário têm sido o clientelismo, a corrupção e o cinismo. Conseqüentemente, não é à toa que a população rejeita e hostiliza a política. Os jovens, por exemplo, em sua maioria, a menosprezam e ignoram. 

Por razões formais, o que mantém as aparências e dissimula nossa crise de representação é a obrigatoriedade do voto. Parênteses: na verdade, é obrigação de presença, admitida a justificativa por ausência. 

Logo, desinteresse popular, abstenção e voto nulo (e branco) funcionam como forma de crítica e denúncia de métodos medíocres. Práticas que não oferecem alternativas, que confundem a opinião pública, e que, dia após dia, tornam os partidos cada vez mais iguais entre si. 

Há dois aspectos extremamente danosos na política brasileira. Primeiramente, o Estado é muito centralizador e arrecadador. Logo, há poder e dinheiro demais em Brasília. O resultado é corrupção e má-gestão.

O segundo ponto diz respeito ao Poder Legislativo. Teoricamente, um poder soberano. Mas, na prática, predominantemente submisso ao Poder Executivo. 

Logo, em moto contínuo, resulta que não há mais representantes dos interesses populares e fiscais da execução orçamentária. Direta ou indiretamente, o objetivo de parlamentares é fazer parte do governo. 

Diante do continuado descrédito e frustração com a "geléia" político-partidária, a pergunta popular predominante sempre era a seguinte: em quem votar? Mas, ultimamente, a pergunta é outra: por que votar? 

Repito, o que mantém as aparências formais e dissimula nossa crise de representação é a obrigatoriedade do voto!

 

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