Artigo, Tito Guarniere - A implosão do Fies
Em 25 de novembro de 2015 publiquei um artigo sob o
título de “FIES, bomba de efeito retardado”. Os sinais de que o Fundo de
Financiamento Estudantil-FIES estava fazendo água já eram bem visíveis. Não era
preciso ter o dom da vidência para adivinhar que ia dar rolo, e dos grandes.
O programa era todo errado. Se o governo de então
(Dilma) quisesse bolar um plano para perder dinheiro em um projeto de
financiamento estudantil, não poderia ter sido mais competente. O financiamento
era de 100% da anuidade e os juros negativos. E não bastassem essas benesses, o
aluno de uma faculdade de quatro anos teria 15 anos para pagar, depois de
formado!
Era um programa de pai para filho, mas o pai teria
de ser muito rico e perdulário, o que não era o caso. Governantes em geral - e
os do PT em particular - ficam meio ensandecidos diante de recursos do
orçamento, que lhes parecem inesgotáveis. Cheios de amor para dar e de votos a
conquistar, abrem os seus próprios corações, e mais ainda as burras do
tesouro.
A primeira distorção era o financiamento de 100%:
em financiamento de médio e longo prazo, todos sabem - menos o governo Dilma -
que é uma regra de ouro exigir uma contrapartida de recursos próprios. No caso,
seria bem simples: cobrar do aluno, digamos, 20%, e financiar o restante,
80%. Na ânsia de agradar o distinto público (em 2014, ano eleitoral,
foram concedidos 732 mil créditos estudantis) o governo preferiu a “bondade” do
financiamento total. Bondade essa, claro, com o chapéu alheio.
O beneficiado com o financiamento integral, para
pagar depois de formado, em breve estará tentado a pensar que a escola superior
é gratuita, um direito seu, e não uma obrigação que ele contraiu e tem o dever
de pagar, ainda que em futuro distante.
Os juros negativos se tornaram uma atração extra
até mesmo para alunos que tinham capacidade de pagar. A maior das instituições
de ensino brasileiro, a Kroton, anunciava orgulhosamente e com a maior cara de
pau em seu site: “A taxa de juros é tão baixa que vale a pena contratar (o
FIES) mesmo que você tenha dinheiro para pagar o curso. Se você colocar
na poupança o dinheiro que iria usar para pagar a faculdade, acaba tendo
lucro”.
Que tal? O aluno, mesmo tendo recursos para pagar,
tomava o financiamento, aplicava o dinheiro, e viria a frequentar faculdade não
apenas gratuita, mas lucrativa! Claro, quem pagou a farra fomos você, eu, nós,
os otários em geral.
E hoje em dia como está o programa? Bem, o programa
hoje em dia apresenta um índice assustador de inadimplência: 53%. Ou seja,
apesar de todas as facilidades e concessões, mais de metade dos beneficiados do
FIES não pagam. Devem ter incorporado o discurso de que a educação, como a
saúde, é direito de todos e dever do Estado, como adoram dizer os petistas e
aliados.
O FIES será mais um desses rombos abissais,
irrecuperáveis, espetados na conta do povo brasileiro, gerado por um projeto de
poder sem limites e sem escrúpulos, pela demagogia e irresponsabilidade fiscal,
pela ideia de que o Estado deve tudo dar e conceder, o ensino, a saúde, o
desenvolvimento, a felicidade geral.
titoguarniere@terra.com.br
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