O “CIRCO” DO JULGAMENTO
Assistimos, ao vivo e em cores, o roteiro surreal de um grande “circo”, armado
no Senado Federal para o ápice do processo de impeachment da afastada
presidente Dilma.
Tivemos
todos os ingredientes necessários para o espetáculo circense acontecer de forma
completa.
Como um
bom picadeiro pede, não faltaram palhaços para divertir a plateia. Alguns de
terno e gravata, outros usando vestidos e colares. Em comum, todos repetiam as
mesmas surradas brincadeiras, previa e demoradamente ensaiadas sob a batuta de
um ultrapassado e incompetente professor. Um palhaço à moda antiga, que nos
dias atuais somente consegue arrancar risos de uma claque através de
remuneração, quitada sempre de forma antecipada.
Mas, o
circo também teve animais ferozes. Animais que nutriam um ódio selvagem,
rugindo raivosamente contra qualquer um que ousasse olhar nos seus olhos,
caminhar próximo às suas jaulas, ou tocar na sua comida.
Brigavam pela sua sobrevivência...
E não
faltaram os malabaristas. Medíocres e decadentes mambembes, que fizeram tudo o
que sabiam e podiam para tentar equilibrar-se numa corda bamba. Bamba e
maltrapilha. Assim mesmo agradaram aos seus mais ferrenhos fãs, que festejaram
o triste espetáculo levando às lágrimas estes artistas.
Ah, e
não podiam faltar os espectadores. Em camarotes VIP sentaram personalidades de
renome. Com olhar e cara de paisagem, procuravam demonstrar que estavam
gostando do show. Em vão!
Privados
– que foram – de se manifestar ruidosamente a cada movimento do espetáculo,
estes espectadores VIP sucumbiram à pobreza do show que sonharam apreciar.
Sentindo-se abandonados e pouco valorizados, os palhaços e os malabaristas
convidaram – para o outro dia de espetáculo – algumas pessoas amigas para dar
uma “apimentada” no comportamento da plateia. E realmente houve certo
resultado, pois estes poucos e envergonhados convidados inovaram com discretas
vaias, apupos e ofensas aos artistas que eram estranhos à trupe do circo. Que,
por sinal, demostraram ser muito mais preparados e competentes do que seus
colegas de show.
E o
espetáculo seguiu até que o pesado e velho paquiderme – outrora um agressivo e
por vezes dócil animal – se arrastou pelo chão e não mais levantou, para
tristeza dos palhaços e malabaristas que o consideravam o mais forte de todos,
dono de uma longa história de luta e sofrimento.
Quando o
povo voltava para casa, se podiam escutar os comentários da plateia. Enquanto
um grupo (pequeno, porém barulhento) alardeava que os “seus velhos ídolos”
foram melhores e que a falta de sucesso do circo se deu exclusivamente por causa
do rigor das novas leis; a maioria aceitava – até com alívio – que o espetáculo
circense tenha chegado ao seu ocaso.
Porque a
partir de agora, com as novas regras, cessaria o abuso aos animais e os
palhaços teriam que inovar para divertir a plateia, cada dia mais exigente e
menos ignorante.
Pois,
distribuir pipoca grátis na entrada deixou de ser a garantia de aplausos.
Com a
atenção da polícia, o dono do circo não pode mais contar com a cascata de
dinheiro que recebia por meios escusos.
E,
assim, aquele circo parou de funcionar, eis que nem nos arrabaldes o veneram
mais!
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