“A condenação de Dilma Rousseff no julgamento realizado
no Senado Federal, sob o comando do presidente do Supremo Tribunal Federal,
inaugura um novo momento na política nacional.
O impeachment é legal, mas não resolve todos os problemas
do Brasil. O impeachment encerra mais um capítulo doloroso da história política
brasileira. É uma página a ser virada, mas não esquecida. Dela, é preciso
extrair lições para o futuro, para que o país não reincida nos mesmos
descaminhos que levaram ao descrédito grande parte da classe política.
A OAB lamenta que a presidente eleita não possa terminar
seu mandato. Mas a Constituição é clara ao estabelecer que o impeachment é a
punição correta para o chefe de Estado que comete crimes de responsabilidade. É
preciso respeitar e aplicar a lei.
Toda a sociedade precisa contribuir para que o Brasil
supere a crise ética. Não se pode reclamar das falhas dos políticos e dos
poderosos sem adotar, no cotidiano, atitudes concretas para tornar o país
melhor. A população não pode se mobilizar só quando as crises chegam a níveis
insustentáveis. Cidadãs e cidadãos devem participar da vida pública, tomar
consciência que o voto tem consequências. É preciso conhecer muito bem o
histórico dos que se propõem a assumir cargos eletivos antes de votar. A
eleição para prefeitos e vereadores deste ano é mais uma oportunidade para
retirar das prefeituras e das câmaras municipais os políticos que não honram o
voto recebido.
Apesar da grande responsabilidade das cidadãs e dos
cidadãos, a responsabilidade da classe política é maior. Eleitos para liderar a
sociedade, os políticos precisam apresentar bons resultados e bons exemplos.
O novo governo, que chega ao poder pela via
constitucional e não por ter vencido uma eleição, precisa conquistar a
confiança da população e se pautar por valores distantes daqueles que fizeram o
governo anterior perder o apoio da sociedade, chegando a níveis de aprovação
mínimos.
Não se pode mais confiar a condução da coisa pública a
quem tem um passado repleto de desserviços à nação ou está sob investigação.
Também não se pode mais ignorar as necessidades urgentes da sociedade, como a
melhoria imediata dos serviços básicos de saúde, educação, segurança e acesso à
Justiça. Retirar recursos dessas áreas significa jogar a conta dos problemas
econômicos no colo da parcela mais vulnerável da população.
Neste momento, é preciso repudiar as tentativas de
alterações casuísticas na Constituição. As perspectivas de melhoria são reais,
mas dependem do respeito ao arcabouço legal e aos valores democráticos e
republicanos.
Esses são os motivos que levam a OAB a exercer, de forma
ativa, o papel que lhe foi atribuído pela Constituição: o de ser guardiã da
própria Carta e também dos direitos e garantias individuais. Nesta
quarta-feira, o Senado deu um bom exemplo ao decidir aplicar a penalidade
estabelecida pela Constituição para manobras fiscais que esconderam da
população a real situação do país e provocaram grande prejuízo econômico e
institucional.
A OAB não se furtou a dar um parecer técnico mostrando a
legalidade do impeachment. Ele foi elaborado em ampla consulta aos
representantes legítimos da advocacia brasileira, eleitos pelo voto direto dos
quase um milhão de advogados e advogadas do país. A Ordem dos Advogados do
Brasil também não se absteve de apontar as falhas do governo interino, assim
como pediu formalmente o afastamento do então presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, e a cassação do ex-senador Delcidio do Amaral. Agora, a OAB continuará
vigilante para que a Constituição e os direitos dos cidadãos sejam respeitados.
Sem política, não há democracia. Não é hora de
ressentimentos ou revanches. É preciso um consenso em torno do bom senso, que
ponha em debate todo o sistema eleitoral. É hora de clamar aos representantes
da nação para que, acima das divergências político-ideológicas, essência do
regime democrático, se unam em torno do desafio comum de reformar a política,
tornando-a mais em consonância com a nobre missão que tem, de ser o fio
condutor do Estado democrático de Direito.”
Fico feliz em saber que a OAB não se furta ao seu papel de proteger nossa Constituição. Desta forma, fica minha pergunta: como a OAB se posicionará perante a ultrajante forma como o Senado não cumpriu o que está nela declarado de forma clara e explícita sobre a questão da inabilidade política da ex-presidente Dilma Roussef? É uma questão extremamente irrelevante, uma vez que toda a população brasileira está estupefata quanto ao uso manipulativo da nossa Constituição em prol de interesses próprios e escusos pela cada vez menos confiável classe política do nosso país. Como foi amplamente colocado: Cuspiram e rasgaram nossa Constituição. Perante isso, penso que a OAB não tem o direito e nem o interesse de se esquivar de se posicionar e agir, cumprindo, como bem colocou seu presidente, sua missão de salvaguardar nossa Carta Magna. Realmente espero que a OAB não se cale.
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