Artigo, Marcelo Aiquel - O "circo" do julgamento

O “CIRCO” DO JULGAMENTO

         Assistimos, ao vivo e em cores, o roteiro surreal de um grande “circo”, armado no Senado Federal para o ápice do processo de impeachment da afastada presidente Dilma.
         Tivemos todos os ingredientes necessários para o espetáculo circense acontecer de forma completa.
         Como um bom picadeiro pede, não faltaram palhaços para divertir a plateia. Alguns de terno e gravata, outros usando vestidos e colares. Em comum, todos repetiam as mesmas surradas brincadeiras, previa e demoradamente ensaiadas sob a batuta de um ultrapassado e incompetente professor. Um palhaço à moda antiga, que nos dias atuais somente consegue arrancar risos de uma claque através de remuneração, quitada sempre de forma antecipada.
         Mas, o circo também teve animais ferozes. Animais que nutriam um ódio selvagem, rugindo raivosamente contra qualquer um que ousasse olhar nos seus olhos, caminhar próximo às suas jaulas, ou tocar na sua comida.         Brigavam pela sua sobrevivência...
         E não faltaram os malabaristas. Medíocres e decadentes mambembes, que fizeram tudo o que sabiam e podiam para tentar equilibrar-se numa corda bamba. Bamba e maltrapilha. Assim mesmo agradaram aos seus mais ferrenhos fãs, que festejaram o triste espetáculo levando às lágrimas estes artistas.
         Ah, e não podiam faltar os espectadores. Em camarotes VIP sentaram personalidades de renome. Com olhar e cara de paisagem, procuravam demonstrar que estavam gostando do show. Em vão!
         Privados – que foram – de se manifestar ruidosamente a cada movimento do espetáculo, estes espectadores VIP sucumbiram à pobreza do show que sonharam apreciar.
         Sentindo-se abandonados e pouco valorizados, os palhaços e os malabaristas convidaram – para o outro dia de espetáculo – algumas pessoas amigas para dar uma “apimentada” no comportamento da plateia. E realmente houve certo resultado, pois estes poucos e envergonhados convidados inovaram com discretas vaias, apupos e ofensas aos artistas que eram estranhos à trupe do circo. Que, por sinal, demostraram ser muito mais preparados e competentes do que seus colegas de show.
         E o espetáculo seguiu até que o pesado e velho paquiderme – outrora um agressivo e por vezes dócil animal – se arrastou pelo chão e não mais levantou, para tristeza dos palhaços e malabaristas que o consideravam o mais forte de todos, dono de uma longa história de luta e sofrimento.
         Quando o povo voltava para casa, se podiam escutar os comentários da plateia. Enquanto um grupo (pequeno, porém barulhento) alardeava que os “seus velhos ídolos” foram melhores e que a falta de sucesso do circo se deu exclusivamente por causa do rigor das novas leis; a maioria aceitava – até com alívio – que o espetáculo circense tenha chegado ao seu ocaso.
         Porque a partir de agora, com as novas regras, cessaria o abuso aos animais e os palhaços teriam que inovar para divertir a plateia, cada dia mais exigente e menos ignorante.
         Pois, distribuir pipoca grátis na entrada deixou de ser a garantia de aplausos.
         Com a atenção da polícia, o dono do circo não pode mais contar com a cascata de dinheiro que recebia por meios escusos.

         E, assim, aquele circo parou de funcionar, eis que nem nos arrabaldes o veneram mais!

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