Primeiramente, fora Lula!, (por RICARDO NOBLAT, em O
GLOBO)
Publicado em 16/04/2017 14:05 e atualizado em 17/04/2017
09:51
Lula viveu de obséquios. Vive. O dinheiro não o atrai. A
rotina da política, tampouco. O conforto e as facilidades, sim. Terceiriza a
missão de obtê-las
Quem foi Marcelo Odebrecht? O mandachuva do país durante
o reinado do PT? O chefe de uma sofisticada organização criminosa? Ou o “bobo
da corte” afinal preso e forçado a delatar?
E Lula, quem foi? O primeiro operário a chegar ao poder?
O maior líder popular da História? Ou o presidente que fez da corrupção uma
política de Estado?
Marcelo será esquecido. Luiz Inácio Odebrecht da Silva,
jamais.
Em dezembro de 1989, poucos dias após a eleição do
presidente Fernando Collor de Melo, o deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP),
ex-condestável do novo regime, almoçava no restaurante Piantella, em Brasília,
quando entrou a cantora Fafá de Belém, amiga de Lula. “Como vai Lula?”,
perguntou Ulysses. Fafá passara ao lado dele o domingo da sua derrota para
Collor.
E contou: “Lula ficou muito chateado, mas começamos a
beber e a comer, os meninos foram para a piscina e ele acabou relaxando”.
Ulysses quis saber: “Tem piscina na casa de Lula?” Fafá explicou: “Tem, mas a
casa é de um compadre dele, o advogado Roberto Teixeira”. Ulysses calou-se.
Depois comentou com amigos: “O mal de Lula é que ele parece gostar de viver de
obséquios”. Na mosca!
Lula viveu de obséquios. Vive. O dinheiro não o atrai. A
rotina da política, tampouco. O conforto e as facilidades, sim. Terceiriza a
missão de obtê-las.
O poder sempre o fascinou. E para conquistá-lo e
mantê-lo, mandou às favas todos os escrúpulos que não tinha.
Os que o cercam em nada se surpreenderam com a figura que
emerge das delações dos executivos da Odebrecht.
É um pragmático, oportunista, que se revelou um farsante.
Emilio, o patriarca dos Odebrecht, decifrou Lula muito antes de ele subir a
rampa do Palácio do Planalto. Conquistou-o com conselhos e dinheiro.
Perdeu nas vezes em que ele foi derrotado. Recuperou o
que perdeu e saiu com os bolsos estufados quando Lula e Dilma governaram.
Chamava-o de “chefe”. Emílio era o chefe.
Nos oito anos da presidência do ex-operário que detestava
macacão e sonhava com gravatas caras, o país conviveu com o Lula que pensava
conhecer e, sem o saber, também com Luiz Inácio Odebrecht da Silva, só
conhecido por Emílio e alguns poucos.
“Cuide do meu filho”, um dia Lula pediu a Emílio. Que
retrucou: “Cuide do meu também”. Emílio cuidou de Fábio. Lula, de Marcelo.
De Lula cuidaram Emílio e Marcelo, reservando-lhe uma
montanha de dinheiro em conta especial para satisfazer-lhe todas as vontades.
Lula retribuiu com decisões governamentais que fizeram a Odebrecht crescer
muito mais do que a Microsoft em certo período.
A Odebrecht pagou a Lula, e Lula pagou a Odebrecht, com a
mesma moeda – recursos públicos. Quem perdeu com isso?
A Odebrecht ganhou mais dinheiro à custa de Lula do que
ele à custa dela, mas Lula foi mais esperto. Criou seu próprio banco,
administrado pela empreiteira. E quando precisava sacar, outros o faziam em seu
nome.
Imagina não ter deixado impressões digitais nas
negociatas em que se meteu. A polícia já identificou muitas. E outras serão
identificadas antes do seu depoimento em Curitiba.
Corrupção mata. Mata sonhos, esperanças, alucinações.
Mata o passado, o presente e compromete o futuro. Mata também de morte morrida
à falta de saneamento, hospitais, escolas, segurança pública. A impunidade mata
tanto ou mais.
hora e a vez são
da Justiça. E ela será julgada pelo que fizer ou deixar de fazer.
Noblat disse tudo. Pra que comentário?
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